quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Saudade de tudo

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Remexendo em fitas velhas, fitas cassete, ouvimos aqui em casa gravações que mereciam estar em um museu de tão antigas! Meus primos e eu cantando, adaptando jingles, fazendo entrevistas , imitando personagens de novela etc

A parte das propagandas para mim foi a mais engraçada.  Propagandas que eu nem me lembrava mais voltaram à mente com seus jingles deturpados por crianças altamente criativas.

A senhora que trabalha aqui em casa há mais de vinte anos , hoje, durante o meu café da manhã, olhou para mim com uma nostalgia extremamente carinhosa, dizendo que as meninas de 12 anos hoje namoram. Que não brincam mais como eu brincava.

Mas neste post , o que me interessa mesmo, é falar sobre as raízes da alma. Sobre as vozes dos meus primos gravada em velhas fitas cassete e ao ouvi-las , sentir que tudo aconteceu ontem.

Prosear no café da manhã com uma pessoa que me conheceu quando tinha apenas 16 anos de idade.

Sim, ter raízes é o que nos sustenta , o que nos segura nos momentos turbulentos da vida. Sentir-se integrada num contexto afetivo maior nos faz rever e repensar as nossas tristezas atuais. Nos faz entender que nem todas as perguntas tem respostas. Nos fazer sentir que é preciso seguir sempre em frente , pois apesar dos desencontros e amarguras, somos queridos e amados.

Hoje , depois do café , conversei pelo Facebook com uma prima muito amada e hoje à noite receberei parentes que quero muito bem aqui em casa. De repente , aquelas vozes antigas eternizadas em fitas velhas, me fizeram sentir saudade de tudo.  De mim mesma. Da minha infância com gosto de brigadeiro. Dos sábados à noite , regados à pizza e brincadeiras. Os adultos filosofando e tomando vinho na sala , despejando a alma sobre a mesa de jantar e as crianças criando o seu colorido mundo à parte.

Sinto saudade dos teatrinhos. Sinto saudade de brincar de detetive e gato mia.  Sinto saudade dos filmes que assistíamos juntos. Das roupas que emprestávamos umas para as outras. Sinto saudades das conversas sussurradas antes de dormir.   Como diria Dora do filme Central do Brasil, sinto saudade de tudo.




Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 

4 comentários:

  1. Como "Alice no País da Maravilhas". As vezes termos que nos perder para que possamos nos reencontrar. É como uma reler um livro. Encontrar aquilo que não vimos da primeira vez.

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  2. Tem momentos que a gente sente um vazia por dentro ( não, não é o vazio de fome!). E encontrar com alguém que nos conhece tão bem nos traz uma sensação tão aconchegante.
    No começo do mês eu fui ao centro do Recife. Estava aquela agitação devido as preparação do carnaval. Eu fui numa antiga instituição onde eu tinha feito um curso em 2011. E quando eu entrei e
    recontrei alguns rostos famíliares foi como se eu estivesse voltado pra casa.E isso me deixou bastante emocionada. A vida e seus reencontros.

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    1. Quando passei por um momento muito triste da minha ( abril do ano passado) uma prima minha me enviou um vídeo pelo inbox do Facebook. Era um vídeo sobre uma novela que a gente gostava e escreveu que apesar do meu mau momento, eu já tinha vivido muitas coisas boas e que ela havia feito parte de algumas delas. Pensei muito neste comentário para escrever este post.

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