Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Criar é foda demais! Criar palavras, textos, drinks, estilos, pratos, amores...
Este ano ou ano passado, criei um drink chamado Silvita ( Silvinha em espanhol) inspirada em Buñuel que fez o Buñuelito.
Silvita é simplérrimo! Vinho branco suave , umas gotinhas de Campari e um morango graúdo e bem vermelho esmagado no fundo do copo ao estilo de uma caipirinha. Refrescante e feminino. Perfeito para fazer um charme em dias quentes. Drink de mulher fresca e histérica, que está precisando de um pouuuuuuuuquinho de atenção.
Num passado bem remoto ( quase em outra vida) criei o brigasilvia. Uma mistura de brigadeiro com prestígio. Em vez de enrolar o brigadeiro em chocolate granulado, passa-se no coco ralado.
Recentemente fiz uma carne suína de panela com compota de abacaxi. Em vez de pingar água enquanto a carne cozinhava, pinguei a própria calda da compota. Gosto também de fazer macarrão cabelo de anjo com margarina , shoyo e tomate cereja para dar uma corzinha.
Gosto de usar cachecol com regata, batom vermelho às sete da manhã, tênis com vestido social e bota com saia curta. Há séculos tinha mania de usar vestidos longos amplamente estampados. Estampas que berram e se chafurdam na mais deliciosa loucura.
Algum tempo depois , eles entraram na moda. Me desinteressei por eles...comecei a gostar mais das estampas delicadas e discretas das frígidas. O mesmo ocorreu com o esmalte vermelho. Quando as coisas ficam muito banais, muito autorizadas, elas começam a ficar realmente chatas.
Me sinto profundamente angustiada quando me dizem que estou vestida de acordo com os padrões da moda.
Me sinto profundamente entediada quando tenho que interagir num espaço onde tudo já está formulado e consolidado. Tenho espírito de conquistadora, pioneira.
Quero fazer as minhas regras, jogar um jogo arriscado. Quero brincar com fogo. Quero te induzir ao erro. Quero te induzir a jogar o meu jogo comigo. Quero dobrar ao meio o seu jeito durão, que tem tudo sob controle. Quero perder o caminho de casa sentindo os seus dedos entrelaçados nos meus. Quero desnudar a minha alma sob o calor dos seus olhos que me devassam. E que os meus levemente amendoados de cigana dissimulada como os de Capitu te traguem até as profundezas do mais sublime desespero.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas
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