sábado, 6 de fevereiro de 2016

Durmo vendo filmes de terror

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Não sei explicar bem o porquê, mas acho muito aconchegante assistir a filmes de terror. Filmes de terror, não de horror, vale ressaltar. Se o tempo estiver friozinho e cinzento melhor ainda. Combina mais com a minha alma de poeta. Mas se estiver calor e o sol brilhar , não há problema. Fecho a veneziana do quarto, produzo o meu friozinho com ventilador e crio o meu mundinho aconchegante em poucos instantes.  
 
Gosto muito dos clássicos. Confesso que estes filmes modernosos me exasperam. Muito sangue, muito efeito especial, muita nojeira , mas pouco ou nenhum mistério. Gosto bastante de muitos filmes inspirados nos livros de Stephen King e outros bem famosos como O exorcista e A profecia. Ok.Ok.Ok. O exorcista é mega nojento ( não sei como consigo ainda tomar vitamina de abacate com boca boa depois de ter visto tantas vezes este filme RS), mas de qualquer forma , ele abre portas da mente para o mistério.
 
Da última vez que vi este filme foi com o meu ex noivo e ele não parava de fazer barulhos estranhos no meu ouvido, imitando a tal menina possuída. Ele considerou o filme ridículo e eu me dividi entre a irritação por ver um clássico diminuído e uma louca vontade de rir diante da sua performance que fazia sentido.  Finalmente , com amigos em comum , eu disse num misto de riso forçado e falsa reprovação: "See horror movie with him is a big shit". 
 
Acho que ele me fez cócegas depois pois eu falei palavrão. Ele costumava fazer cócegas quando eu bancava a boca suja ou levantava o dedo do meio. Mas voltando aos clássicos do terror, tenho carinho especial por Carrie , a estranha ( versão de 1976) com a estupenda Sissy Spacek e O iluminado , dirigido por Stanley Kubrick.
 
Sinceramente , fico meio triste quando vejo Carrie , pois considero este filme mais um drama do que um terror. Acho lindo perceber como um garoto popular da escola, de repente, começa a se deixar enredar pelos encantos sutis de uma jovem meiga e tímida.  Sim, fico um pouco de bode depois de ver Carrie.
 
O iluminado, estranhamente, já me proporciona uma profunda sensação de aconchego. Ok.Ok.Ok. O filme é assustador pacas. Mas sei lá. Olho para a cara do Jackson Nicholson e penso no Stephen King e não consigo levar a sério. Para mim, os dois são figuras extremamente carismáticas e familiares.
 
Quando vejo aquele bolo de páginas com as mesmas palavras , em diagramações diferentes, deveria ficar gelada de medo, mas só consigo achar graça e colocar uma batatinha frita na boca.
 
 
Sempre me lembro de um fim de tarde , começo de noite de domingo, bastante frio, em que me enfiei debaixo de um cobertor azul bem felpudo, que conservo da minha infância e zapeando descobri por acaso O iluminado passando. Assisti o filme pela milésima vez petiscando batatinhas fritas. Foi uma das sensações mais aconchegantes da minha vida. Embora tivesse o dvd do filme em casa , me encheu de prazer assisti-lo da TV. Senti-me atropelada por um golpe de sorte quando o controle remoto me conduziu acidentalmente ao O iluminado.
 
Sim, a nossa vida íntima é recheada de sensações particulares. Pode soar muito bizarro, mas O iluminado é sim um filme terno para mim. Não por seu conteúdo, mas porque ele abre qualquer porta dentro de mim que me conduz a um lado muito lúdico e perversamente infantil e ingênuo da minha natureza.


 


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 
 










Um comentário:

  1. Puts!!! Valeu mesmo por lembrar dessa semelhança da vitamina de abacate, rs! É nojento essa cena. Dizem que filme de terror é o melhor remédio pra passar a solidão. Pois, você nunca se sentirar sozinha depois dele, haha! Concordo com você em relação a Carrie, o filme é mais um drama do que terror. Tem momentos que a gente até torce pra ela se vingar, rs! Também não gosto muito desses filmes que tem muitos sangue e efeitos especiais, ficam patéticos.
    Os filmes que se baseiam em fatos reais são mais impressionantes. Porque sabemos que tudo aquilo realmente aconteceu. E isso é tenso! Você alguma vez já parou pra fazer uma análise sobre os personagens de filmes de terror? Como é imposto as características do personagem quando é um homem ou uma mulher?
    Quando é um homem ele se apresenta como um assassino, serial kiler, frio, psicopata que as vezes é o cara mais sedutor da trama.
    Já as mulheres aparentemente são as coitadas que por algum motivo se revoltam ou se transformam na bruxa, no monstro, no espírito possuidor que tenta manipular tudo.
    A conclusão que cheguei sobre isso é que quando o personagem é o homem ele é o seu seu próprio terror. Já a mulher é algo mais fantasiado e cinematográfico algo que a gente ver se assusta, mas, sabemos que é coisa de filme. Isso não quer dizer que as mulheres não podem ter as mesmas características deles. Claro que podem! Só que o que nos trás mais medo é saber que isso tudo é verdade. Que o homem pode ser o seu próprio filme de terror. Acho que deu pra me entender. Bjs!

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