Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Como diria Buñuel, Sade era um grande amoroso porque ele era capaz de odiar. Para Buñuel, os que odeiam são os únicos capazes de amar. Concordo.
Amor e ódio são faces da mesma moeda.
Mas fico triste por perceber que muitas vezes o ódio fala mais alto do que o amor e o orgulho ferido sobressai em relação ao desejo de ser feliz.
Não sabemos ser felizes. Pelo menos, muitos de nós. Estamos acostumados à infelicidade. De certa forma , a infelicidade é mais confortável. Quando somos infelizes, não temos nada a perder. Não tememos.
Ser feliz é estar diante da beira de um abismo...é sentir o coração na mão o tempo todo. É sentir o coração esmagado por uma alegria insuportável e um medo igualmente proporcional de voltar para as sombras, de voltar para o escuro.
Sim, preferimos a infelicidade à felicidade. Preferimos o hábito ao amor. Preferimos uma vida conveniente à uma vida intensa, verdadeira, em que podemos ser nós mesmos. Preferimos a modorra de um dia a dia cômodo a uma existência autêntica, plena.
Lutamos e investimos mais nos simulacros e nos amores inventados do que nos amores verdadeiros. Talvez este amor pleno, em que corpos e almas se fundam só existam e funcionem na mente dos poetas.
Talvez tudo se resuma à tédio e à conveniência mesmo. Talvez este amor capaz de pintar o mundo com cores novas e vivazes seja apenas uma imaginação, um sonho, um delírio , uma utopia da mente daqueles que insistem em acreditar que a vida pode ser mais do que protocolo e cumprimento social.
Mas sinto que nunca me submeterei à este asqueroso jogo social. Fui feita para o amor e se não puder vive-lo em sua beleza e horror, prefiro atravessar este longo deserto que é o mundo, sozinha, mas digna , inteira , limpa.
Estou cheia de incertezas. Meu coração saltita com pontos de interrogação. Mas tenho uma certeza: nunca hei de me submeter a um homem sem amor. Mesmo que para isso o preço a pagar seja passar a minha vida inteira sozinha, que é o pior dos castigos para uma mulher como eu, feita de afetividade e êxtase.
Não creio que Deus tenha um plano para mim. Não acredito no destemor dos homens. Só posso me alicerçar na certeza de que um dia tudo acabará. Esta seja talvez a minha única verdadeira alegria, meu único consolo. Como diria a peça "Noite de desamor" , talvez seja o único momento em que darei certo. Talvez só a morte me fará encontrar o que procuro ou simplesmente me afundará num sono eterno, libertando-me desta vida sem sentido.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
Como diria Buñuel, Sade era um grande amoroso porque ele era capaz de odiar. Para Buñuel, os que odeiam são os únicos capazes de amar. Concordo.
Amor e ódio são faces da mesma moeda.
Mas fico triste por perceber que muitas vezes o ódio fala mais alto do que o amor e o orgulho ferido sobressai em relação ao desejo de ser feliz.
Não sabemos ser felizes. Pelo menos, muitos de nós. Estamos acostumados à infelicidade. De certa forma , a infelicidade é mais confortável. Quando somos infelizes, não temos nada a perder. Não tememos.
Ser feliz é estar diante da beira de um abismo...é sentir o coração na mão o tempo todo. É sentir o coração esmagado por uma alegria insuportável e um medo igualmente proporcional de voltar para as sombras, de voltar para o escuro.
Sim, preferimos a infelicidade à felicidade. Preferimos o hábito ao amor. Preferimos uma vida conveniente à uma vida intensa, verdadeira, em que podemos ser nós mesmos. Preferimos a modorra de um dia a dia cômodo a uma existência autêntica, plena.
Lutamos e investimos mais nos simulacros e nos amores inventados do que nos amores verdadeiros. Talvez este amor pleno, em que corpos e almas se fundam só existam e funcionem na mente dos poetas.
Talvez tudo se resuma à tédio e à conveniência mesmo. Talvez este amor capaz de pintar o mundo com cores novas e vivazes seja apenas uma imaginação, um sonho, um delírio , uma utopia da mente daqueles que insistem em acreditar que a vida pode ser mais do que protocolo e cumprimento social.
Mas sinto que nunca me submeterei à este asqueroso jogo social. Fui feita para o amor e se não puder vive-lo em sua beleza e horror, prefiro atravessar este longo deserto que é o mundo, sozinha, mas digna , inteira , limpa.
Estou cheia de incertezas. Meu coração saltita com pontos de interrogação. Mas tenho uma certeza: nunca hei de me submeter a um homem sem amor. Mesmo que para isso o preço a pagar seja passar a minha vida inteira sozinha, que é o pior dos castigos para uma mulher como eu, feita de afetividade e êxtase.
Não creio que Deus tenha um plano para mim. Não acredito no destemor dos homens. Só posso me alicerçar na certeza de que um dia tudo acabará. Esta seja talvez a minha única verdadeira alegria, meu único consolo. Como diria a peça "Noite de desamor" , talvez seja o único momento em que darei certo. Talvez só a morte me fará encontrar o que procuro ou simplesmente me afundará num sono eterno, libertando-me desta vida sem sentido.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
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