segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Sobre as pequenas irritações do dia a dia

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

A vida é curiosa e estranha. Hoje estamos felizes, sorrindo por bobagem. Sorrindo porque podemos ver uma série do Netflix sem ninguém nos aborrecer. Porque podemos dormir uma hora a mais. 

Amanhã , estamos novamente felizes, mas por um motivo grandioso. Depois , ficamos tristes do nada ou por algum motivo grave.

Um dia , escrevo sobre o vazio de existir , sobre a tragédia de ser arremessado a um mundo caótico e sem sentido.  Um dia , escrevo sobre status quo, amores perdidos , ilusões vãs, egos dilacerados. 

Em outros , tudo que me vem à telha são as mesquinharias banais do dia a dia. É a ira sentida por quase cair da escada rolante do metrô porque um infeliz ficou teclando no celular e não percebeu que a escada acabou. É ...é bem por aí! Para terminar de ler uma mensagem, quase quebra o pescoço das pessoas que vem atrás. Mas o que são algumas vidas diante da necessidade de curtir a amiga brega fazendo selfie com uma micro saia e beicinho de cu, encostada no guarda-roupa?

Em dias como hoje sinto uma necessidade urgente e quase insana de destilar o meu veneno sobre aqueles que se apressam em entrar primeiramente no metrô e depois ficam abestalhados e paralisados como estátuas de cera sem saber em qual cadeira botar o bundão. Uma grande dúvida... Enquanto obstruem a nossa passagem, outras pessoas vão ocupando os lugares restantes. O mais irritante desta situação é que o cuzão indeciso , por estar numa posição privilegiada, normalmente pega um lugar depois de nos ter impedido de pegar .  Dá vontade de gritar: "Puta que pariu! Senta de uma vez! É só uma cadeira , não com quem você vai casar! Se bem que casamentos hoje em dia podem ser menos importantes do que a escolha de um assento...eu , por exemplo, adoro sentar na janelinha...piadas à parte. 

Em dias como hoje , sinto quase um desespero para criticar os infelizes que param à esquerda da escada rolante. No metrô , ou andam rapidamente demais , empurrando a todos ou se parecem lesmas com seus celulares. Ou ainda modelos desfilando pela passarela da vida.  Eu não entendo o porquê de pessoas perfeitamente saudáveis precisarem andar tão devagar... respeito muito quem precisa se locomover com dificuldade por motivos físicos , mas se arrastar porque não tem alteridade para seguir o fluxo é um grande saco. 

Se uma pessoa tem capacidade para teclar e andar ao mesmo tempo, ok. Se não tem, faça uma escolha: tecle ou ande.  Sim, a vida é feita de escolhas. E parece bem sensato escolher não ser um chato. 

Como sou limitada em termos de coordenação motora , opto por usar meu celular quando já estou com minha bunda devidamente instalada em um dos assentos não preferenciais ou agarrada a um dos postes para não ser jogada longe quando o metrô freia. 

Sim, sou ansiosa. Sim, sou estressada. Sou paulistana e perdemos horas no trânsito. Sim, grande parte de nossas vidas vai para o ralo e não há nada mais precioso do que o tempo. Estamos quase sempre no limite da paciência e quando perdemos um vagão porque alguém ficou no lugar errado da escada rolante ou quando somos obrigados a andar quase dez estações em pé , carregando peso ( não se esqueçam que precisamos levar guarda-chuva e agasalho todos os dias) o pouco da nossa cortesia vai por água abaixo. Grosseria? Diria , cansaço. Um profundo cansaço que pode ser quase tão trágico quanto às mais intricadas questões da alma. 








 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Cinema dica louca

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Ok.Ok.Ok. Este espaço é reservado para as minhas reflexões insanas , meus delírios poéticos a respeito da vida. 
 
Mas como toda transgressora incorrigível, vou trair minha própria proposta e falar um pouquinho sobre o meu novo canal no Youtube.
 
 
Estreou esta semana o canal Sílvia Marques Garota desbocada com o programa Cinema dica louca. Vídeos de um minuto: tempo suficiente para indicar um filme fodástico sem encher o saco de ninguém.
 
Escolho filmes que apresentam alguma relação com a Psicologia ou com a Psicanálise. É ...é isso mesmo. Escolho filmes com psicóticos , histéricos , psicopatas e muito mais.
 
Lá vão os vídeos! Tentem não dormir pois sou uma garota sensível.
 
 
 
 
 

 

 
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 



Epifania com gosto de champanhe sem borbulha

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Rio sozinha. Rio para mim mesma. Comigo mesma. Pego o último metrô. Vejo uma cadeira vazia , mas não me sento. 

Estou cansada. Muito cansada. As emoções esgarçadas, mas preciso ficar em pé. Me sentir plantada na realidade. Mesmo que seja uma realidade imaginária. Mesmo que seja uma realidade gritante em tons vivos de laranja e outros libidinosos de vermelho. 

Sim, precisamos das mentiras descaradas que inventamos e das outras contadas sensualmente ao pé do ouvido. Sim, precisamos das nossas meias verdades também, iluminadas sob a farsante luz de um abajur mixuruca que esconde deliberadamente as marcas do tempo. 

Estou cansada. Muito cansada de desenredar o destino. De juntar as partes arrebentadas de uma fina combinação. Quase fico nua por preguiça, por tédio. Deixo que me beije para me sentir inteira. 

As pernas doem e os pés incham dentro dos sapatos simples e baratos. O brinco vermelho numa única orelha me dá alguma distinção. Sou única na multidão. Sou eu mesma no meu bizarro mundo de melancólico êxtase.

Estou cansada , mas sorrio . Sorrio internamente. Lembro do champanhe bebido na véspera. A garrafa abandonada no canto do chão da cozinha. Estava meio morno. Não esperamos para que esfriasse o bastante. Temos fome de vida. E de morte. Tudo junto e misturado. 

No final ficou sem borbulha. No final seu gosto se perdeu em minha boca. E na sua , o meu mundo diluiu-se debilmente , sem forças para querer nada além de mais uma taça de champanhe, mais nada além daquilo que é...



Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 



domingo, 20 de novembro de 2016

Lá no fundo...

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Lá no fundo, somos para sempre meninas mimadas , com o salto quebrado, o rímel borrado porque não fomos amadas o bastante.
 
Lá no fundo , somos para sempre aquele rosto triste , de lábios entreabertos e olhos lacrimejantes que olham através da janela. Que olham tudo aquilo que queremos e que não podemos ter.
 
Lá no fundo, somos para sempre um coração partido, que arde diante de tudo que poderia ter sido e não foi.
 
Lá no fundo, somos para sempre um par de pernas cansadas de correr atrás de sonhos que nunca se transformarão em realidade.
 
Lá no fundo, nunca somos amados o bastante. Lá no fundo, nunca somos nós mesmos o bastante. Lá no fundo, balbuciamos para sempre a palavra bastante , imaginando o inimaginável.
 
 
 

 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 

sábado, 19 de novembro de 2016

Amor cotidiano tem gosto de comida esquentada no micro-ondas

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Os poetas falam sobre o amor ideal. Beijos interrompidos em noites de chuva imaginária. Violinos tocando ao pé da alma , um desejo urgente de ficar , manter os dedos entrelaçados , as almas em comunhão.

Uma necessidade cruel de partir . Entrar no vagão do metrô, dar uma última olhada melancólica para trás. Abandonar-se num banco vazio e suspirar diante das lembranças tépidas de tudo aquilo que não aconteceu.

Os filósofos tentam decifrar o amor , racionalizá-lo, arrancar a sua seiva , a sua essência , jogá-lo na mesa com outros nobres conceitos sem a quentura branda da cama dos amantes.

Os psicanalistas sorriem um sorriso de canto de boca quando falam sobre o amor...

Sim, o amor parece ideal quando não se pode ficar junto. Altos e nobres valores. Juras insanas. Em tom de prece , falamos a nós mesmos sobre a sacralidade daquele sentimento que corroí o peito como ratinhos travessos.

Mas o amor é cotidiano e banal. O amor tem gosto de comida esquentada no micro-ondas , louça suja sobre a pia. Um lava e o outro enxuga.

O amor tem gosto de café tomado às pressas, entre bocejos. Tem textura de lençol amarfanhado depois de uma noite compartilhada cheia de sono e um carinho profundo. Tem gosto de sexo meio lúdico. Ai, amor, aí eu sinto cócegas!

Tem gosto de contas a pagar se acumulando na mesinha de cabeceira. Tem gosto de geladeira vazia. Vamos ao supermercado, amor?

No início, somos intelectuais , profundos, cheios de frases de efeito, olhares enviesados , sorrisos de canto de boca. Diz-se algo niilista e depois um gole breve no copo da cerveja. O outro suspira. Falamos sobre autores famosos , todos os filmes cult que vimos , até citamos algum pensamento literalmente....que memória! Mais um gole na cerveja ou no vinho. Mais um suspiro. Lontras se exibindo. Melhores perfumes , a roupa que cai mais ajeitada.

Depois , o amor vira passar a tarde vendo série americana dublada. É , não basta passar a tarde vendo série...é preciso vê-la dublada pois a gente quer ver deitado e fica mais simples ouvir do que ler e de repente a gente cai no sono e respira de boca aberta porque comeu muito Yakosoba e bebeu muito frisante sem gás no almoço.  O rolinho primavera também estava meio gorduroso e a gente levantou cedo e a gente deixou o outro ver que lá no fundo a gente é operário.  Me passa mais um pouco do molho agridoce, amor?

A gente ganha peso, usa calcinha de algodão...peraí...ainda não cheguei nesta fase. A gente sente vontade de ver  um bom terror adolescente comendo batatinha frita sabor creme de alho sobre os lençóis amarfanhados da noite passada. 

A gente assume que é meio bobo, que lá no fundo a gente acredita sim no amor. E que é bom ficar junto, que é bom simplesmente ficar deitado vendo alguma coisa qualquer. A louça se acumulando sobre a pia. Uma hora a gente sabe que vai até a cozinha e resolve este problema junto. Amor, faltou lavar aquele prato.

 

 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 










quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Irremediável é a dor da existência

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Sinto-me cansada. Como diria Coco Chanel, em alguns dias , me sinto com 15 anos. Em outros , com 200. 

Algumas emoções são tão repetitivas e insuportáveis... O que mais nos machuca é o que nos define. O que mais nos machuca é onde se encontra a nossa identidade , a nossa caixa preta , a nossa senha que abrirá os cofres da alma. 

Algumas emoções já estão desbotadas de tão antigas. Esgarçadas de tão usadas. O tecido se parte mil vezes e a gente se põe a remendar. Perda de tempo...

Só quero aceitar que carregarei este buraco na alma...quero que o sangue jorre sem me importar , sem me dar conta, sem dar conta de tudo que eu já expeli e perdi. 

Quero assumir a partida perdida. Quero gozar do sonho dos derrotados.  Deitar-me sobre meus escombros e sorrir meu sorriso de canto de boca, meio sexy, meio louco...digo verdades insanas...ninguém acredita em mim. Um ou dois olhares complacentes. 

Quero assumir quem sou sem maquiagem. Os olhos irreverentes e tristes. Esta tristeza que me consome...falo, mas não sou entendida. Quero parar de falar. Estou cansada.  Prefiro continuar no proscênio apenas fazendo gestos. Prefiro ficar no proscênio mesmo quando desligarem as luzes e fecharem as cortinas.

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 










terça-feira, 8 de novembro de 2016

Foda-se se algumas coisas não dão certo


 
Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Foda-se se certas coisas não dão certo. Foda-se se algumas teclas da nossa psique estão quebradas. Foda-se se algumas situações e pessoas sempre vão gerar mal estar em nós. 

Quando aprendemos a nos conhecer melhor e mergulhamos sem temores em nossos fantasmas, descobrimos uma coisa interessante , bem interessante: nem todas as feridas se fecham. Nem todas as cicatrizes desaparecem. Algumas situações sempre vão nos irritar. Algumas pessoas sempre vão trazer à tona o nosso pior. Algumas coisas estão estragadas e nada no mundo vai consertá-las. 

Mas a boa notícia é que não há mal algum nisso. Admitir para si mesmo os pontos negativos, as lacunas, as teclas quebradas, a ansiedade e a angústia que determinados comportamentos nos provocam é reconhecer que somos limitados, imperfeitos e que não podemos superar nem aceitar tudo com um sorriso plácido. 

Infelizmente , estamos na Era da autoajuda e somos obrigados a sermos felizes full time. Somos obrigados a banir qualquer sentimento que não seja bonitinho e agradecer aos céus até quando pisamos num cocozão de cachorro e tiram onda com a cara da gente. 

Não digo que seja bom alimentar sentimentos mesquinhos. Não, não é! Não digo que seja bacana reclamar da vida o tempo todo. É um saco gente que só reclama.  Mas também não somos obrigados a ficar felizes o tempo todo. Não somos obrigados a  ficar batendo palminhas para pessoas escrotas. 

Não somos obrigados a justificar as cagadas de gente autocentrada que só faz merda porque não consegue enxergar nada além dos limites do próprio umbigo. Não somos obrigados a perdoar infinitas vezes pessoas que cometem os mesmos erros sem se importarem se estão magoando ou não os outros. 

Sim, nem todos os traumas são superados. Algumas relações serão sempre difíceis. Algumas pessoas sempre vão trazer à tona lembranças tristes. Algumas pessoas sempre vão nos fazer pensar em coisas tristes por meio de suas atitudes displicentes ou arrogantes. Mais uma vez , eu digo: não há problema algum nisso. 

Viver é isso mesmo. É equilibrar-se entre os escombros que vão se formando durante o nosso caminho, com uma dose cavalar de senso de humor mesclada a um profundo senso de realidade. 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 




 


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.