terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O amor nos desperta o nosso eu mais intenso

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


 Não somos os mesmos perante cada pessoa. Uma vez comentei meio jocosamente ( mas o sentimento era verdadeiro) com um aluno/amigo mega querido meu que tinha ciúmes de outros professores em relação às minhas salas de aula.

Ele , mesmo sendo muito jovem, me disse algo que eu já sabia há séculos. Foi bom ouvir de outra boca o que o meu coração já sabia.

Ele me disse que os meus alunos eram apenas meus alunos. Algo assim. Não me lembro das palavras exatas.

Enfim, perante cada pessoa somos de um jeito. Se recebemos carinho e afeto, tendemos a reagir de uma forma. Se somos tratados com fria polidez , de outra. Se somos agredidos , um terceiro "eu" surge.

Este aspecto camaleônico da natureza humana aflora nas mais variadas situações e contextos. No trabalho, entre familiares, entre amigos , entre amores.

Se uma empresa valoriza o seu trabalho, provavelmente você renderá muito mais nela do que em outra que te subestimava. 

Se um amigo te maltrata , em algum momento não muito distante , você deixará de ser seu amigo. Se pelo contrário, ele estende a mão no momento que você mais precisa , esta amizade estará consolidada. 

Nos casos amorosos , a coisa é bem parecida. Não amamos nem nos entregamos nem deixamos de nos entregar da mesma forma com todas as pessoas. O amante que somos é um produto da nossa natureza associada à natureza do amado e daquilo que um desperta no outro.

Com algumas pessoas, o amor flui como um rio que desemboca no mar. É uma força inevitável da natureza. Com outras pessoas, dissimulamos um falso bem estar para fugir de nossos próprios fantasmas. 

Com algumas pessoas o amor queima e arde e deixa marcas impressas na alma. Com outras , o amor é como um som distante. Algo vago. Algo que sabemos que vai acabar um dia. Ou pior ainda. Algo que sabemos que na realidade nunca começou. Foi apenas uma invenção para matar o tempo e o tédio. Uma invenção para nos protegermos de nós mesmos e fingir que está tudo bem.

Sempre penso no filme "Os girassóis da Rússia" quando este tema me vem à cabeça. Antonio , o personagem vivido por Marcello Mastroiani, alegre e vivaz com  sua esposa italiana , transformara-se num zumbi com sua esposa russa. Ele era mau com a russa? Não. De forma alguma. Ele apenas se sentia morto. 


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 




















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