Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Começa hoje um ano novo? Depende daquilo que você , caro leitor, considera novo. Se você come lentilhas e romãs com fé e não abre mão de uma lingerie nova e faz questão de usar uma determinada cor de roupa, provavelmente hoje é um ano novo com a mesma cara do ano velho.
Provavelmente você espera coisas novas e acredita que elas acontecerão. Provavelmente você se desapontará muitas vezes no decorrer do ano.
Já fui uma fã destas datas festivas. Nunca comi lentilhas nem romãs. Nunca fiz questão de calcinha nova. Por muitos anos usei o mesmo vestidinho branco. Não por desejar paz acima de tudo. Até mesmo porque eu gosto mesmo de um bom embate, de um bom corpo a corpo, de um bom caos emocional. Eu o usei porque era bonitinho e inadequado para usar em outras ocasiões.
Nunca acreditei nas velhas superstições porque gosto de criar as minhas. Ou gostava. Um ano , cheguei a acender uma vela para "abençoar" uma caixinha em formato de coração, cheia de papeizinhos com pedidos para o novo ano.
Coincidência ou não , foi um ano de merda. Tive suspeita de câncer de mama , levei um pé na bunda homérico, tive apendicite , um grupo de teatro dissolvido, sem falar que estava sem emprego.
Coincidência ou não, 2007 foi um ano cheio de ótimas experiências. Um ano difícil. Mas bom. Na época , achava que existia um sistema de compensação no RH do céu. Depois de um ano de merda , boas meninas precisavam ser recompensadas. Foi o mesmo de 1992 para 1993.
Hoje , acredito acima de tudo na força do momento e do acaso. Acredito que escorregamos, sofremos, adoecemos, piramos , não porque era preciso escorregar, sofrer, adoecer ou pirar. As coisas simplesmente acontecem. Podemos aprender A ou B com as quedas. Podemos nos tornar mais sábios ou não. Podemos continuar os mesmos. Não acredito que ao perdermos algo importante para nós, algo melhor virá necessariamente. Pode ser que venha ...ou não.
Enfim, quero dizer que apesar de crer em Deus e amar Jesus e respeitar as religiões, não consigo mais acreditar nesta lógica certinha e bonitinha de causa e efeito.
Pode soar falso da minha parte , mas tal crença me torna mais leve , mais livre de qualquer sentimento de dívida ou obrigação. Fui colocada neste mundo sem ser consultada. Só posso contar comigo mesma. E não importa o quanto seja bondosa. A vida bate na cara mesmo.
Não existe a menor relação entre ser bom e ser feliz ou ser amado. Temos que ser bons porque é o certo. Mas não espere nenhum pote de ouro no fim do arco-íris. Felicidade e amor não são questões de mérito.
Tal crença me liberta para eu ser eu mesma, com meu quinhão de bálsamo e veneno, em toda a plenitude da minha humanidade. Não me importo mais em ter pés de barro e malícia nos olhos, na boca e na alma. Não me importo mais se me contradigo ou se me atiro no meu caos estridente de forma despudorada, me sentindo em um templo sagrado.
Não me importo mais se reconheço em mim mesma o que odeio nos outros. Não preciso estar certa o tempo todo. Posso andar descalça pelo mundo, sem grandes certezas.
Posso me assumir como uma mulher que apenas aprendeu o que eu não quero para mim. Tenho muitas portas em aberto. E saio por aí, meio perdida, meio extasiada , com um vestido de dia de festa, sem sapatos e uma cara de menina arteira.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
Começa hoje um ano novo? Depende daquilo que você , caro leitor, considera novo. Se você come lentilhas e romãs com fé e não abre mão de uma lingerie nova e faz questão de usar uma determinada cor de roupa, provavelmente hoje é um ano novo com a mesma cara do ano velho.
Provavelmente você espera coisas novas e acredita que elas acontecerão. Provavelmente você se desapontará muitas vezes no decorrer do ano.
Já fui uma fã destas datas festivas. Nunca comi lentilhas nem romãs. Nunca fiz questão de calcinha nova. Por muitos anos usei o mesmo vestidinho branco. Não por desejar paz acima de tudo. Até mesmo porque eu gosto mesmo de um bom embate, de um bom corpo a corpo, de um bom caos emocional. Eu o usei porque era bonitinho e inadequado para usar em outras ocasiões.
Nunca acreditei nas velhas superstições porque gosto de criar as minhas. Ou gostava. Um ano , cheguei a acender uma vela para "abençoar" uma caixinha em formato de coração, cheia de papeizinhos com pedidos para o novo ano.
Coincidência ou não , foi um ano de merda. Tive suspeita de câncer de mama , levei um pé na bunda homérico, tive apendicite , um grupo de teatro dissolvido, sem falar que estava sem emprego.
Coincidência ou não, 2007 foi um ano cheio de ótimas experiências. Um ano difícil. Mas bom. Na época , achava que existia um sistema de compensação no RH do céu. Depois de um ano de merda , boas meninas precisavam ser recompensadas. Foi o mesmo de 1992 para 1993.
Hoje , acredito acima de tudo na força do momento e do acaso. Acredito que escorregamos, sofremos, adoecemos, piramos , não porque era preciso escorregar, sofrer, adoecer ou pirar. As coisas simplesmente acontecem. Podemos aprender A ou B com as quedas. Podemos nos tornar mais sábios ou não. Podemos continuar os mesmos. Não acredito que ao perdermos algo importante para nós, algo melhor virá necessariamente. Pode ser que venha ...ou não.
Enfim, quero dizer que apesar de crer em Deus e amar Jesus e respeitar as religiões, não consigo mais acreditar nesta lógica certinha e bonitinha de causa e efeito.
Pode soar falso da minha parte , mas tal crença me torna mais leve , mais livre de qualquer sentimento de dívida ou obrigação. Fui colocada neste mundo sem ser consultada. Só posso contar comigo mesma. E não importa o quanto seja bondosa. A vida bate na cara mesmo.
Não existe a menor relação entre ser bom e ser feliz ou ser amado. Temos que ser bons porque é o certo. Mas não espere nenhum pote de ouro no fim do arco-íris. Felicidade e amor não são questões de mérito.
Tal crença me liberta para eu ser eu mesma, com meu quinhão de bálsamo e veneno, em toda a plenitude da minha humanidade. Não me importo mais em ter pés de barro e malícia nos olhos, na boca e na alma. Não me importo mais se me contradigo ou se me atiro no meu caos estridente de forma despudorada, me sentindo em um templo sagrado.
Não me importo mais se reconheço em mim mesma o que odeio nos outros. Não preciso estar certa o tempo todo. Posso andar descalça pelo mundo, sem grandes certezas.
Posso me assumir como uma mulher que apenas aprendeu o que eu não quero para mim. Tenho muitas portas em aberto. E saio por aí, meio perdida, meio extasiada , com um vestido de dia de festa, sem sapatos e uma cara de menina arteira.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
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