sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Ética como desculpa para o medo

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
Não suporto mais ouvir este papo de rigor, de ética. A palavra ética foi arrastada pelos cabelos por um grupo de moralistas FDP que a estupraram até ela ficar  desfalecida, quase morta, com as intimidades rasgadas.
 
O que é ética para a nossa sociedade?  Perguntar tudo bem por protocolo, cagando para a resposta que vai ouvir? Ética é tratar as pessoas com extrema formalidade , deixando bem claro o lugar de cada um? Empregadores e empregados, professores e alunos, maridos e esposas, pobres e ricos? O que significa se colocar no seu lugar? Qual é o lugar de cada um?
 
A ética foi violentada diante de risos puritanos e perversões sagradas num beco sujo. O que é ética para a sociedade? Vestir terninho cinza no expediente e dormir com o chefe para subir na carreira? Ética é ficar de quatro por questões meramente profissionais? É o gozo, é o prazer verdadeiro , é a paixão enlouquecedora que rasgam as carnes da virtude? Ficar de quatro para conseguir um empurrãozinho na carreira faz parte da vida? O problema é ficar de quatro por gostar da posição, por gostar de quem o toma nesta posição?
 
Eu vomito para esta ética inventada. Eu vomito para estes moralistas de plantão que se chocam com palavras sujas e desenhos obscenos, mas estão contaminados pela frieza , pela indiferença, pelo desprezo.
 
Se eu tiver que errar que seja por amor, por paixão ou por qualquer outra coisa que grite dentro de mim.
 
Se eu tiver que errar que seja por mim mesma. Que sejam as minhas pernas que me levem aos abismos do insondável.  Não, não me venha falar de ética com sua alma indiferente, com seu coração incapaz de se torturar pela paixão, por esta boca incapaz de me beijar por medo. Não me venha falar de ética sem nunca ter visto a linda face desfigurada da paixão brutal. Não me venha falar de paixão com estes olhos calmos.
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
 
 
 
 

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