sábado, 5 de dezembro de 2015

Me enchi de tanta teoria sobre o amor

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Ok.Ok.Ok. Já teorizei muito sobre o amor. Sobre o par "ideal". Sobre as afinidades necessárias para fazer a coisa toda emplacar.

Já falei sobre casamento sem nunca ter sido casada. Já falei sobre as diferenças entre paixão e amor . Embora muitos destes textos sejam populares, pegaria alguns deles e limparia a minha bunda sem o menor constrangimento ou remorso. E olhem que eu sou PHD em sentir culpa.

Estou tentando apagar 2000 anos de repressão católica com terapia. Sou uma apaixonada por causas impossíveis ou pelo menos bem difíceis.

Lá no fundo, acho que gosto de um bom fiasco. Como diria o cineasta Valério Zurlini, felicidade não dá boa história.

Não digo que a minha seja boa. Mas tem o seu charme. Tragédia e comicidade nas medidas certas. Sou uma bizarra combinação da heroína sofrida e arregaçada pela vida com a anti-heroína que não tá nem aí com nada e olha para tudo e para todos com certo descaso e ar de superioridade.

Só sei que me enchi deste papo de todo mundo querer dar pitaco sobre o amor, sobre a relação perfeita, sobre o que é fundamental para alguém ficar casado por mais de dez anos com a mesma pessoa.

Tô cansada deste lance de todo mundo querer pegar a droga da sua vida e usar como exemplo para os outros. E de todas as pessoas que fazem isso, a que me irrita mais sou eu mesma.

Os autores adoram dizer que aprenderam isso e aquilo quando sofreram, quando foram enganados , quando tomaram nas partes íntimas ( no mau sentido da palavra). Os autores dizem que aprendemos com a dor. A dor ensina, faz crescer. Cascata! A gente nunca cresce nem aprende nada importante de fato. A gente aprende a fazer mimetismo. A gente aprende a se esconder atrás de um verniz de hipocrisia. Trocamos de manias , vícios e ilusões para sobreviver.


Tô cansada de receitas de bolo, de otimismo ingênuo, de mensagens pasteurizadas com carinhas sorridentes, da histérica crença de que com pensamento positivo a gente vai sair voando e rasgando horizontes transportados pela energia dos nossos peidos.

Tô cansada de scripts, roteiros a seguir. Tô cansada de pseudo cultura. Tô cansada de pregar no deserto e ver espanto no rosto de algumas pessoas enquanto falo o que para mim é óbvio.  Tô cansada de tentar entender e explicar.





 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

4 comentários:

  1. Que bom poder dizer o que passa pela cabeça, baseado em fatos ou sentimentos reversíveis. Afinal, o agora pode estar morto amanhã, e o amanhã, talvez nem nos conheça.

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