Não gosto de diminutivos. O melhor é grande e desgraçado

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Sim, não gosto de diminutivos. Como ouvi uma vez uma prima de primos dizer , a quem considero uma prima , "bonitinho" soa como feio arrumadinho.

Queridinho, amorzinho...soam como um amor menor para mim. Como diria Cazuza "o nosso amor a gente inventa pra se divertir".

Acho meigo quando me chamam de Silvinha, mas me sinto realmente enxergada quando me chamam de Sílvia.

Odeio também a expressão "boazinha". Ser boazinha é completamente diferente de ser uma boa pessoa.  Ser uma boa pessoa é uma virtude. Ser boazinha , é ser nada. Já que não se consegue ser nada , torna-se boazinha como um patético prêmio de consolação. Odeio engodos. Amores pela metade. Excesso de complacência para disfarçar a falta de uma admiração real.

Brinco com os meus alunos que é fundamental ter pelo menos um inimigo. Sim, não é o amor que nos impulsiona. Ninguém nos falará isso...pelo menos estando sóbrio.

Ter inimigos significa que você saiu da zona de conforto, que você incomoda.  Sim, é preciso ir para a linha de frente da vida se você não deseja ser um medíocre que colhe elogios sem fundamento por não ameaçar ninguém.

Meu primeiro amor , com quem vivi minhas maiores alegrias e tragédias ( os maiores amores são os mais desgraçados)  disse-me uma vez que diminutivos não combinavam comigo. Sorri internamente. Suas palavras me penetraram e gozei o meu mais profundo e devastador orgasmo.

Pessoas politicamente corretas dirão que amor nada tem a ver com desgraça...talvez , elas estejam certas , mas não me importo de sorver o vinho dos errados. Já amei e apanhei demais para me importar com este tipo de problema pequeno burguês.  E bati um pouquinho também...

Brinquei com ele , relembrando-o que tinha apenas 1,60 m de altura , quando falou que eu era um mulherão, que em mim tudo era grande.  Mas não me defino por minha altura. Me defino por tudo que sou. Pela dor e pelo amor que sou capaz de sentir. Pela paixão que os meus olhos podem refletir. Pela indignação que minha voz pode imprimir.  Sim, vivemos em tempos ocos onde ser chamada de bonitinha, queridinha pode ser considerado um grande elogio. Mas não me contento com tão pouco. Tudo que vale a pena é grande. E não pensem que estou fazendo uma piada erótica pois não estou.





 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.