domingo, 31 de janeiro de 2016

Desculpa, mas não sou hipócrita. Não consigo amar meus inimigos

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Por que devemos perdoar quem nos destruiu e foi ser feliz depois? Nunca pude entender verdadeiramente este critério de justiça pregado pelas mais variadas religiões, embora tenha recebido formação religiosa.
 
Acho que por medo de destoar do script social e ser julgado pelas pessoas, a maioria cala esta pergunta na boca e na alma. Mas sempre pensei muito sobre ela, embora também tivesse receio de externar esta dúvida que me acompanhou por quase toda a vida.
 
De onde tiraram que devemos perdoar quem nos causou danos irremediáveis e depois foi curtir a vida numa boa, sem sofrer um décimo daquilo que sofre a sua vítima? Que tipo de lógica permeia este tipo de crença e pensamento que subjuga quem foi atropelado e aplaude quem atropelou, deu ré, passou por cima de novo e saiu sorrindo?
 
Como diria Sartre, não consigo entender nem respeitar quem perdoa seus algozes. Também não consigo compreender como uma pessoa pode se sentir bem e feliz simplesmente "perdoando" quem não lhe pediu perdão. Quem, muitas vezes, até ironizaria a ideia de pedir perdão às suas vítimas.
 
Sim, eu sei. O tema é cascudo. Mas a Garota desbocada é um espaço para isso mesmo. Aqui não cabe a polidez acadêmica do autor que escreve na primeira pessoa do plural para evitar constrangimentos.
 
Aqui, estou inteira e quebrada. Completamente nua e indignada. E faço novamente esta pergunta para os libertários, para aqueles que tem alma grandiosa. Para aqueles que não temem se enxergar imperfeitos. Por quê devemos perdoar quem não nos pede perdão? Por quê devemos nos alegrar com a felicidade daqueles que fizeram de tudo para roubar a nossa?
 
 

 



Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 

8 comentários:

  1. Descobri seu blog pela Obvious! Seus textos são muito criativos. E o mais legal é que eles se encaixam em situações que todos passamos... Você consegue fazer isso sem cair no clichê. Parabéns ;)

    http://impubliable.blogspot.com.br/

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  2. Muito obrigada por seu comentário. Eu tento sempre escrever sobre aquilo que me parece relevante e sai do lugar comum. Infelizmente, estamos vivendo um tempo de muita hipocrisia, em que as pessoas se negam a admitir o lado B dos sentimentos. Todo mundo quer sair bonitinho na foto social. Mas a gente sabe que na prática não é bem assim RS

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  3. Sílvia, descobri vc pelo Obvious e passei só pra dar uma olhadinha por aqui e logo me deparei com esse texto. Como acredito que a sua intenção é suscitar o debate, vou dar a minha opinião. Acredito que quem decide perdoar o faz, primeiro, pq crê que somos iguais, que o erro do outro, por mais cruel que tenha sido conosco, poderia ser cometido por nós mesmos. Esse sentimento de alteridade, de se colocar no lugar do outro e entender que nós dois somos falhos e que estamos o tempo todo "trocando de lugar" (X me magoou, mas eu magoei Y, que magoou Z e por aí vai... Ou seja, a razão, a dor e até o maniqueísmo estão sempre oscilando) é o que costuma mover o ato do perdão, na minha opinião. Em segundo lugar, acho que quem decide perdoar quer muito se libertar da mágoa e eu realmente acho que o perdão é a melhor forma de seguir em frente. Enquanto não perdoamos, seguimos multiplicando o rancor dentro d'a gente e isso, às vezes, faz mais mal do que o próprio vacilo da pessoa conosco. Mas, claro, essa é uma opinião baseada em quem eu sou e em como eu sinto as coisas. Se vc não consegue ou não acha justo perdoar, acho que perdoar somente pra manter as aparências não vale a pena. Enfim, é isso. Sucesso, viu? :*

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    1. Toda opinião gentil e sincera é sempre muito bem vinda, Suzana! Admiro o seu desprendimento. É muito bonito. Mas confesso que não consigo ser tão generosa assim Rs nem comigo mesma eu sou. Quando piso na bola com alguém , mesmo pedindo milhares de desculpas, me sinto meio mal.

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  4. "Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-los de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que um dia tenhamos a sorte de esquecer." (Meredith Grey)
    Adoro filmes e séries e me lembrei desse texto ao ler sua postagem,Silvia. Acredito que o perdão pode ser libertador pra ambas a partes. Porém, não é fácil perdoar ou se perdoar. As vezes conseguimos amenizar um pouco a dor, quando a vida insiste pra seguimos adiante.Mas, se a gente não se perdoa primeiro continuaremos sempre hipócritas em dizer que perdoamos o outro. É o que eu penso. Bjs!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Conhecendo o blog agora e gostando muito :)
      Gostei do questionamento, então assim como outras coisas o perdoar tem seu próprio tempo..acredito que não perdoar signifique as vezes ficar estagnado em algum lugar, acho que o maior desafio é nos permitir perdoar, para podermos usar o tal "vida que segue", isso não significa esquecer, apenas não nos prender a algo que não vale a pena.
      Obs: ainda estou trabalhando nisso também.

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