Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Tendemos a achar que uma pessoa é amada por suas qualidades positivas. Tendemos a achar que uma pessoa encanta por sua doçura, por sua generosidade. E pessoas doces e generosas realmente encantam! Como não?
Mas, por outro lado, entretanto, todavia, muitas vezes, o que nos pega de jeito é uma mania, um cacoete sexy, uma conexão perversa, um vício em comum, um gosto pelo desafio, um desejo coincidente de jogar um jogo perigoso.
Muitas vezes é o sorriso assimétrico, o jeito impertinente de dizer uma coisa banal, o apetite do olhar que nos arrasta para a terra das sensações insólitas.
Desprezamos um defeito, uma bizarrice , um nariz levemente torto, um jeito displicente de andar, uma falta de jeito para fazer qualquer coisa sem saber que este defeito pode ser o efeito colateral de algo maravilhoso...ou não...de repente, são os nossos desvios e nossos aspectos tortuosos que nos fazem ser quem somos.
Como diria Clarice Lispector, nunca sabemos em qual defeito se alicerça uma virtude.
Somos pacotes completos e precisamos amar e querer e beijar cada uma das cicatrizes do outro, as do corpo, as da alma. Precisamos aspirar o seu odor e sentir além do seu perfume. Precisamos ir além do nojo, do medo.
Precisamos ir além do verniz do belo para se engalfinhar com a intensidade e a perplexidade do medonho. É preciso penetrar a alma alheia de olhos abertos.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
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