quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Me tire para dançar

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Me tire para dançar. Mas não espere que eu acerte os passos. Sou a mulher mais desajeitada do mundo. Ao vigiar meus pés, pode me acusar de negligente. Se te olhar , posso pisar em você.
 
Me tire para dançar. Mas não espere que eu acompanhe bem o ritmo. Sou a mulher menos sincronizada que conheço. Tentarei seguir a melodia, mas acabarei dançando do meu jeito, imprimindo a minha cadência.
 
Me tire para dançar. Mas não espere que eu tenha fôlego para me movimentar muito tempo. Sou do tipo que sai correndo e pulando para as coisas da alma.
 
Me tire para dançar. Mas não espere por acrobacias, grandes giros e levantadas de pernas. Também não espere que faça tudo elegantemente em cima de um salto agulha. Já te falei. Sou muito desajeitada. Se tentar um movimento brusco, posso ficar travada. Sou do tipo que dobra , enverga e gira pensamentos, delírios e palavras.
 
Me tire para dançar. Mas não espere nada de mim além de poesia e um brilho doído no olhar.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato,  dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
 

Um pouco de ousadia, por favor

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Sempre me recordo de uma ex-colega de faculdade altamente inexpressiva, o signo do senso comum, do imobilismo e da inveja rancorosa por ver outros pagando preços que ela se recusava a pagar.
 
Em um  curso de Comunicação Social, ela afirmava com boca de nojo que estava feliz tirando nota cinco nos trabalhos.
 
Mesmice e conservadorismo  num curso de Comunicação é o fim da picada, para não dizer o cúmulo da falta de autoconhecimento. É o mesmo que ser um atleta sedentário ou um chefe de cozinha que sente vontade de vomitar só de sentir o cheiro da comida.
 
Ok. Ok. Ok. Autoconhecimento e percepção das potencialidades e fraquezas não são o forte de quase ninguém. Talvez por tal razão exista tanta gente no lugar errado enchendo o saco de quem quer fazer algo que valha a pena.
 
Por outro lado, um garoto muito inteligente , de criatividade irreverente fazia trabalhos para tirar dez ou zero. O seu destemor lhe custou uma DP por conta de um professor obtuso que fazia a disciplina parecer uma mistura de grego, sânscrito, alemão suíço redigidos no mapa do inferno rasurado e de cabeça para baixo.
 
Sim, ele pegou uma DP, mas fez trabalhos incríveis, deliciosos e uma vez tive a honra de usufruir um pouco daquela imaginação vibrante e desgovernada,  que transformava o absurdo em sensato.
 
Sem um pouco de destemor, de irreverência, de ousadia a vida vira um filme sem pontos de virada, uma melodia monofônica, uma macarronada sem queijo, batatinha frita murcha e sem sal, um chope quente, um beijo sem paixão.
 
Quem se contenta em tirar cinco na vida por medo do zero nunca se permite a tirar um dez e fica sempre no mesmo lugar, vivendo nas sombras, servindo-se de migalhas, sem nunca conseguir se expressar. Quem não se arrisca ao pior, nunca abocanha o melhor. Quem não dá a cara a tapa, nunca recebe uma carícia cálida. Quem nunca se perde, nunca se encontra.
 
Quem nunca transgride, nunca cria nada nem marca ninguém. Como se diz, regras bobas foram feitas para serem quebradas e um brinde ao inusitado.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.





terça-feira, 29 de setembro de 2015

Por que a "felicidade" mora nos dias de sol?

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Ok. Ok. Ok. Não discutirei os enoooormes benefícios do sol na vida da nossa mísera Humanidade. Ele é tão importante que tudo gira em torno dele e a astrologia o escolheu para representar a nossa personalidade. Muito tempo sem sol, em invernos intermináveis, deixa as pessoas mais caladas e de bode.
 
Por outro lado, por que um dia de sol precisa naturalmente acender a nossa tecla alegria e nos fazer sorrir e querer celebrar a vida? Por que é estranho ver alguém de bode num dia ensolarado e quente? Por que é estranho ouvir alguém dizer que se sente super de boa num tempinho nublado e chuvoso?
 
Por que dias de sol são perfeitos para tomar cerveja e rir com os amigos? Por que precisamos necessariamente rir para demonstrar alegria? Por que não regar uma boa cerveja trincando de gelada com um papo filosófico baixo astral que deixa a alma em festa?
 
Por que ir à praia é tão superior a ler um excelente livro debaixo de um edredom fofinho, sentindo o aroma de um chocolate quente com canela? Por que ir à uma balada da moda é mais excitante do que usufruir de uma boa lasanha fumegante , cheia de queijo saturado numa cantina aconchegante enquanto toma-se uma taça de vinho tinto e se conversa sobre os mais variados assuntos?
 
Por que uma comédia é necessariamente mais relaxante do que um filme de terror? Ok. Ok. Ok. A maioria relaxa mais vendo comédias e prefere praias a livros. Não questiono nem critico quem tem gostos diferentes dos meus. Entendo perfeitamente que precisa ser meio maluquinha mesmo relaxando com Sexta-feira 13.
 
A única coisa que questiono é o espanto diante do diferente , do raro, da minoria. Por que todo mundo tem que gostar daquilo que a maioria gosta?
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

sábado, 26 de setembro de 2015

É fácil prestigiar os medíocres

Garota desbocada é um espaço esteticamente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Ri ao ler um post no Facebook semana passada. Era algo mais ou menos assim: você zomba de quem acredita em astrologia , mas você acredita em meritocracia.
 
É muito fácil prestigiar os medíocres, os que não ameaçam, os que não alçam voos altos. Águias precisam ter asas podadas e  necessitam ser encarceradas em gaiolas. E brindemos às galinhas ciscando suas migalhas de cautela e moderação.
 
É fácil avisar um amigo mais ou menos inteligente de um processo seletivo. É fácil apresentar uma amiga mais ou menos interessante ao namorado. É fácil oferecer uma promoção para alguém sem autonomia para tomar decisões sozinho. É fácil elogiar e incentivar quem não nos ameaça de fato.
É fácil oferecer chances para quem não vai te superar.
 
Concordo que precisamos desenvolver o nosso instinto de sobrevivência e ninguém tem a obrigação de atirar o parceiro nos braços de uma amiga gostosa. Mas , quando esta tendência de prestigiar e dar oportunidades ao mais inexpressivos atinge a esfera profissional a coisa fica muito nociva, para não dizer baixa.
 
Se um chefe poda os mais dedicados e criativos em favor aos café com leite , sem brilho e sem iniciativa, para não ser ofuscado por um subalterno mais competente, quem paga o pato não é apenas o profissional prejudicado. A empresa como um todo sente os efeitos de uma escolha invejosa.
 
Se um professor boicota seus alunos mais brilhantes por despeito autoritário ou se num projeto profissional por receio de ser eclipsado, o coordenador escolhe colegas meia boca , dá um tiro no próprio pé. Imaginem um ator que escolhe apenas intérpretes mais ou menos para encenar uma peça? Ele até pode se destacar por ser o menos pior, mas a encenação provavelmente não agradará. O mesmo se diz a respeito de alguém que vai publicar um livro coletivo e escolhe como bom escritor apenas a si mesmo. Seu trabalho pode ser apreciado, mas o projeto afundará na merda por falta de parceria de qualidade.
 
Enfim, a inveja é uma via de mão dupla, em que algum tiro sempre sai pela culatra.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.
 
 
 


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Quem inventou que cursos de Comunicação Social são redutos de gente preguiçosa e sem vocação definida?

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Quem inventou que cursos de Comunicação Social, principalmente Publicidade e Propaganda, são redutos de gente preguiçosa, desanimada, sem interesse por nada e com vocação indefinida?
 
Quem disse que os cursos de Comunicação Social são sussa ou suaves numa linguagem mais juvenil? Aviso aos navegantes ! Carreiras de Comunicação Social são difíceis para cacete! É para quem tem muita vocação. É para quem está muito a fim de ralar o cu nas pedras e fazer e acontecer. É para gente antenada, inteligente, crítica, intensa, participativa.  É para gente que faz as regras, que cria padrões. É para gente que forma opinião. Não é para gente que segue as regras como carneirinhos com revistinhas pasteurizadas debaixo do braço.
 
Um curso de Comunicação Social pode até ser leve nos sentidos de possuir quatro anos apenas, ser meio período e ter uma rotina de aula mais light, com brincadeiras por parte dos professores, com trabalhos criativos. Mas está redondamente enganado quem pensa que um ambiente menos burocratizado, com menos formalidades e máscaras sociais seja menos sério ou comprometido. Engana-se redondamente quem pensa que criatividade baixa do nada. Não existe criatividade sem repertório intelectual.  Sim, bonitinhos que fazem selfie e papeiam enquanto o professor discute Filosofia, Arte, Cinema , Antropologia e o c... a quatro!  Ninguém cria nada do nada. Não basta fumar uma maconha ou tomar umas e outras para fazer campanhas incríveis.
 
Se você acha que exposições no MASP, filmes de arte, estudos sobre o comportamento humano, Bauman , pós modernidade, Nietzsche , Deleuze e Foucault  não dizem respeito a você , você está com certeza no lugar errado. E vamos combinar? Existem lugares bem mais aprazíveis para papear e fazer selfies do que uma sala de aula , né?
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Para que serve a Filosofia, as Artes e as Ciências Humanas?

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Lendo um pensamento do filósofo francês Deleuze, obtive a resposta ideal para este tipo de pergunta quando parte de alguém com condições de saber  a resposta e sorrisinho debochado.
 
Não dê grandes explicações. A pessoa de fato não está interessada na sua resposta. Diga apenas brevemente: Para ter menos cuzões no mundo.
 
Sim, se as pessoas se aprofundassem mais no conhecimento humanístico, teria menos gente cuzona no mundo.
 
A Filosofia , as Artes e as Ciências Humanas servem  para ter menos gente que não junta lé com cré. Para ter menos gente dizendo que depressão se cura no tanque com um bom bucho de roupa para lavar. Para ter menos gente pensando que psiquiatra é médico de louco. Para ter menos gente se referindo aos doentes mentais como loucos. Muita gente "normal" não é digna de lamber as solas do sapato de alguns psicóticos.
 
Para ter menos gente achando que mandar alguém ir lavar roupa é o pior dos xingamentos. Qual é o problema em saber lavar bem uma roupa? É um trabalho importante como outro qualquer.
 
Para ter menos gente  que se acha maravilhosa demais para cumprimentar e dar um sorriso ao porteiro e à manicure. É para ter menos gente se achando demais porque tem dinheiro e desfila pela cidade com um carrão do ano e uma cara de quem comeu bosta e não escovou os dentes.
 
 Para ter menos gente empertigada, de nariz empinado como se tivesse sentindo cheiro de pum, só porque está vestindo uma roupinha de grife e se acha a tal porque seguiu à risca todos os protocolos sociais como decorar a casa como as revistinhas ensinaram e acreditam sinceramente que a idoneidade de um profissional se percebe pela gola alta da blusa  e o sorriso amarelo de bosta , sugerindo uma amistosidade fake como todas as relações que a pessoa vai estabelecendo para se auto afirmar. 
 
Para ter menos gente que tem  surto psicótico se não pode comprar  a bolsa X ou sapato Y.  Para ter menos gente que prefere sapatos a livros. Para ter menos gente  que  acha que filme de arte é feito por doente mental e que acredita firmemente que seu "refinado" gosto pessoal é palavra de ordem.
Para ter menos gente que acha que uma conta bancária cheia de dinheiro compensa uma cabeça vazia.
 
Para ter menos gente que tenta compensar suas mancadas e gafes dando presentes em vez de pedir desculpas. Para ter menos gente que passa a vida sem se entender e projetando as suas pirações nos outros.
 
Sim, cansei de ouvir este tipo de pergunta desdenhosa. Cansei desta hierarquização ridícula entre os saberes e as habilidades.  Por que o mercado financeiro seria mais importante do que a Filosofia? Por que filmes enlatados seriam melhores do que os de arte? Por que ser intelectual é menos importante do que ter o traseiro duro? Por que uma roupa define alguém mais do que suas ideias?
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sobre preconceito: desculpa cara , mas o problema está com quem sente

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Ok. Preconceito é como peido. Em algum momento ou outro, a gente solta um. Mas seguindo a dinâmica do peido, é preferível soltá-los na privacidade do lar , de forma solitária e contemplativa.
 
Se não podemos evitar achar alguém ou um grupo social menos do que a gente, que guardemos este sentimento flatulento para nós. Melhor ainda: que antes de trancá-lo no coração como quem esconde uma joia caríssima , pare para pensar se o preconceito faz sentido. Não gostar e não concordar com determinadas condutas é uma coisa. Julgar o que não se conhece é outra.
 
Optar por um estilo de vida é uma coisa. Achar que quem optou por outro estilo é inferior é outra. Sim, admito que tenho meus preconceitos como todo ser humano com suas baixezas. Porém, não os alimento com frutas orgânicas nem filé mignon. Deixo-os passando fome, morrendo lentamente à mingua. Digo mais: apenas um recebe umas torradas com manteiga e geleia: o preconceito que sinto por quem tem preconceito em relação a tudo e a todos. Não gostar de X ou Y , ainda vai. De repente o sujeito ou sujeita namorou alguém daquele grupo social, levou um pé na bunda e pegou nojo. Dá para entender embora seja contra generalizações.
 
Por outro lado tem gente que não suporta ninguém, que julga a todos como se fosse o ban ban ban. Porque tal raça é menos inteligente , por aquela outra é preguiçosa, porque quem nasceu naquele estado é mentiroso e quem nasceu naquele outro tem um nariz torto...e quem tem outra religião é ingênuo ou burro e quem não tem nenhuma não é digno de confiança....ai!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
 
Até quando precisaremos dizer que todos nós fazemos parte da raça humana? Ninguém é obrigado a amar de paixão nada, mas se sentir superior e jogar isso na cara dos outros é uma merda. Mais do que isso. É inteligência limitada. É caso de saúde mental grave. Deveriam classificar uma nova categoria de fobia: a babaquicefobia. Sim, sou babacofóbica. Tenho horror de babacas. Sinto uma vontade quase que incontrolóvel de mandar a todos tomar naquele lugarzinho quente e íntimo....só não faço isso porque muitos na verdade gostariam e são tão amargos e chatos porque não tem coragem de tomar.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve na Obvious regularmente. Viciada em café , chocolate , vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Que me perdoem os pasteurizados, mas irreverência é fundamental

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que postos artigos politicamente incorretos sobre minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
Em um mundo tediosamente pasteurizado, infestado de senso comum e futilidade sem imaginação ( prefiro os psicóticos aos fúteis. São muito mais criativos. Fúteis me dão vontade de ser psicótica para perder o contato com o mundo real) um pouco de irreverência é fundamental.
 
A gente coloca a vida no piloto automático e de repente chega alguém e diz algo inusitado. Faz uma piada politicamente incorreta, afirma gostar de alguma coisa que quase ninguém gosta ou simplesmente nos olha com aquela cara transbordante de inteligência.
 
Está cada vez mais raro trombar com expressões inteligentes e frases irreverentes ou qualquer outra coisa que vá além do tudo de bom.
 
Precisamos de mais sorrisos assimétricos, de mais olhos brilhantes, de mais opiniões fundamentadas , de mais leitores compulsivos, de mais gente que vibra diante de um filme de arte e fica com os pelos do genital eriçados ao ouvir uma música clássica.
 
Precisamos de mais filósofos natos, de mais poetas de alma,  de mais escultores da realidade, de mais gente compondo melodias novas para o futuro. Precisamos de mais gente impulsiva , que diz o que sente sem desviar os olhos dos olhos da alma. Precisamos de mais idealistas , de mais gente que manda os idiotas irem à merda. Precisamos de mais momentos de alegria e de menos preconceitos, de menos regras, de menos protocolos , de menos cores da moda. Precisamos consumir mais ideais e ideias.
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A droga de ser minoria

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Existe toda uma aura, um certo savoir faire nas minorias. Naqueles que tem um gosto mais raro. Cascata. É uma droga ser minoria. Hoje está fazendo um calor desértico e eu não vejo mau humor no rosto das pessoas por causa disso. E além de me irritar com este clima sufocante, eu não posso me consolar me identificando com as pessoas. Ok. Conheço algumas pessoas que também dariam um tiro no calor, mas elas fazem parte de uma minoria que daria 5 anos de suas vidas para transpirarem alguns litros a menos.

Enquanto digito este texto com um dedo só e a brisa morna do ventilador na minha nuca , sou obrigada a ouvir uma série de músicas lindíssimas que vem da obra social da Igreja. Sou super favorável a todo tipo de trabalho voluntário e eu mesma já realizei muitos. Mas convenhamos? Para ajudar alguns , é realmente preciso entupir os ouvidos de outros com dejetos em estado sonoro? Não são os vizinhos da igreja filhos de Deus também? Se colocassem um Chopin nas alturas , eu ficaria de boa, mas...ah! Me lembrei! Sou minoria que não dorme ouvindo música clássica e Bossa Nova.

Encontrar alguém que prefira falar sobre filosofia ou arte ou política  hoje em dia é mais importante para mim do que ganhar na loteria porque já não suporto o enfoque que as mídias e as pessoas dão para grifes, o dia a dia das celebridades , dietas insanas, como subcelebridades jogam dinheiro fora enquanto milhares de pessoas passam fome e quantos  mililitros de silicone elas colocam em cada protuberância do corpo. Acho que também sou minoria ao pensar que grande parte das mulheres que recorre a cirurgiões plásticos, deveria procurar um psiquiatra.  E falo isso sem nenhuma maledicência pois acredito que a maioria de nós precisa de ajuda médica para cuidar da nossa saúde mental em algum momento da vida.

Artistas de peso , pessoas que merecem serem chamadas de artistas, afirmam preferir mil vezes falarem sobre seu trabalho do que sobre seu creme dental e marca de absorvente íntimo. Artista que é artista quer falar da peça que está montando, do filme que está dirigindo, quer falar das suas motivações e paradigmas intelectuais e estéticos. Não quer falar quantas vezes transa por semana nem quantas abdominais faz para ficar com a barriga tanquinho. Também não fazem sensacionalismo a respeito da festinha de aniversário dos filhos e do final de semana na praia.

Para sair tanta notícia sobre finais de semana de subcelebridades , dá para imaginar que a maioria realmente consuma este tipo de informação enriquecedora.  E mais uma vez eu penso. Que droga ser minoria. Que droga não ter muita gente para trocar ideias sobre bons filmes e livros. Que droga criticar o consumismo enquanto as pessoas me olham como se eu tivesse chapada e sociedade de consumo fosse um debate sobre o sexo dos anjos.  Que droga ser de um país em que professores fazem parte da ralé da sociedade porque tudo o que se deseja por aqui é que todo mundo fique bobo mesmo.

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.










Sobre o indizível

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Sim, caro leitor. As nossas grandes verdades são indizíveis. São aqueles sentimentos represados com jeitão de arte abstrata. A gente olha de um lado, olha do outo, se abaixa , joga luz em cima, levanta algumas possibilidades , mas não sabe qual delas levar para casa e imprimir no coração.


A gente cria fórmulas, busca estratégias, evita caminhos para desviar de antigas armadilhas, de receitas que não funcionaram, de modelos que ficaram apertados ou largos demais em nós. A gente foge das possibilidades que deram alergia e  provocaram um gosto amargo na alma.


Mas às vezes fugindo, caímos nas velhas armadilhas e a pele da alma volta a entrar em erupção. E a gente percebe que lá no fundo  queria  pegar o mesmo enganoso atalho que desemboca no abismo.


Despencar é lento e profundo. Ninguém é o mesmo depois de deixar-se levar por uma queda livre. Perder-se é a mais louca e sincera forma de se encontrar.  
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Que Deus me livre dos normalpatas

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



Ok. Você deve estar pensando que eu estou brincando ou falando alguma maluquice. Normalpata? What? Sim, normalpata foi uma expressão usada pelo psicanalista Christian Dunker para se referir às pessoas completamente adequadas à vida social.



Normalmente pouco imaginativas e com vidas mais previsíveis, sem desencontros, estas pessoas podem padecer de um mal muito complicado: uma vida chata.



Normalpatas não questionam ordens abusivas, acham que o mundo é como é e não há nada a se fazer, respeitam cegamente hierarquias, adotam numa boa os valores da moda, fazem suas escolhas baseados na opinião alheia, supervalorizam o que pega bem socialmente , usam máscaras para se defenderem e se enquadrarem na sociedade, vivem como lhes disseram que a vida deve ser vivida, passam pelo mundo sem tocar e serem tocados. Que Deus me livre dos normalpatas pois eles sabem como ninguém deixar alguém doente.



Não quero dizer que é preciso ser um bipolar , um esquizofrênico ou depressivo para ter uma vida significativa e expressiva.  Mas adequação social em excesso, conformismo em excesso, subserviência aos sistema em excesso e nada de drama , de sentimentos à flor da pele, de perda e desencontro empobrecem a vida íntima do sujeito que passa a transitar pelo mundo de forma robótica , sem passos inusitados e sem brilho nos olhos. Não há nada mais triste que alguém sem brilho e uma pitada de amargura nos olhos. Que Deus me livre dos normalpatas com seus afetos frios e sorrisos desdenhosos.



Muitos se chocam e até mesmo se escandalizam quando sabem que um amigo ou colega toma antidepressivos ou qualquer outra medicação psiquiátrica.  Mas poucos se chocam com a frieza e falta de sensibilidade em que muitos estão imersos. Poucos percebem que o mundo e a vida social são lugares bem loucos, cheio de pessoas engessadas em uniformes da moda e máscaras sociais, negando o que mais desejam e pegando para si o que mais detestam em nome do status, do lucro, de uma pseudo aceitação. Que Deus me livre dos normalpatas que tudo entendem sobre protocolos, mas nada sobre o amor.
 
Eu fico com a autenticidade e o cinismo sadio dos loucos, o cinismo poético dos que amam ou amaram demais, dos que aprenderam à custa de muita porrada na cara que a vida é dura, implacável e linda de uma maneira bizarra e grotesca. Que Deus me livre dos normalpatas que preferem moda e etiqueta social  à arte e à filosofia.
 
Eu fico com aqueles que não temem ser o que são, que não temem assumir seus vícios, suas dores, seus gostos, seus gozos. Eu fico com aqueles que me olham nos olhos sem medo de admitir que estão apavorados ou consumidos por qualquer emoção.  Eu fico com aqueles que se admitem sós mesmo no meio de uma multidão ou logo após "fazer amor"com o corpo nu e alma vaga sobre a cama profanada. Eu fico com as chagas, com as feridas abertas, com os cuspes na cara. Que Deus me livre dos normalpatas.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Disfarces

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Dia a dia descubro esta pequena vilã que se espreguiça em meu peito. De língua solta e olhos brilhantes, dispara poesia num mundo empacotado. Que ousa dizer o que pensa mesmo conhecendo o fel de suas palavras. Que se cansou de ser simplesmente a bem educada. O mundo é cheio de possibilidades.
 
Se tiver que me embriagar que seja com o vinho da lucidez.  Perder a sobriedade é indolor. Mais do que isso. Quase um gozo lento. Doloroso é manter -se atento, olhos abertos, alma vigilante, boca devorando falácias e vomitando horrendas verdades...se é que elas existem. Então, me contento com as verdades que vejo por meio de seus olhos um pouco injetados pela emoção.
 
Compartilhamos nosso jeito meio estranho de ver o mundo e o feio se faz belo. Encontramos um sentido qualquer na cumplicidade que se estabelece e minha voz embarga um pouco...quero chorar. Um choro de alívio. Jogo para fora dores represadas. Me faço eu mesma em nossa cumplicidade e principalmente no encontro comigo mesma.
 
Arranco mais uma máscara e não me horrorizo. Pelo contrário.  É preciso indignar-se, revoltar-se. É preciso extrapolar as barreiras do próprio medo, do insano, para se perceber sano. É preciso se virar do avesso, rasgar a pele da alma para ser alguém de carne e osso.
 
Nenhuma filosofia abraça o que sinto. Então abraço todas. E faço um bem bolado entre fé , bondade, veneno e inteligência e crio a minha estética do transcendente.
 
É preciso romper, ir além. É preciso ir além do gozo, da memória, do esquecimento. É preciso esquecer-se do que inventamos para se encontrar consigo mesmo. 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. É viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

sábado, 12 de setembro de 2015

Uma dose de veneno, please!


Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Olho pela janela que dá para o meu pátio interno, meu jardinzinho particular, cheio de rosas vermelhas e viçosas e algumas ervas daninhas também. Olho e me pergunto por que devo eu amar meus inimigos.  Seria eu por acaso alguma masoquista? Não critico quem o seja até mesmo porque cada um faz o que bem entende e se levar porrada na cara e fazer preces por quem nos trucidou causa algum tipo bizarro de prazer, o que tenho eu com isso?
Cansei das fórmulas fechadas, das frases prontas.  Cansei da hipocrisia , das respostas na ponta da língua, desprovidas de qualquer relativização ou senso crítico. Cansei da simplificação da vida. Com pensamento positivo consegue-se tudo, até ir à lua por meio de uma flatulência. Ditados populares são igualmente terríveis. Não representam a sabedoria popular. É um brinde ao senso comum. Quer dizer, boa parte deles.
Deus ajuda quem cedo madruga. Quem disse que levantar cedo e dar um duro danado é garantia de algo?
Roupa suja se lava em casa. Às vezes é preciso lavar no meio da rua mesmo, sem pudor e sem papas na língua.
Dizei-me com quem andas, que eu lhe direis quem és. Frase detestável. Preconceituosa ao extremo. Cada macaco no seu galho. Me parece um convite à segregação.
Melhor um pássaro na mão do que dois voando. Se for um abutre que estiver pousado no meu braço, prefiro ver dois voando mesmo. Convite à modorra. Cautela nunca é demais. Mais um convite à modorra. Um convite implícito para não mexer com o poder.
A palavras loucas, orelhas moucas. O que seria loucura? Alguém poderia me definir? Alguém que trabalha em um lugar que odeia 12 horas por dia me parece bem louco. Cão que ladra não morde. Morde sim.  Falar é prata, calar é ouro. Concordo que às vezes não vale a pena falar mesmo dependendo da estreiteza de quem escuta. Mas dizer que o silêncio vale mais do que a fala...what? Depois da tormenta vem sempre a bonança. Bonança ou tédio?
De moeda em moeda se faz uma fortuna...estou rolando de rir!  Em boca fechada não entra mosca. Um belo convite à omissão. É melhor não cutucar a onça com vara curta? E se eu tiver dentes e garras mais afiadas  do que a tal onça? Não adianta chorar sobre o leite derramado. É , não adianta mesmo. Mas para desabafar é bom para cacete! Para não dizer outra palavrinha iniciada com a letra c.
Aprenda todas as regras e transgrida algumas. Gostei! Este é bem pouco famoso. Por que será? Antes causar inveja que dó. Com este concordo. Não há nada pior do que sentir ou ser alvo de dó. E como costumo dizer aos meus alunos, uma vida sem pelo menos um inimigo não tem a menor graça. Um brinde ao momento!
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. É viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Meus maiores medos

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
Não, não falarei da violência urbana de Sampa. Não falarei do medo de pegar o metrô vazio e ver alguém com olhos estranhos me olhando. Não falarei do medo de chegar na casa de alguém que tem um cachorro bravo, mas por achar seu Totó super mansinho o deixa solto. Falarei sobre o medo de passar pela vida sentindo gosto de café frio, de comida requentada, de feriado mal aproveitado, de sorriso amarelo diante da inexpressividade das pessoas.
Sim, grande parte das pessoas é inexpressiva. Quase todo mundo para não dizer todo mundo quer deixar sua marca na História, mas poucos, pouquíssimos pagam o alto preço de ser o que é.
Queremos amar , mas não sabemos nos entregar. Temos medo, vergonha , nojo de sermos manipulados pelas mãos e pela imaginação do outro. Nos trancamos em casulos de pseudo autossufência e sorrimos um sorriso de canto de boca, assimétrico e desdenhoso, fingindo para nós mesmos que a solidão tem suas vantagens. Fingindo para o mundo que finalmente captamos o segredo de não sofrer.
Queremos brilhar, mas ficamos horrorizados diante da luz e de tudo aquilo que ela nos traz. É doloroso ficar na berlinda , no proscênio da vida, no olho do furação. A mesma luz que nos faz brilhar, nos esbofeteia , fere os olhos, nos nocauteia, revela ao mundo todas as nossas falhas e excessos como uma lâmpada fluorescente sobre um quadro que precisa de retoques, com camadas mais grossas de tinta.
Queremos dizer e expressar , mas sem correr riscos.  Queremos ousar, mas sem quebrar regras. Queremos ir além parados no mesmo lugar quieto e frio da alma. Queremos gritar e gozar, mas  sem tocar e sem sermos tocados por ninguém, numa espécie de zona morta , ponto cego das emoções, em que nada acontece além do tédio.
Queremos ser nós mesmos, mas sem nos indignar , sem cuspir na cara do mundo que um monte de coisinhas da moda e consideradas “tudo de bom” nos dão nojo.
É preciso sorver até a última gota o vinho das emoções profundas. É preciso embebedar-se com a própria insanidade para enxergar a tudo com lucidez. É preciso ter muita coragem para experimentar os prazeres comezinhos da vida e amar um amor puro, sem mas nem poréns.
 
É preciso ser muito ingênuo para se atirar no mundo com o intuito de mudá-lo. É preciso derramar o próprio sangue e coração, oferecê-los numa bandeja de prata para ser alguém que deixa marcas. Ninguém fica impresso na História se não se deixar esfolar na alma.
Viver é a mais impudica e insolente das artes. É o mais escandaloso dos romances. O mais proibido dos livros. O mais impreciso e subversivo dos discursos. É preciso encarar e aceitar a própria sordidez para encontrar o que temos de mais belo e verdadeiro.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O essencial da vida


Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que  posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Cresci ouvindo que haviam três coisas que todo mundo deveria fazer: escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Das três só escrevi livros. Quantos livros precisamos escrever para equivaler a um filho? Para mim, as coisas essenciais são outras: cair de bunda no chão por ter bebido muito ( uma ou duas vezes na vida) Episódios bem esporádicos de bebedeira são lúdicos. Quando eles se tornam frequentes, a coisa fica perigosa e deprimente.
Morrer de tanta paixão até se tornar a menos pensante das criaturas ( uma ou duas vezes também) Apaixonar-se perdidamente uma ou duas vezes é romântico. Mais do que isso vira idiotice. E experimentar scargots. Para comer scargots não há uma quantidade ideal de vezes.  Se agradar ao paladar e o bolso permitir , este é um prazer inofensivo.
Me restringi a três itens para ser fiel à quantidade da lista original. Mas incluiria de bom grado tomar um banho de chuva, sair correndo pela rua de mão dada com uma amiga que detesta fazer exercício físico e contar uma piada quente numa roda masculina tímida só para ver o rubor dos rapazes.
 
Dizer eu te amo sem pudor , sem medo de parecer repetitivo. O amor é o maior dos clichês.  Entrar num projeto apenas pelo prazer e entabular um papo com um desconhecido carismático.  Contar quem você é sob o risco de ficar nas mãos de alguém e  deixar que os outros falem quem eles são. Não há nada mais lindo e milagroso do que uma confidência triste. Se tiver um jazz como pano de fundo, melhor ainda.
 
 
A vida é emoção. É o reflexo que vemos nos olhos do outro, é o calor da cumplicidade de um segredo, de um crime de amor.  É uma dança desajeitada entre dois amadores na arte de se entregar. É o gozo doído e doido de assumir quem se é, é fazer amor com nossa própria essência e entender que tudo é ilusão sem se magoar ou se ressentir.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate,  vinho barato,  filmes bizarros e pessoas profundas.