segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Entre histéricos e obssessivos, fico com os histéricos

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Não tem muito jeito. Ou as pessoas são neuróticas, psicóticas ou pervertidas. Grandes opções...a maioria é neurótica, o que representa a opção menos pior. E entre os neuróticos, encontramos os histéricos ou obsessivos. Mais outra grande opção...

Mas tudo bem. A vida não oferece grandes opções mesmo. Se é gostoso, engorda. Se é saudável, não sacia. Se serve , é caro. Se é barato, não tem o nosso número. Se tem tempo livre, falta disposição. Se está com tudo em cima, a agenda está lotada.  Se a gente tem interesse, a pessoa não liga. Se a gente não tem,  a pessoa corre atrás.  Se temos libido, falta companhia. Se temos companhia, de duas, uma:  ou a companhia não é boa ou a libido vai pescar em PQP.

Na juventude falta grana. Na fase adulta, tempo. Na velhice, saúde. Realmente as opções são precárias. Mas nada que deva tirar o seu bom humor e fé no momento. Nada que uma taça de vinho tinto e uma música retro não resolvam depois de um dia longo e calorento.

E entre histéricos e obsessivos, posso responder num piscar de olhos.  Histéricos podem monopolizar. Concordo. Sedentos por atenção e afeto parecem crianças grandes. Mas nada que se compare a um obsessivo.

Enquanto um histérico sofre porque não foi adorado o bastante ( enfim, sofre por algo graaaaande) , o obsessivo entra em crise porque as colheres de sopa e sobremesa foram guardadas na mesma repartição por engano  ou a luminária sobre a escrivaninha está 2 cm a mais para a esquerda, o que provoca uma crise diplomática de proporções interplanetárias na relação.

Enquanto histéricos querem aplausos, obsessivos querem dizer que você não é boa o bastante.

Enquanto histéricos querem quebrar a quarta parede da vida, obsessivos querem nos colocar no chiqueirinho das emoções com um patético chocalho nas mãos.

Sim, sou bem mais os histéricos com seus números circenses, pois tudo é intenso e as emoções são encenadas para ficarem ainda mais verdadeiras. Eu fico com os histéricos pois eles têm gosto de borbulha de champanhe no céu da boca. Eu fico com os histéricos pois na cama eles vão fundo e não têm nojo de nada.

Eu fico com os histéricos porque eles sacodem as estruturas do tédio e nos convidam ao ridículo do riso e do choro fácil.

Mil vezes um teatrinho de qualidade duvidosa do que centralizar luminárias e ficar atenta para as repartições das colheres.  Falta de glamour total...

Tudo no obsessivo é muito restrito e eu preciso de espaço. Tudo no obsessivo é muito seguro e eu amo riscos. Tudo no obsessivo é muito organizado. E eu preciso do caos de um olhar. Tudo no obsessivo é muito controlado e eu amo me perder de mim para me achar logo em seguida, na próxima esquina.

Eu gosto do torpor de um beijo inebriante. Eu preciso do calor de um riso despudorado. Eu quero mais sair correndo por aí, com o celular desligado, sem relógio, sem hora para chegar, muito menos para voltar. E entre a chegada e a partida, escolho as reticências!

 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.




 
 
 
 








 
 
 
 
 
 
 

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