segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Sobre os terrores da infância

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Quando tinha 9 anos de idade , uma priminha ficou aqui em casa. Ela tinha apenas 4 anos e vimos uma cena muito violenta em uma novela. Um homem sendo alvejado. Temi por ela. Temi que ficasse assustada. Mas acho que fiquei mais traumatizada do que ela porque anos mais tarde , já na fase adulta , gemi e levei as mãos à cabeça ao imaginar que veria cena semelhante em outra novela.

Esta mesma priminha aos 6 e eu aos 11 , ficou em casa mais uma vez. Ela queria dormir aqui, mas de repente sentiu saudades da mãe. Quis dar-lhe um banho antes de minha tia chegar. Acho que fiquei mais molhada do que ela...e quando aquela garotinha linda já estava banhada e vestida, olhou-me nos olhos e me perguntou com um pouco de culpa. Disse que sentia saudade apenas da mãe. Do pai não. Perguntou-me se aquilo era errado. Oh, meu Deus! Já estamos condenados à dor da culpa tão cedo...

Não lembro exatamente das minhas palavras , mas respondi-lhe que não. Que era normal sentir mais falta da mãe.

Logo depois minha tia chegou um pouco impaciente , apesar de ser uma das pessoas mais doces que conheço. E que alegria minha prima sentiu em seus braços...o tempo para as crianças passa de um jeito diferente , mais lento....custa-se a fazer aniversário...depois dos 30 poderia demorar também RS

As cenas violentas parecem mais assustadoras , os locais maiores , os adultos mais altos e bravos. 

Aos 4 anos tinha um pouquinho de receio da barba áspera do meu vovô. Uma vez , tentei fugir dele, mas ele me pegou de jeito, agarrou-me inteira em seu abraço e raspou aquela barba áspera em mim...no final das contas , foi bom!


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 














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