sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Divagações insanas de uma poeta ou divagações poéticas de uma insana antes de dormir

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Termino mais um dia do jeito que os poetas se preparam para mais uma noite de insônia ou sono meia boca.

Escuto Let's stay together, fumando meu cigarro imaginário e olhando na direção da porta, como se tivesse marcado hora com alguém que não conheço. Como quem está  à espera de um encontro às cegas.

Sim, sei que os amores são imaginários, mas mesmo assim espero por ele como se tivéssemos marcado um encontro há milênios, antes de mim mesma.

Quando chegar, vou esbofeteá-lo pelo impertinente atraso. Odeio esperar.  Ele devia saber disso independente de quem seja. Depois vou servir uma taça de vinho, para mostrar que não sou tão rancorosa assim.

E se me chamar para dançar, aceitarei o convite, sem me importar de pisar em seus pés com a minha falta de jeito.  No amor , até os defeitos viram qualidade, charme , purpurina , glitter, encanto se dissolvendo na boca como as borbulhas de um champanhe gelado. Estourando na direção dos olhos como bolhas de sabão.

E como quem salta numa cama elástica, quero me entregar ao movimento, sem temer a queda. Quero sentir meus pés saindo do chão, golpeando o ar. Os mesmos pés que pisaram nos teus.  Quero sentir os meus pés golpeando o ar como a minha mão golpeou a face daquele que me fez procura-lo entre tantos rostos indigentes.

Terá que me beijar sobre as marcas dos lábios dos meus algozes.  Daqueles que imaginei ser você enquanto te esperava e insistia em se atrasar para valorizar a tua chegada.

Terá que ver e acariciar as cicatrizes invisíveis feitas na pele da alma por aqueles que me surraram enquanto eu te esperava e você fazia qualquer outra coisa. Se tivesse algum juízo, deveria colocar arsênico no teu vinho servido com o maior carinho e o mais meigo sorriso de canto de boca. Se tivesse...me deixo levar pela toada sexy e pseudo despretensiosa de Let's stay together.



Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 

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