domingo, 11 de outubro de 2015

Pelo o amor de Deus: vamos parar de formar robôs!

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Pelo o amor de Deus: vamos parar de formar robôs. Professor não é dono da verdade. Professor não comprou os direitos autorais da verdade e do saber. Professor não sabe tudo! Fazer doutorado não oferece super poderes como a espada mágica do He-Man e da She-ra. Ninguém sai voando como o  Super Homem nem é capaz de quebrar a ignorância humana com um golpe certeiro.
 
Ok.Ok.Ok. Mestrado e doutorado reformulam totalmente a forma de pensar, de argumentar, de ver o mundo. Se a pessoa não fica intelectualmente mais interessante depois do doutorado , alguma coisa ocorreu de errado. Como se diria na linguagem do dia a dia....deu bosta.
 
Mas apesar dos horizontes ampliados do professor, ele não faz a aula sozinho. Se os alunos não participarem , não se envolverem , a coisa fica no esquema estupro. Precisa haver um jogo de sedução entre ambas as partes, um vai e vem de ideias e reflexões. Sem este canal aberto com fluxo intenso, a aula vira uma chatice para quem assiste e para quem a dá. A vida é dialética...ou deveria ser. Se a sua vida não é dialética, lamento informar: deu bosta.
 
Se o professor não abre este canal, se o professor não convida os alunos a entrar no seu jogo, a arriscar passos novos, se o professor não inspira os alunos a serem eles mesmos, tudo se reduz a slides e tédio.
 
Por outro lado, os alunos também precisam estar receptivos a entrar no jogo. Sem um pouco de destemor , haja sedução por parte do docente.  E mais uma vez dá bosta.
 
Que o nosso sistema educacional é precário, caquético e está caindo aos pedaços, creio que a maioria sabe. Quem não sabe ainda deve sofrer com alguma psicose muito grave, pois está desconectado da realidade e vivendo num mundo paralelo.
 
O problema é encontrar forças e estratégias para mudar a realidade educacional. Insistimos em métodos arcaicos e artificiais de avaliação. O aluno deveria ser avaliado no dia a dia, no decorrer do ano letivo, no embate criativo com o professor e com a classe . Deveria ser avaliado pela capacidade de responder ao canto da sereia do professor e de vez em quando seduzir também o professor por meio dos seus saberes e principalmente por meio das suas dúvidas. Não há nada mais instigante do que uma bela dúvida. Apenas os tolos têm certeza de tudo o tempo todo. Apenas os tolos não se questionam e vomitam verdades prontas como pacotes de miojo.
 
Deveríamos enterrar a escola das chamadas, dos sinais, das avaliações formais, do professor como detentor do saber, do professor à frente como um líder. Sim, o professor é um líder. Mas um líder intelectual, um líder afetivo, não um chefezinho rabugento de alguma repartição qualquer.
 
Deveríamos fazer aulas sentados no chão ou em um jardim ou andando pela rua.  Não deveríamos nos preocupar tanto com a presença dos corpos e sim com a presença das almas. Sem chamada,  aluno FDP não ficaria em sala. Sem chamada, aluno FDP iria encher o saco em outra freguesia e o professor poderia entrar numa sintonia totalmente fina com os alunos interessantes e interessados. Com os alunos que fazem tudo valer a pena.
 
Enquanto professores e alunos não entenderem que o principal na sala de aula não são os professores nem os alunos e sim a relação entre eles, continuaremos formando robôs.
 
Enquanto professores e alunos não entenderem que a construção do saber é um processo dinâmico,  vivo, feroz, em que cada um oferece o seu melhor e o seu pior, continuará dando bosta.
 
Abaixo segue vídeo com entrevista que concedi ao programa Papo aberto sobre o meu livro Sociologia da Educação ( dezembro de 2014).



Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.







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