domingo, 10 de dezembro de 2017

Promessas para 2018

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Em primeiro lugar , opto por não fazer promessas. E esta é a minha única promessa.

Em segundo lugar , não acredito em promessas. Acredito no aqui agora . No presente. No gosto do seu beijo. No teu olhar. Acredito nesta emoção que me corta por dentro. Que me corta em dois. Que me corta em mil. 

Acredito no teu olhar quando olha para mim , pedindo mais uma gota do meu amor. Sou uma fonte inesgotável. Sou o que sou. Desesperada. Me atiro em seus abraços como se não houvesse mais nada. E talvez , realmente , não haja . Não me importa!

Passa a língua em minhas costas e me transporta para o nosso primeiro encontro.Tudo volta ao princípio e fecho os olhos sorrindo. Todos os jogos de amor são meio perversos! Que delícia!

Me encontrou meio perdida na rua e me fez tua. Tomei o espumante com boca boa quando a festa estava para terminar. 

Me despe com um olhar. O mesmo olhar que me afaga , me beija.  




































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

www.psicanalistasilviamarques.com







segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Sou uma exilada

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Tenho uma melancolia. A melancolia típica daqueles que são exilados. Pertenço a muitos lugares e a nenhum. 

Em minha alma , dançam lembranças atávicas de tempos muito remotos que me arrastam para terras que nem sei se um dia eu pisei em meus pensamentos. 

Tenho uma melancolia. A melancolia típica daqueles que não pertencem nem a si mesmos. Vago pelos corredores da alma e vejo mil fragmentos espalhados em estilhaços de espelhos. Sorrio para mim mesma , tentando seduzir-me , tentando me levar para qualquer lugar morno e brando...mentira! Gosto da intensidade. Sou só uma possível verdade de mim mesma quando sou arrastada para um abismo qualquer... 

E como todo ser inconsequente , olho-o nos olhos. Flerto com o vazio. Deixo que ele me tire para dançar. Não temo o nada. Nem o escuro. Simplesmente danço. Rosto colado.  Sou uma exilada. Nunca estou totalmente em casa.

Escrevo versos rasgados que em vão tentam me costurar, me enredar numa teia de palavras mais exiladas do que este rosto que me olha fixo e penetrante por meio do espelho.
































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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terça-feira, 14 de novembro de 2017

O que não posso dizer

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Pertenço àquela categoria de gente suja e descuidada, que se entrega com um olhar , com um sorriso de canto de boca , que tudo revela ao tentar esconder.

Choro em silêncio atrás do biombo da vida. Seminua , secretamente desesperada , apenas um colar de pérolas dando três voltas em meu coração de poeta. 

Meu copo se esvaziou há milênios e no meu coração só restou um gosto de vinho vencido.

Não pode entender o meu abismo. Não diga sinto muito enquanto apunhala minha alma andarilha. Palavras nada significam e se insisto em usá-las é por puro vício. 

Não pode preencher meu vazio. Não diga que me ama enquanto olha distraído para o outro lado da rua.

Passo por meio dos carros com um vestido esvoaçante. Os pingos grossos de chuva beijam meus lábios. Preciso tanto ser devorada...




























































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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sábado, 11 de novembro de 2017

#$%@

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Sou irônica. Um pequeno truque usado por aqueles que já entenderam que tudo ou quase tudo é nada. Um pequeno truque daqueles que já viram da varanda de casa um desfile de embustes envoltos em papel celofane , chantili e mediocridade disfarçada de bons sentimentos.

Existe algo de belo na crueldade. No sorriso amargo de canto de boca , que diz para si mesmo "eu já vi este filme muitas e muitas vezes e não gosto do desfecho". 

Abro o fecho do colar. No meu colo nu mil histórias tatuadas em cores invisíveis. O sorriso torto e amargo persiste.  Ouço as pérolas de um colar gigante despencarem do meu peito esgarçado.  Se espalham pelo chão do quarto. Da alma. 

Diante do espelho da vida , me demaquilo. Há pouca maquiagem. Costumo andar de rosto lavado. Apenas meu batom vermelho e este ar de surpresa diante de notícias velhas que agora só servem para reter a urina e as fezes dos cachorros. 

Estou cansada. Deixo um pouco de rímel misturado á uma falsa dignidade. Meu copo está vazio. Mas não quero preenchê-lo. Quero sorver até a última gota da minha poesia barata.

Quero me manter de olhos abertos para sentir o tédio me rasgar por dentro. O sorriso torto e amargo persiste. Virou quase uma tatuagem, uma segunda pele , um codinome , o meu signo ascendente jogando seus mil véus sobre  um possível eu que dança nu, bêbado e louco por aí. 

Queria ouvir uma canção francesa e me emocionar, mas só escuto um...#$%@








































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Um balde de afeto diante da tela da vida

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Olho para a tela do cinema . Me sinto engolida por ela. Um balde gigante de pipoca amanteigada no colo. Levo um punhado á boca com displicência. Pelo menos aparentemente. Mastigo a pipoca nervosamente, engulo-a como me sinto engolida pelas imagens que dançam e gritam e gemem á minha frente.

Me sinto mais uma vez criança. Talvez nunca tenha deixado de ser. Espalmo as mãos sujas de tintas coloridas na tela em branco da vida. Moldo a argila fresca ao meu bel prazer. Sorrio diante de qualquer monstruosidade que crio por acaso. 

Sujo o rosto com as tintas pasteis da tela de uma sociedade que tenta me calçar com saltos finos e um ar distinto que em nada combina com meu batom vermelho e meu brinco grande em uma orelha apenas. 

Limpo o tom nude da alma pois o amor é vermelho e como boa insana sei que tudo começa e termina nele. Danço em círculos no círculo da vida. Fogueira queimando sentimentos que quero tatuar na alma. Amo feridas eternas. Disco riscado. Gemo junto com choros do passado. Existe algo de mágico em chafurdar nos próprios excrementos e no lixo que um dia jogaram sobre nosso corpo nu, débil, implorando por mais um olhar de amor.

Pego a última pipoca no balde sujo de manteiga. Engulo como quem come um punhado de afeto. Mais um gota , por favor. Estou com sede. 





































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Caos

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Não me olhe com esta cara de quem sabe toda a verdade. Não tente me engolir com um beijo de amor nem agarrar a minha alma num abraço mundano.

Sinto o calor da sua respiração me comendo com a sua fome de amor e não sei o que dizer. Apenas sorrio. Para mim mesma. De mim mesma. A vida é um jogo de palavras e não sei o que dizer. Sou uma escritora desde sempre e tudo que posso fazer é te olhar e sorrir. Com este mesmo sorrisinho de canto de boca que dou como resposta lacônica e sedutora para o mundo.

Sim, a vida é um jogo de palavras e como gosto de tecer versos esgarçados,  molhados de vinho e lascívia, impregnados pela minha verdade subjetiva, danço ao ritmo do acaso bebendo da minha poesia barata. 

Sim, a vida é um jogo de palavras e o amor , o mais estridente dos estribilhos. Danço cada vez mais rápido, passos novos e desajeitados. Não sou um dos casais robóticos de Último tango em Paris...estou mais para Brando mostrando a bunda para esta gente que acha que sabe tudo com suas caras enfezadas e seu medo de flertar com o próprio desejo. Olho para ele. Olhos nos olhos. Me tira para dançar. Não sei dançar direito. Quem se importa com isso? 







































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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domingo, 15 de outubro de 2017

O amor é uma poesia em carne viva

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Sinto saudade da sua bagunça. Sinto saudade de ter você pigarreando pela manhã, passando displicentemente a mão no cabelo farto, tentando domá-lo enquanto aspiro o cheiro de fumo que exala da sua pele trigueira. 

Sinto saudade da sua cueca jogada pelo meio do caminho. Desvio para não pisar na sua roupa íntima com meus tênis grosseiros ou  meus saltos confortáveis, quadrados , perfeitos para quem não dirigiu a libido para o cumprimento dos protocolos ditos femininos.

Sinto-me eu mesma com meu batom vermelho, os braços arrepiados quando lança um sopro quente em meus ouvidos, os mamilos levemente atrevidos , uma vontade de não sei o quê. 

Posso suportar numa boa a saudade que sinto quando está longe de mim, tomando meu vinho branco bem gelado enquanto transformo meu mais banal dia a dia na mais cálida poesia. Quando desafio o tédio com um sorrisinho de canto de boca. 

Insuportável é sentir a sua falta quando se aninha em meus braços , nos mesmos braços arrepiados, nos mesmos braços que não podem te segurar , sentindo o calor da sua respiração colada ao meu decote descuidado. 

Sou uma mulher inadequada. Você sempre soube disso enquanto tragava um pensamento filosófico juntamente com a fumaça do cigarro, um jeito levemente sarcástico, algo entre "Estou extasiado" e "Estou nem aí".

Acho que gosto mais do seu niilismo do que do seu êxtase por mim. Não estou acostumada a ser desejada. Não sei ser desejada. Não sei onde colocar os braços.  Sinto falta de saber andar bem de salto. Mentira...mais um sorrisinho de canto de boca. Mais um verso de poesia tecido com as emoções da vida, com as mesmas emoções diluídas no fundo de uma taça de vinho. 
































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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domingo, 8 de outubro de 2017

Por onde anda a garota desbocada?

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Me perguntaram sobre a garota desbocada esta semana e eu senti uma saudade verdadeira daquela sujeitinha irreverente , que se acha atraente com suas calcinhas de renda meio esgarçadas, com seus quilinhos a mais e seus mamilos rosados de mocinha com quase 40 anos. 

Que faz poesia com suas palavras mais gastas do que as rendas das  mesmas calcinhas que ela insiste em usar como quem repete velhas emoções diante de um copo vazio. 

Me sinto literariamente e existencialmente sóbria hoje. Busco o que dizer com a lembrança da pele da alma, com o gosto do vinho que tomei na semana passada. Reinvento o meu torpor porque como todo poeta, sou uma dissimulada que encena o próprio gozo, a própria dor. 

Porque como toda poeta me desnudo de mim mesma para sorver num canudinho imaginário o sangue do meu coração. 

Ás vezes, queria ser a garota desbocada mais uma vez. Ela é o tipo de mulher que faz até as mulheres perderem a cabeça. Se a encontrasse no meio da rua , atravessando-a de forma descuidada , a chamaria para um café e um dedo de prosa e juntas faríamos uma poesia de carne e osso.

Mas estou cansada. E me contento em dissimulá-la por meio das minhas palavras que significam nada enquanto escuto "Onde anda você" , com um sorrisinho de canto de boca, ruminando qualquer coisa muito insana.  


































































Sílvia Marques é professora doutora , escritora, atriz e psicanalista lacaniana. Escreve na Obvious e Fãs da Psicanálise, idealizadora da pós em Cinema do Complexo FMU. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.


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terça-feira, 5 de setembro de 2017

A vida cabe numa taça de Margarita

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Uma das pequenas delícias do amor é se botar de quatro na cama , esticar o braço para pegar qualquer coisa na mesinha de cabeceira , vestindo apenas calcinhas de rendas. Se elas estiverem levemente esgarçadas , melhor ainda. Dão um certo ar blasé , estilo "estou nem aí para esta coisa de roupas novas , calcinhas impecáveis e mais uma série de itens que fazem a cabeça das mulheres comuns".

Gosto de esticar bem o corpo , empinar bem as nádegas só para merecer um beijinho ou uma mordiscada no bumbum, sem passar horas na academia. 

Gosto de todo o caos mais ou menos organizado que ronda o quarto de um casal. Certas repetições , alguns lugares comuns que fazem parte do mise-mise-en-scène da vida a dois.  Eu finjo estar pegando alguma coisa ( ou estou pegando mesmo) e ele me morde com o vigor de um gesto novo e eu me surpreendo com a risada de sempre. 

Gosto de toda a rotina meio bagunçada que ronda a intimidade de um casal. Certas surpresas , pequenos imprevistos que fazem parte do frenesi do estar junto. A gente muda de planos no minuto final e de repente a vida cabe numa taça de Margarita.  Fica tudo com gosto de tequila queimando a garganta, um salgadinho nos lábios da alma sussurrando "Quero um gole a mais...". Mas precisa ser um daqueles bem longos! 





























































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.










quinta-feira, 13 de julho de 2017

Declaração de amor niilista!

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

A vida não faz sentido. Mas comer sushi é bom.

A vida não faz sentido. Mas tomo meu vinho gelado com boca boa.

A vida não faz sentido. Mas quero fazer amor.

A vida não faz sentido. Mas estou louca por um crepe vendido em praça de alimentação ou enviado delivery dentro de uma caixinha.

A vida não faz sentido. Mas minha camisola bordô ainda é nova e quero usá-la até a renda se partir como as das minhas calcinhas surradas.

A vida não faz sentido. Mas ainda não aprendi a dançar tango nem Flamenco.

A vida não faz sentido. Mas ainda não li Proust nem Joyce.

A vida não faz sentido. Mas quero ir ao churrasco de domingo.

A vida não faz sentido. Mas quero ainda ouvir a campainha do teatro antes da peça começar. Quero me sentar no balcão do Municipal.

A vida não faz sentido. Mas quero comer um punhado de cerejas frescas no Natal. Levar um figo á boca. Me sujar.

A vida não faz sentido. Mas quero ganhar mais um presente de aniversário, rasgar o papel com mãos ávidas.

A vida não faz sentido. Mas quero chorar ao som de Henry Mancini ou de Michel Legrand ou de Maurice Jarre.

A vida não faz sentido. Mas quero escrever mais uma poesia ao som de Charles Aznavour  e dividir um fondue ouvindo Ne me quitte pas e pensar em tudo escutando Que rest t-il de nos amours.

A vida não faz sentido. Mas quero lembrar da minha infância por meio do cheiro de orégano e manjericão do molho da macarronada.

A vida não faz sentido. Mas quero fazer mais alguns gestos tempestuosos , ver mais filmes de arte , enfiar os pés pelas mãos , ser eu mesma com o meu batom vermelho.

A vida não faz sentido. Mas preciso tomar mais um banho de chuva, ter seus olhos sobre a minha blusa colocada , rir meio bêbada , sem medo de nada.
 
A vida não faz sentido. Mas quero mais uma vez dormir em seus braços.

A vida não faz sentido. Mas gosto de ver o seu sorriso, o seu corpo caminhando na direção do meu, seu colete , seu jeito de menino amadurecido às pressas na plataforma do metrô.



















































 
 















Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.








Sou aquilo que dizem que eu não sou

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Sou o que sou: caos e fúria dançando nus por trás de um véu fino e transparente de delicadeza meio afetada. 

Sou a que ri e a que chora depois de esvaziar um copo de vinho gelado ao som de Henry Mancini.

Sou a que entende a tragédia da vida com ares professorais e se chafurda contorcida de dor e desespero por não suportar aquilo que peço aos outros para aceitar. 

Sou a que deseja paz enquanto se envolve em guerras homéricas. Sou a casta que se entrega despudoradamente aos meus mais insanos caprichos.

Sou a que busca pela desordem irreverente enquanto toma uma taça de espumante tranquilamente. A voluptuosa que só quer dormir abraçada. 

Sou a menina que cresceu em escola de freiras vestindo uma camisola de rendas. Sou a menina de rua que quer virar mulher só para ser chamada de senhora. 

Sou aquilo que os outros imaginam que eu não seja. 


























































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.









quinta-feira, 1 de junho de 2017

Amor , apenas o amor

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É como se eu tivesse vivido num coma existencial durante milênios, querendo ardentemente o que eu mais repudio, o que eu mais não desejo para mim. 

É como se eu corresse na direção de algo que não quero. Finalmente , me vejo nua e crua na frente do gigantesco espelho da alma. Sou pérfida. Sou suja. Pouco me importa a minha mesquinhez. Sou o que sou. Tenho amor de sobra para dar.  Mas não quero correntes a me aprisionar.

Sou como o vento: leve e fluida. Sou como o metal: pesada e trágica. Não caibo em nenhuma palavra. Estou no campo do real. Estou no campo daquilo que não pode ser dito. Sorrio.  Que delícia!

Quase gozo diante do indescritível.  Bebo mais uma taça de vinho. Morro de amor por você. Morro de amor de mim.  A vida é cinza , mas vejo mil cores dançando à minha frente , retirando os seus véus , me sorrindo cheias de malícia. O vermelho explode. Sou tua. És meu. Nada mais importa. 






















































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.










domingo, 28 de maio de 2017

A vida é meio escatológica

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Acho que sou a única mulher no planeta Terra que solta pum...ou seria melhor dizer , a única que peida. Sim, eu peido. E tiro aguinha do joelho e cago com gosto. Acho um frisson a saída do cocô. É quase uma massagem relaxante. Não digo que seja de graça pois um bom e macio papel higiênico tem o seu custo.

Quando as mulheres se recusam a falar sobre peidos ou usam termos infantis para se referir aos atos de evacuar , sinto que os odores emitidos pelas mesmas fedem menos.  O poder das palavras. Sim, palavras têm o poder de maquiar realidades duras. Mas por pouco tempo...basta um jato forte de água para borrar o rímel e  transformar a base e o blush numa massaroca. 

Viver e amar não é só declamar versos e aspirar o odor de flores e acariciar as pétalas macias de rosas.  A vida tem a sua porção escatológica e ela é bem grande, gostando ou não, aceitando-a ou não.

Não importa a marca do batom e o quanto é caro o  creminho que passa no rosto antes de dormir para dar um up-grade na pele. Não importa o quanto seus dentinhos sejam bem escovadinhos. Ao amanhecer, podemos sentir em nossa boca e na boca da pessoa amada milhares de pequenos cadáveres dançando.

Não adianta o preço do rímel , os olhos amanhecerão com remelas. Não adianta evitar ao máximo palavras que se refiram a dejetos. Todos nós iremos fazê-los com seus odores típicos.

Não adianta saber combinar uma bolsa com sapatos como ninguém. Ainda exalaremos um cheiro azedo caso fiquemos um dia inteiro sem tomar banho . Principalmente se for um dia quente. E quando o suor secar na roupa , vamos sentir cheiro de qualquer coisa velha , com data vencida. E depois de um dia incrível, pensaremos meio indignados : "Mas este cheiro é meu mesmo? 

Cheiros constrangedores parecem pertencer apenas aos mais pobres e feios. Não, não se iluda. Seu creminho anti-idade não te faz mais jovem nem teus perfumes caros essencialmente cheirosa.

É tudo fantasia , ilusão. E quem tiver senso de humor , saberá rir desta gigantesca piada que é existir. 













































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.











quinta-feira, 25 de maio de 2017

Poesia na veia

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Gosto do teu cheiro pela casa. O gosto do fumo em sua boca. Respiro lentamente , caindo em queda livre nos abismos caóticos da minha alma de poeta. 

Ando nua e descalça por terras imaginárias, tecendo poesia com minhas memórias vagas. Teu cheiro me leva para o meu paraíso perdido, para a minha terra prometida onde jorrarão vinho e melodia.  Onde me colocarei a dançar loucamente ao som das verdades tecidas por minhas mãos. 

Detesto o moralismo desta gente que não sabe gozar. Detesto o moralismo que ainda reside em mim , segurando o meu braço com violência diplomática , trancando em meu peito, em minha garganta , em minha boca o grito louco que não quer parar. 

Quero correr pela rua sem ter hora para chegar . Quebrar os relógios do mundo. Me atirar em seus ponteiros e simplesmente brincar e brincar e brincar pois tudo não passa de uma grande piada. 

Quero o teu beijo antes de dormir pois é um dos poucos clichês que posso suportar sem cair aos prantos ou na gargalhada. Quero o teu beijo pois ele é a sua parte que pertence a mim. É a parte que posso engolir e deglutir como o mais venenoso dos frutos proibidos. 

Não temo os venenos . Temo as curas. Gosto de me olhar no espelho e me ver assim meio torta , meio irônica , meio doce. Meio sua , meio minha , meio desta humanidade perdida , que crê na Salvação do Deus espinafre e que tece preces aos santos rúcula , acelga e tomate sem azeite. 

Continuo a me envenenar comigo mesma , com minha poesia suja e barata. Com o meu amor que se chafurda em lençóis amarfanhados.  




































Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.