quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Simpatias para 2017

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



Não pensem, caro leitor , que não acredito em simpatias. Algumas são até bacaninhas. Sim, simpatias têm o poder de dar uma sacolejada na nossa modorra emocional. Com a fé em futuras realizações, a gente acaba fazendo as coisas mesmo.

Por isso, decidi ensinar algumas das minhas favoritas. Nada que envolva coisas nojentas , bizarras ou difíceis de encontrar.  Sim, caro leitor , você não precisará se deslocar até uma feira hippie da Vila Nheco Nheco para comprar uma erva rara e fedida para fazer uma das minhas simpatias.

Uma ou duas horas antes do ano novo, coma uma comida que você realmente goste, acompanhada por uma bebida que seja deliciosa na sua opinião.

Coma a tal comida e beba a tal bebida , com sapatos bem confortáveis, de preferência Havaianas ou rasteirinhas compradas numa loja em que o sapato mais caro custa 49, 90 reais. Não sei dizer o porquê, mas sapatos comprados em lojas populares costumam ser bem mais confortáveis. Talvez , seja pelo fato de pessoas pobres precisarem andar. Fico imaginando as executivas que vão comer o c... dos seus colaboradores às nove da manhã , calçando saltos dez se precisassem andar mais do que os três passos que as separam do carro com ar condicionado do elevador da empresa.

Por tal motivo, quem não precisa enfrentar  ônibus , metrô lotado , trenzão e caminhadas debaixo de um sol de 47 graus não deve dar lições de etiqueta e de como se vestir para quem vive a vida real. Deixar de ouvir estas pessoas , deixar de seguir modismos histéricos é outra boa simpatia para viver qualquer ano de forma menos infeliz.

Mas voltando ao réveillon... vista uma roupa igualmente confortável. De preferência uma que você já tenha. Você pode não acreditar , mas evitar faturas muito altas no cartão de crédito para o mês de janeiro é uma bela maneira de atrair "boa sorte". Quer descomplicar o novo ano? Pegue aquele seu shortinho jeans mesmo , uma regatinha que esteja menos empipocada e be happy!

A mais importante de todas as simpatias: evite festas com pessoas que estão cagando e andando para você. Evite aquela sensação de entrar no novo ano se sentindo um zero à esquerda.  Eu não sei da parte de vocês , mas da minha , não preciso que ninguém faça cara de quem está sentindo cheiro de peido para me sentir um zero à esquerda. Esta é uma arte que domino bem.  Durante o ano inteiro , precisamos lidar com gente que está cagando e andando para nós. Faça algo original no réveillon!

E se você tiver lido pelo menos dez livros que não sejam de autoajuda nem tenham sido exigidos no vestibular , evite também confraternizações em que bolsas e dietas sejam os temas mais complexos a se discutir.

E se você é do tipo que não troca um cérebro inteligente com um cáustico senso de humor por um bonitinho que tem como frase mais profunda "O fulano é um cara do bem e tudo de bom é ser feliz", evite aqueles seus "amigos do bem gente boa pra caralho" porque além de se sentir irritado, você ainda pode ser acometido por um pegajoso sentimento de culpa , que você herdou das aulas de catequese , enquanto a sua professora cuspia nos seus óculos ou falava da bondade de Deus com sangue nos olhos.

Sim, podemos nos sentir culpados quando percebemos que ervilhas e nabos pensam com mais irreverência do que  amigos que foram importantes para nós em algum momento da nossa vida .

E falando em culpa , não se sinta culpado por não estar seguindo as tradições. Não se sinta culpado por não comer lentilhas nem romãs. Não se sinta culpado por não usar roupa branca nem nova. Não se sinta culpada por estar vestindo aquela lingerie  usada que você ama , que traz milhares de boas recordações e conhece de cor e salteado o formato  atrevido do seu bumbum.  Não se culpe por vivenciar um tipo de alegria que não está na moda. Nenhuma vida cabe numa selfie.  E se a sua couber, meu Deus! Nada a declarar.





 
 
 

 
 
 







 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




terça-feira, 27 de dezembro de 2016

O réveillon perfeito!

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Esqueça , caro leitor, tudo o que você aprendeu e ouviu falar sobre um réveillon perfeito . Esqueça as ondas do mar , caso você não pratique uma das religiões reencarnacionistas.

Esqueça o vestidinho branco, as sandálias prata.  Esqueça a transloucada ida ao shopping no último dia do ano. Esqueça o desespero para perder 5 quilos em menos de uma semana. Esqueça a paranoia de perder 210 gramas para se sentir bonita dentro do shortinho branco todo desfiado com cara de roupa velha , que você vai precisar pagar em 6 vezes de 307 reais.

Esqueça as lentilhas e as romãs. Existem frutas bem mais saborosas e suculentas.  Coma uma boa pratada de lentilha só se você gostar mesmo da iguaria . Caso contrário, coma feijão, coma ervilha, coma milho verde , coma cachorro quente. Enfim, coma o que te der na telha. 

Esqueça o restaurante que vai cobrar 1006 reais por pessoa para beber champanhe de segunda e comer um assadinho meia boca , meio seco,  acompanhado por um purê de qualquer coisa com gosto de papel e flores comestíveis. Sim, em datas festivas , come-se lixo a preço de luxo nos restaurantes badalados. Não entendo o que as pessoas têm contra uma boa lasanha ou estrogonofe feito em casa. Não entendo por que as pessoas não podem comer um bom prato de carpaccio ou uma tábua de queijos ou até mesmo um macarrão ao molho Alfredo ( daqueles de vidrinho mesmo. Deliciosos!) na noite de réveillon.  Empadinhas!  Imagina comer empadinhas no réveillon? Sim, isso sim é desprendimento e senso de liberdade. Isso sim é irreverência e capacidade de viver fora dos padrões!

Comer empadinhas ou pasteis no réveillon, vestindo uma roupa escura e usando calcinhas meio esgarçadas.  Calcinhas esgarçadas são como namoro antigo: perderam o glamour, mas são confortáveis para c...rsrs

Esqueça qualquer tipo de simpatia ou superstição. Escute uma música que você goste, caso goste de escutar música. Veja um bom filme . Pode ser um ruim também, caso você prefira filmes bobos a filmes bem feitos. Nenhum problema. O réveillon é seu e o importante é ser feliz. Ou no mínimo, se sentir de boa, sem ser obrigado a fazer caras e bocas para pessoas que a gente estrangularia com o maior prazer se não fosse pecado e contra a lei.

Jogue Banco Imobiliário. Videogame. Jogue conversa fora. Fale mal da vida alheia. Fale mal de si mesmo. Diga sem constrangimento que ainda não estabeleceu metas para 2017. Ria da colega que acredita que pensamento positivo resolve tudo e se sente culta por devorar livros de autoajuda. Não segure um bom arroto se alguma comida cair mal. Empadinhas costumam ser gordurosas.

Esqueça a calcinha nova. Esqueça o branco para atrair paz e o amarelo para atrair dinheiro. Esqueça o rosa para atrair amor e o vermelho para chamar a paixão. Esqueça o verde esperança. Não há nada mais angustiante  do que viver de esperança.  Encare a merda de uma vez e aprenda a rir de si mesmo!

Use uma calcinha confortável mesmo e de preferência , fique pouco tempo com ela. Tem coisa mais gostosa do que entrar no novo ano despido de qualquer tradição? Piadas eróticas à parte rs

Se você quiser ter um réveillon perfeito, precisa fazer algo que tenha a sua cara. Precisa comer e beber o que você gosta, mesmo que seja pão com mortadela e fanta uva.  Vestir o que bem entender. Ficar com quem faz realmente parte da sua vida.  O resto é chantilly e marketing para fazer desavisados gastarem um dinheiro que muitas vezes nem têm.  Para fazer desavisados entrarem endividados no novo ano.  Para induzirem desavisados a tirarem selfies bregas de passagens de ano pasteurizadas e sem graça.  Não há nada mais cafona do que não ser a gente mesmo.




 
 
 


 
 
 







 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Se você foi um cuzão em 2016 , provavelmente será um em 2017 também

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
Sim, se você foi um cuzão em 2016 , provavelmente será um em 2017 também. Sim, se você foi um parasita em 2016 , provavelmente será um em 2017.
 
Se você arquivou todos os seus projetos por preguiça em 2016, provavelmente você os arquivará de novo em 2017, com a fiel e fervorosa promessa de concretizá-los em 2018.  Se você foi um déspota egoísta com os seus colaboradores ( amo eufemismos rsrs) provavelmente você continuará sendo um déspota egoísta em 2017, alguém capaz de olhar apenas para o próprio umbigo , embora deseje felicidade a todos.
 
Desejar felicidades é fácil e indolor. Quero ver tornar a vida dos outros mais simples. Quero ver dar condições para que as outras pessoas possam se sentir menos desesperadas neste mundo maluco.
 
Um cartão bonitinho significa coisa alguma. O que significa são as atitudes palpáveis , sólidas. O que significa são os aumentos de salário, os planos de carreira , os gestos verdadeiros de afeto. O que significa é ajudar as pessoas a encontrarem soluções para as suas vidas complicadas. O que conta é ajudar as pessoas a terem vidas menos complicadas.
 
Sim, alguns gestos pequenos podem ajudar e muito. Mas a grande verdade é que a maioria gosta de ser cuzão mesmo.
 
A maioria curte fazer média. A maioria curte paparicar quem não precisa de ajuda. A maioria prefere cobrar por um afeto que não é capaz de sentir , muito menos de dar. A grande verdade é que a maioria quer amor irrestrito , mas nada faz para cativar as pessoas.
 
A grande verdade é que um ano só pode ser diferente se nós mudarmos.
 


 
 
 







 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




Um brinde ao senso de realidade!

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Hoje , fiquei extasiada com um artigo da Tati Bernardi. Sinceridade irreverente na veia. Em dose cavalar e deliciosa. O post de hoje é basicamente um mix entre o texto lido e um relato feito por meu irmão,  que foi obrigado a presenciar uma cena lamentável em um restaurante.
 
Uma mulher bastante idosa brigava por meio do telefone celular. Estava enfurecida porque uma pessoa que ela não gostava iria cear em sua casa no Natal.
 
Sim, o verdadeiro espírito do Natal é este para muitos. Se as pessoas fossem mais autênticas e profundas, seriam pouquíssimas as que comemorariam o Natal. Seriam os verdadeiramente religiosos e fim da citação.
 
A maioria de nós celebra simplesmente a festa do comércio. Muitos com um belo sorriso no rosto, achando tudo uma grande maravilha, desde a comida gordurosa numa noite quente até os votos falsos de felicidade de gente que não está nem aí para nós.  
 
Uma minoria, como eu, celebra como alguém que está com supositório tamanho GG.  Acho uma data melancólica , pois está esvaziada do seu real sentido. Virou apenas mais uma oportunidade para as pessoas se estressarem e terem gastos extras. Virou apenas mais uma oportunidade para lembrarmos de como a dinâmica social é chatinha.  De como as pessoas são hipócritas. De como é irritante lavar um monte de pratos depois de ter enchido o bucho. De como é irritante ter que entochar sobras de comida na geladeira.  Graças a Deus , o arroz aqui de casa vem sem passas. Uma frustração a menos.
 
Um dia desses meu namorado comentou comigo, meio incomodado , o fato de as pessoas não comerem feijão no Natal.  Concordo com ele. Nenhuma tradição deveria falar mais alto do que um apetite saudável.
 
Felizmente , passo o Natal apenas com meus pais e irmão, minha família de fato. Nos vestimos com roupas do dia a dia , sem frescura. Se ainda não conseguimos nos libertar das artimanhas capitalistas , pelo menos , posso dizer que   o clima é verdadeiro. Um pouco entediado, mas verdadeiro e cheio de um amor cansado, que é o amor real. Amor nada tem a ver com fogos de artifício. Amor é arroz e feijão comidos no dia a dia.
 
Felizmente , existe gente no mundo que pensa como eu. Mais do que isso: que escreve a respeito para quem quiser ler. Felizmente , não são apenas umas poucas pessoas do meu convívio que pensam igual a mim. Tem gente que está nas grandes mídias e que consegue pensar com lucidez. Estou cansada deste falso otimismo que impera em nossa sociedade. Estou cansada de gente que tapa o sol com a peneira, que come merda e insiste em dizer que é brigadeirão. Estou cansada de gente que em nome de uma felicidade fake deixa de viver uma felicidade verdadeira.
 
Ás vezes , sinto que estou vagando por uma cidade dizimada, que restaram apenas zumbis. Mas que estes zumbis se entendem e o corpo estranho sou eu.  Sim, ler a um texto como o da Tati Bernardi é como sentir a impetuosidade de um peido destemido num mundo em que as pessoas negam que fazem cocô.
 
 
 
 
 







 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O que espero de 2017?

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Espero pouco, muito pouco de 2017. Espero entrar em 2017 com uma taça de champanhe vazia nas mãos e um sorriso meio irônico nos lábios. O mesmo sorriso que você viu estampado em meu rosto cansado durante 2016.
 
Espero entrar em 2017 com um beijo seu em minha alma esgarçada. Um beijo seguido por um longo e tépido abraço de amor.
 
Não sou ambiciosa. Não espero nada de 2017 nem de você. Espero apenas poder sugar tua alma num canudinho junto com o Campari misturado à soda limonada. Só quero mastigar tua alma como a uma pedra de gelo abandonada no fundo do copo.
 
Não sou ambiciosa. Só quero ouvir em minha mente um eterno blues sob a lasciva iluminação de um romance eterno. Não quero que cuide de mim. Só quero me adore.  Peço apenas o teu amor eterno servido numa bandeja de prata junto com meus canapés favoritos.
 
Não espero nada de 2017. Não espero grandes notícias e revelações. Espero apenas que nunca falte um bom olhar tépido sobre mim. Não sonho com grandes metas e conquistas. Sonho apenas com uma boa mesinha de canto onde possamos ficar apartados do mundo que entende nossas palavras como um dialeto arcaico e bizarro. Sonho apenas com o melhor e o pior de nós se embolando num único olhar de cumplicidade inconsequente.
 
Em tempos remotos , disse que eu era inconsequente e lasciva ou lasciva e inconsequente ...talvez possa me dizer a ordem correta um dia desses. Num dia qualquer, depois de aspirar mais uma vez o cheiro da minha pele.
 
Não, não espero nada em especial de 2017. Só espero que a vida transcorra com seu magnético tédio e encantadora falta de sentido.
 
 
 
 







 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




sábado, 10 de dezembro de 2016

Seja o meu mimo

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Me visto com minha melhor fantasia , a mais rebuscada para que possa ver a pele da minha alma. Para que possa ver tudo aquilo que mora atrás do meu sorriso de canto de boca.

Para ver tudo aquilo que mora dentro de mim e que nem eu sei. Peço que me decifre e te ofereço apenas um beijo. De amor. Mas ainda assim, um beijo...sorrio...mentira...ofereço bem mais do que um beijo e basta que tente , que arrisque uma resposta...não saberei mesmo se está certo ou errado. Talvez nem exista um certo ou um errado.

Te trago para junto de mim. Te trago para uma terra idílica cheia de mil promessas...nunca mais te deixarei...sorri com os olhos diante das minhas palavras. Me pergunto: acredita realmente em mim?

E de repente , tudo se cala e se acende ao mesmo tempo num abraço cálido. Dois desesperados perdidos , vagando por uma terra de ninguém, sempre à espera do próximo trem, sempre com aquele ar de que mais nada esperamos.

E de repente tudo se descontrói como renda fina puxada pelo destino. E admitimos que esperamos sim. Uma tranqueira qualquer. Ela não vem. Entendemos finalmente porque somos niilistas até o próximo mísero desejo negado.

A vida é feita de pequenos mimos , regalos. Uma pequena contrariedade pode estragar o dia ou a semana ou a esperança de um futuro feliz.

Sim, a vida é feita na pequenez. Tudo que mais queremos como crianças mimadas , esperneando no meio da rua , são coisinhas bem tolas: corações espetados em estacas, reconhecimento irrestrito por nossos pequenos feitos, um pouco de neon e purpurina pelas calçadas esburacadas por onde passamos ,  fragmentos do nosso olhar num jornal que vai enrolar o peixe da sexta seguinte, um beijo terno antes de dormir.

 








 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sobre aquilo que nem nós mesmos sabemos

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Ás vezes , só quero fechar os olhos e entregar-me a mim mesma , esta estranha simpática e meio irônica. Nunca sei quando estou sorrindo de boa para mim mesma ou quando estou me julgando por qualquer coisa que nem sei que fiz.
 
Sim, faço as coisas sem perceber. Sinto as coisas sem entendê-las. Sinto um tufão de sensações variadas e perplexas me dando pontadas suaves na alma. Algumas nem tanto...algumas machucam para valer.

 
Ás vezes, só quero fechar os olhos e entregar-me a mim mesma , esta moça que me olha de esguelha cheia de um amor perturbador.  Sinto vontade de abraçar tudo que deixei escapar...sinto vontade de beijar no rosto a garota boba e brilhante que fui.
 
Sim, fui uma garota brilhante. Só não sabia disso.  Se alguém tentou me dizer quem eu era , não acreditei.
 
Não consigo ver a mim mesma e tateio no escuro. Me aproximo de você. Com suas mãos junta minhas duas versões numa só e ama a ambas loucamente.  Flerta com a estranha simpática e beija piedosamente a que só quer chorar e sumir.
 
Penetra os segredos da irônica altiva sem nunca largar a mão daquela que não sabe onde está e nem para onde deve ir.
 
Talvez exista uma terceira...a que mora no vão dos sentimentos extremos...não sei...não sei...só quero que fique comigo até o dia amanhecer. Temo o escuro.











 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 



sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A eternidade me cansa

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Tenho preguiça da eternidade. Só de pensar , imaginar vagamente , sinto vontade de me encolher no canto da alma.

Quero me deitar em posição fetal e pedir baixinho para que tudo acabe. Estou cansada. Estou cansada. Estou ...às vezes , até terminar uma frase pode ser um porre.

Caminho pela rua. A noite está agradável. É bom andar por aí, sem rumo, depois de comer um bom teppan e tomar um Campari batizado com soda limonada. Sim, a eternidade poderia ser assim. Sentir para sempre a lânguida sensação de um bom teppan com Campari. E depois sair por aí, pensando em tomar um sorvete ou receber uma massagem nos pés numa destas casas de massoterapia que encontramos na Liberdade , com os micro ambientes separados por biombos.

Sim, a eternidade me enche de preguiça. Não quero aprender mais nada. Não quero ser um espírito de luz. Não quero uma felicidade que não inclua os prazeres deliciosos que aqui foram negados.

Quero continuar comendo teppan e yakisoba e rolinhos primavera e um bom churrasco com saladinha de cebola , batata com maionese, macarrão à noite.

Sim, se a eternidade for caminhar por aí, depois de ter saboreado um bom steak tartare com uma dose de Bellini, ok para mim. Se a eternidade incluir uma quick massagem, eu vou sorrindo. Sorriso de canto de boca. Se a eternidade incluir uma boa dose de paixão, me abandono à sua vontade.

Sim, viver para sempre me cansa. Sempre temi o imobilismo, aquilo que nunca muda , que nunca acaba. Tatoos? Nem pensar! Se pudesse trocava a pele do corpo e da alma todas as semanas. Como ser apenas um num mundo cheio de possibilidades?

Sim, viver para sempre me cansa. Me cansa muito. Mas se a eternidade for como deixar-se ficar numa mesinha de canto de algum bistrô, por que não?














 
 
 






 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.