Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Toda vez que faço uma viagem, principalmente internacional, tenho uma sensação muito estranha. Sinto o mundo exterior e concreto servindo de metáfora para o meu mundo interior e subjetivo.
Toda vez que faço uma viagem, principalmente internacional, tenho uma sensação muito estranha. Sinto o mundo exterior e concreto servindo de metáfora para o meu mundo interior e subjetivo.
Sempre me perco no aeroporto de Zurique, embora já tenha ido para lá quatro vezes. Sempre preciso pedir informações para mais de uma pessoa com o meu inglês macarrônico e sorriso indefeso no rosto.
Toda vez que dependo da gentileza de um desconhecido para me orientar e "consigo me localizar" ( prestem atenção na ironia das aspas RS) sinto uma vaga ternura por aquelas pessoas que nunca vira antes e que nunca mais verei.
Por alguns momentos , elas foram importantes para mim. Por alguns momentos , eu dependi da boa vontade delas e toda vez que necessito da bondade de estranhos ( como diria Blanche Dubois) o meu mundo interior se amplia.
Sim, aeroportos para mim são corredores, são passagens para o meu mundo interno. São corredores que me fazem mergulhar no mais profundo da minha subjetividade.
Nesta última viagem que realizei, duas pessoas me chamaram a atenção de forma especial: um pesquisador sul-africano que me acompanhou do aeroporto de Zurique até Berna e uma moça húngara que me ajudou a encontrar o meu portão de embarque , de volta ao Brasil.
Seu rosto transparecia uma simplicidade comovente. Ela não me explicou o trajeto. Ela me conduziu até o portão e me olhou com a delicadeza típica daqueles que tem um coração sem chaves nem cadeados. Agradeci sorrindo a sua generosidade. Disse-lhe que era muito doce com o meu inglês macarrônico e meu sorriso grato e aliviado. E ela devolveu-me o sorriso com a mesma dose de calor.
Nunca mais a verei. Mas tanto ela como o meu anjo da guarda sul-africano farão parte do meu mapa afetivo para sempre.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
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