sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Somos todos fraudes

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
 
Como diria Caetano Veloso, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. E cada um conhece o caminho que percorreu até chegar a determinados lugares. E cada um sabe realmente o preço que pagou pelas palavras que disse ou que deixou de dizer.

Cada um sabe com que dor ou com  que facilidade deixou alguém para trás. Cada um sabe o quanto custa perseguir um sonho e o quanto pesa abandoná-lo. Sim, existe força e beleza nos corpos que se atracam afetivamente. Mas também existe beleza e uma força insuportável em saber dizer adeus, em saber deixar passar.
 
Ficar ou caminhar, lembrar ou esquecer, talvez, sejam faces da mesma moeda e a mesma boca que beija, é a que diz adeus e existe encanto em tudo. Talvez tudo isso que eu diga não passe de poesia barata escrita num fim de tarde calorento e cheio de tédio. Talvez acreditemos demais na força das nossas experiências. Talvez nos levemos muito a sério. Talvez tudo seja muito sério mesmo.
Mas uma pergunta insiste em martelar em minha cabeça: somos todos fraudes?
 
Depois de um copo de vinho tinto, um copo grande, ao som de I will survive ou Never can say goodbye tudo parece fazer sentido e eu me sinto uma escritora e tanto e uma mulher e tanto e tudo que eu quiser e tanto. E ninguém amou mais e melhor do que eu. E ninguém quebrou a cara em mais pedaços do que eu.
 
Mas existe algo de ridículo e frívolo quando avisto meu rosto junto com os outros nos perfis de escritores. Existe algo tão deprimentemente narcísico. Cada um expondo suas verdades, o resultado de suas reflexões, as lições extraídas das porradas na cara.  É tudo tão lindo e bobo ao mesmo tempo. E aí eu me pergunto: Quem sou eu para ensinar alguma coisa? Quem somos nós para ensinarmos qualquer coisa?  Será que aprendemos algo de fato ou apenas customizamos os velhos erros para ficarem com uma carinha repaginada e termos a ilusão de que a dor nos ensinou algo de útil?
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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