quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Viagens

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Me inspiro nas conversas com as pessoas e em posts que leio para escrever meus textos no Garota desbocada.

Gosto muito de conversar com desconhecidos. Manicures na época em que fazia as unhas regularmente, motoristas de táxi, pessoas que se sentam ao meu lado no avião.

Acho que aprendemos muito conversando com as pessoas e bebendo de suas experiências e permitindo que elas bebam das nossas.

Por um ano ( 2007) substitui uma professora numa faculdade municipal da cidade de Assis. Para quem não conhece , fica no oeste paulista , bem perto do Paraná. Ia para lá toda segunda lecionar e voltava às quartas. Foi um ano cansativo, mas talvez um dos mais felizes e ricos da minha vida.

Depois de viajar 6 horas de ônibus , retocava a toalete e ia dar à minha aula de Produção Publicitária em Rádio, TV e Cinema.  Era uma turma de quarto ano e era o meu primeiro como docente. Era pouca coisa mais velha do que os meus alunos . Foi um desafio e tanto.

No ônibus , tanto na ida como na volta , bati papo com pessoas que me trouxeram relatos muito especiais. Alguns engraçados. Outros comoventes. Uma linda senhora de olhos azuis e profundos , confidenciou-me que sua filhinha havia sido roubada na maternidade....chegou a conhecê-la na fase adulta apenas.

Um senhor muito gentil confidenciou-me cheio de ternura que se pudesse voltar no tempo, não deixaria o amor da sua vida passar.

Rezei junto com uma garota em prantos pela saúde do seu sogro. Fiz amizade com uma divertida oficial de justiça que almoçava comigo todas as terças.

Durante minhas viagens para a Suíça , quando atravessa o oceano sozinha em busca daquilo que eu considerava o amor, travei alguns relacionamentos muito interessantes: um garoto irreverente e bom papo de 15 anos, uma chilena simpaticíssima que passou mal durante a viagem inteira, um francês meio mal humorado mas muito culto com um Português bem aceitável e um suíço extremamente gentil e jocoso , com um Português muito bom por ser apaixonado há anos por uma brasileira.

Enfim, no embate da vida , do dia a dia, a gente vai tecendo teias invisíveis e deixando nossas marcas nos mapas afetivos alheios. Mas é importante deixar-se marcar também. Mais importante do que aquilo que deixamos para os outros ou os outros deixam para nós, é aquilo que os outros nos permitem ser e o que permitimos que os outros sejam por meio de nossas mãos.

A chilena hermosa despediu-se de mim com um caloroso abraço, me chamando de guapa. Naquele voo complicado , fui um pouco sua irmã. E ela , a minha.

O garoto irreverente , voltei a vê-lo no lançamento do meu livro O cinema da paixão: Cultura espanhola nas telas. Foi com seus pais e uma amiga cinéfila.

Alguns ficam mais tempo em nossa vida. Outros menos. Mas de uma forma ou de outra , todos ficam em nosso coração, nas nossas ideias, na constituição daquilo que somos, sentimos e pensamos.

Enfim, meu post de hoje é sobre viagens. As viagens internas. As viagens da alma.


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 















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