segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Uma vida sem vícios é uma vida insuportável

Garota desbocada é um espaço esteticamente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
Sou mulher de muitos vícios. Ouço música todos os dias. Enquanto escrevo este texto escuto um sucesso dos anos 1980 bebendo água mineral para fingir que cuido da saúde. Por mais lúcido e sincero que alguém seja, algumas mentirinhas apimentam a vida.
 
Sou viciada em ver filmes, comer coisas gostosas, escrever, tomar cerveja com os alunos e suspirar desfalecida de prazer diante de um dia cinzento.
 
Sou viciada na sensação lasciva do chocolate derretendo devagar na boca. Sou viciada em abraçar forte e falar besteira, fazer filosofia e rir de mim mesma.
 
Sou viciada em emoção. Então, quando tudo fica muito calmo e organizado e eu finalmente acho que "amadureci" ( leia-se: virei uma chata conformada bunda mole) algo acontece para bagunçar tudo de novo.
 
Sou viciada em pegar no sono vendo filme de terror e acreditar que sou importante para as pessoas que amo. Sou viciada em vasculhar os labirintos da minha alma em busca de mim mesma.  E não há nada mais bonito e verdadeiro do que se encontrar no porão ou no esgoto ou no submundo do inconsciente.
 
Atualmente, estou me viciando também nos textos da Tati Bernardi e do Gregório Duvivier. E foi inspirada no último texto da Tati Bernardi que me deu uma vontade louca, quase incontrolável e histérica de fazer um texto bem maldoso.
 
Resolvi fazer uma listinha bem escrota no formato paródia de autoajuda para tirar um sarro e quebrar a monotonia de uma segunda-feira em que não dou aula.
 
Os maiores lemas e erros da mulher idiota
 
1. Colocar o homem no centro da sua vida como uma espécie de Messias que vai te salvar do tédio da vida ( fiz isso por 37 anos)
 
2. Acreditar que uma bunda dura e uns peitinhos siliconados são determinantes para te tornar uma pessoa interessante e desejável.  Corpo bem cuidado e gostosinho é bom demais, mas não é tudo. Não é nem a metade.
 
3. Acreditar que por ser malhada e bonita, pode ser uma fresca na cama.
 
4. Ser levada a um restaurante maravilhoso e pedir uma saladinha de endívia e depois de comer duas folhas, dizer que está satisfeita com aquela cara de anêmica anoréxica.
 
5. Pesquisar mais sobre grifes do que sobre Humanidades, restringindo às suas conversas à compras e dietas.  Se você optar por este vasto e magnético repertório intelectual, procure apenas amigas alienadas para compartilhar da sua futilidade. Caso contrário, você corre o risco de ver alguém cortando os pulsos na sua frente.
 
6. Achar que a sua melhor  amiga nunca chamará a atenção do seu namorado porque na sua opinião é menos atraente do que você.
 
7.  Fazer cara de nojo como se estivesse sentindo cheiro de pum ao ouvir a palavra cocô ou uma piadinha quente. Ninguém precisa falar palavrão ou contar piada suja, mas também não precisa fazer cara de quem está sendo estuprada.
 
8.  Achar desaforo rachar a conta com o namorado. Desaforo por quê? O cara está comendo sozinho? O cara está fazendo sexo sozinho? Nos primeiros encontros, confesso que é bem gostoso ser um pouco mimada. Faz parte da corte. Quando vira hábito mesmo é cara de pau.
 
9. Ir para a faculdade para procurar namorado em vez de se fazer o que se deve fazer em uma faculdade: ESTUDAR!
 
10. Deixar de tomar um banho de piscina porque engordou 100 gramas.
 
11. Achar que o homem precisa amar mais do que a mulher. Homem precisa amar pra caramba e mulher precisa amar pra cacete.
 
12. Ficar com vergonha de falar para o parceiro o que lhe agrada na cama.
 
13. Ficar perdoando grosserias e esquisitices por medo de ficar sozinha ( já fiz muito disso também e não me orgulho nem um pouco!)
 
14. Acreditar que encorajando e estimulando cagonildos, eles se tornarão homens destemidos. Cagonildo é cagonildo e no final das contas vai fazer sempre o que ele sabe fazer melhor: cagar de medo. ( Outro vício antigo meu...)
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
 
 

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