sábado, 27 de fevereiro de 2016

Pizza assada em casa tem uma poesia a mais

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

 
 
 
Amo comer pizza assada em casa. Me faz lembrar de quando era criança. Gosto do cheiro que aquelas massas de pizza deixam na cozinha. Gosto de observar o vaporzinho na porta do forno.
 
A gente forra a massa com mussarela , depois coloca molho de tomate e vai botando o que vier à cabeça por cima: atum de lata, azeitonas inteiras e picadas, presunto , orégano, tomates em rodelas. A gente pode improvisar sabores na hora.
 
Mais do que a farra de montar as pizzas e o aconchego de vê-las assando, gosto daquele cheiro de coisa em família.
 
As pessoas sentadas ao redor da mesa, bebendo vinho, rindo das coisas mais tristes do mundo , revivendo dores antigas e grudadas na memória como queijo derretido preso à frigideira, em tom de piada.
 
Gosto do estar junto. Se for rindo ou chorando, não me importa muito. Gosto da conexão. Gosto de me sentir agregada às situações. E principalmente às pessoas.
 
Da minha vivência religiosa, uma das coisas que mais me marcou positivamente foi a questão da partilha, dos lanches comunitários, do se por a serviço.
 
Em festas de igreja ou em ambientes onde reinam o calor humano e a amizade, nunca falta comida boa e farta.  Cada um leva alguma coisa e normalmente leva o seu melhor: aquela torta que aprendeu a fazer com a avó ou aqueles croissants maravilhosos vendidos numa padaria cara.
 
Tem gente que nem costuma cozinhar e nestes dias se arrisca: mistura alguns ingredientes improvisando um patê caseiro, generosamente distribuído em fatias de pão de forma. Sempre tem alguém que leva um bolinho de chocolate ou brigadeiros ou cookies com gotas de chocolate...que aconchego...
 
Gosto também daqueles panos de prato quadriculados forrando uma assadeira com pedaços apetitosos de torta ou aquele bolo de cenoura bem molhado.
 
No carinho com que as pessoas ofertam os seus quitutes, sentimos um pouco mais delas. É como olhar nos olhos de uma pessoa com quem a gente convive há séculos e de repente ver um brilho a mais: misterioso e revelador.
 
Sim, gosto de cheiro de pizza assada em casa. Gosto de cheiro de bolo assado em casa, café recém-coado, bife na chapa. Gosto principalmente do calor que todos estes cheiros representam.
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 
 






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