segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Melanie Klein e a expulsão dos paraísos

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Lendo um post com um pensamento da psicoterapeuta austríaca Melanie Klein, me inspirei a escrever este "testículo".

Klein afirmou que todos aqueles que comem do fruto do conhecimento são expulsos de algum paraíso.

A peça teatral A alma imoral, baseada no livro do rabino Nilton Bonder , uma deliciosa e complexa mescla entre Filosofia e Teologia judaica) fala sobre o tema da mulher como agente transgressor no mundo.  É a mulher a responsável por trair a tradição para manter o essencial da tradição.

As palavras tradição e traição tem significante semelhante e aparentemente significados diferentes , até mesmo opostos.

Mas pelo contexto da peça , vemos claramente uma aproximação entre os termos pois um depende do outro.

Tal ideia pode soar complexa demais ou até mesmo vaga , imprecisa e contraditória em tempos tão rasos quanto os nossos.

Se é que houve algum tempo denso...começo a desconfiar que sempre foi isso mesmo...uma massa inexpressiva caminhando pelo mundo como as ovelhas de Sócrates, se deslumbrando com blockbusters, se contentando com amores fake e se prendendo a crenças ingênuas.  A caverna de Platão com suas sombras deve ter lá os seus encantos, embora eu já tenho visto luz demais para regressar à ela.

Sim, Melanie Klein, podemos entender como paraíso qualquer zona de conforto, qualquer tipo de comodismo, qualquer situação que nos impeça de lutar por aquilo que realmente somos e queremos.

No paraíso mítico da Bíblia cristã, Adão e Eva eram "felizes" porque eram ignorantes e obedientes. Viviam de acordo com regras bem definidas. Quando começaram a questionar , pensar com a própria cabeça e buscar novos caminhos se perceberam nus , desprotegidos , desvalidos.

Não é o mesmo que acontece com artistas, filósofos , intelectuais de um modo geral?  Perdemos nossas certezas. Temos mais perguntas a fazer do que respostas a dar. Descobrimos que a vida é dura sim, a fé é placebo e o amor não é bonitinho nem cor-de-rosa.

O amor entre um homem e uma mulher ou entre duas pessoas do mesmo sexo ( enfim, o amor erótico) é um amor brutal, é um amor que agride , que bate com uma mão e acaricia com a outra. É um amor que agride pois , como diria Deleuze, só quem amamos tem o poder de nos tirar do sério, de desnudar as nossas loucuras, de nos fazer perder as estribeiras.

Sim, Melanie Klein...já fui expulsa de muitos paraísos...mas não tenho vergonha da minha nudez. O mundo deveria ter vergonha de andar tão vestido com couraças de medo e máscaras de hipocrisia.

 
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 














3 comentários:

  1. Sabe quando você lê algo e precisa parar várias vezes para digerir as palavras? Quando você fala "puta merda, isso é verdade"? Talvez tenhamos perdidos alguns -ou muitos- paraísos, mas pelo menos podemos contar com uns orgasmos intelectuais ao lermos textos como esse por aí.

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    1. Orgasmos intelectuais...RS amo esta expressão e este tipo de orgasmo. O seu comentário foi extremamente delicioso para mim.

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    2. Orgasmos intelectuais...RS amo esta expressão e este tipo de orgasmo. O seu comentário foi extremamente delicioso para mim.

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