quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A mulher do lado e a magia do cinema

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Quando tinha quase 22 anos de idade , fui assistir ao filme francês "A mulher do lado" no extinto Top Cine, no shopping Top center. Gostava de ir àquele cinema, pois passava filmes mais alternativos e cult. Foi lá também que meses mais tarde, vi "Repulsa ao sexo" de Polanski acompanhada por um namorado que não conseguia entender que aquele filme eu realmente queria ver e ficava tentando me beijar, o que me deixou furiosa internamente, embora tenha sublimado a minha indignação.
 
Mas voltando ao filme "A mulher do lado", eu o assisti com a minha mãe. Ao sairmos da sala de projeção, foi muito engraçado. Nós duas, ao mesmo tempo, soltamos frases completamente opostas.
 
Enquanto minha mãe disse "Quanta loucura!", eu exclamei "Que filme maravilhoso!" ou algo do gênero. Sim, minha mãe estava certa. "A mulher do lado" é um filme sobre o amor fou. Mas ainda hoje, depois de assisti-lo muitas vezes em dvd, continuo o achando maravilhoso.
 
Fanny Ardant , esposa de Truffaut , diretor do filme, estava estonteante na pele de uma mulher extremamente passional que viveu sob controle durante alguns anos. Durante os anos em que se manteve longe de seu ex-amante e amado.
 
O ex-amante e amado não é ninguém mais nem menos do que o visceral Gerard Depardieu. Ele consegue reunir caracteres ingênuos e brutais ao mesmo tempo, tornando-o uma ótima opção para encarnar tipos heroicos.  Todo herói é valoroso e um pouco ridículo ao mesmo tempo. Principalmente se a causa do herói for o amor.
 
Quando vi "A mulher do lado" pela primeira vez, no cinema, fiquei inebriada com uma cena em que a personagem de Fanny Ardant desmaia de emoção ao reencontrar o amado após 8 anos.  Sua queda é tão orgânica que quase me senti cair junto com ela, mergulhada em minhas próprias lembranças e emoções maltratadas.
 
Duas garotas sentadas ao meu lado no cinema começaram a rir diante do desmaio. Nunca me esqueci disso. Elas provavelmente não conheciam as maiores alegrias e as piores tristezas do amor.  Se a vida tivesse as marcado com o amor , elas entenderiam e sentiriam que aquele desmaio não era engraçado.  Aquele desmaio era uma metáfora da trágica condição humana. Era uma metáfora de tudo aquilo que poderia ter sido e não foi e de tudo aquilo que não poderia ter sido mesmo se tivesse acontecido.
 
Os personagens de Ardant e Depardieu não conseguiam viver separados nem juntos.  Quantos casais na vida real não passam por isso? Quantos casais não precisam optar entre a tranquilidade vazia de uma vida sem o amado ou amada e o desespero de uma vivência amorosa insuportável?
 
Cada vez mais me sinto mais apaixonada pelo cinema embora nosso casamento seja longo ( quase vinte anos) Sim, eu sei. Já deveríamos ter caído na rotina e fazer amor apenas uma vez por mês. Mas não...ainda me sinto ruborizar e tremer quando um filme me toca e me olha nos olhos. Ainda sinto desejo por meu companheiro de longa data. Ainda sinto que ele tem algo a me dizer.
 
 
 
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 







 




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