domingo, 24 de janeiro de 2016

Fechada em meu mundo

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Gosto de passear, viajar , sociabilizar, conhecer novas paisagens , novas texturas quando coloco uma comida nova na boca.

Gosto de comer comida apimentada no México e muito queijo raclette na Suíça.  Experimentei scargots pela primeira vez na caótica e calorenta Paris de julho.

Gosto de sentir o ar frio e limpo do inverno europeu e ao regressar ao calor brasileiro, gosto de sorrir amplamente , mesmo odiando o calor.

Gosto de fotografar lugares que visito embora as melhores fotos fiquem sempre impressas na mente.

Gosto de arriscar algumas conversas com desconhecidos durante o trajeto.

Enfim, gosto de experimentar o novo. Saboreá-lo suavemente. Deixá-lo desmanchar lentamente debaixo da língua , impregnando a boca inteira.

Gosto de dormir em quartos de hotel. Em casa , nunca tomo leite. Mas quando viajo, adoro tomar café com leite. É uma nova existência que se abre à minha frente.

Gosto de tomar banho de banheira sem pensar se elas foram devidamente higienizadas. Apenas os tomo, relaxada , distante da minha realidade.

Mas quando estou triste ou simplesmente muito cansada ( cansada do trabalho, cansada da rotina , cansada da vida) gosto do meu quarto. Do meu pequeno mundo mágico com meus móveis sólidos e familiares. Minha cama de cabeceira alta , forte e robusta.

Gosto de teclar em meu notebook e acessar os meus filmes e músicas favoritas. Gosto de folhear meus livros que ficam empilhados na cabeceira ou olhar a capa dos meus dvds...senti-los...

Uma vez , quando fiquei muito doente , hospitalizada, e sentia-me cansada de tudo, pensei que não queria morrer antes de rever o meu quarto, o meu mundo.

Acho aconchegante ver um filme assustador deitada na cama sem sentir medo algum.  Acho acolhedor mergulhar no escuro do meu pequeno e poético mundo, onde não posso ser julgada nem olhada como um bicho raro.

No meu pequeno mundo, ninguém pode me maltratar ou me ferir... ninguém pode me desprezar. No meu pequeno mundo  estou protegida da sordidez da vida com seus horrorosos arranjos sociais e frases prontas.

No meu pequeno mundo estou a salvo da hipocrisia de bocas que se consideram mais sábias ou mais santas.

 


 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 













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