Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Ontem, lendo a crônica do filósofo Luis Felipe Pondé, que escreve todas às segundas na Folha e que por acaso foi meu professor na faculdade de Comunicação Social ( hoje eu imagino como deveria ser tedioso dar aula para uma molecada mal acostumada e mimada de 18 anos na FAAP), me inspirei a falar sobre a coragem. Ou melhor, sobre a falta dela.
Pondé , com seu estilo niilista e ironia cáustica, afirma que não são os mais corajosos que sobrevivem e sim os covardes. É a covardia humana que nos preserva. Já havia ouvido minha melhor amiga que é filósofa falar a respeito. Uma vez, ela me falou sobre o poder de preservação do medo. Fiquei encantada e broxada ao mesmo tempo. Encantada por sua eloquência, seu raciocínio brilhante e duro. Broxada porque lá no fundo eu sou daquela categoria histérica de gente que se inspira em Jean Valjean. Para quem não conhece este nome, ele é o personagem protagonista do livro "Os miseráveis" de Victor Hugo.
Sim, o medo nos preserva. Gostando ou não desta ideia. Aceitando-a pacificamente, convidando-a para tomar chá inglês com madeleines ou se engalfinhando com ela como duas mulheres de rua disputando um homem canalha, não podemos negar que o medo é altamente paternalista. Ele nos poupa de muitos dissabores. De muitas dores de cabeça. Ele nos poupa da vida também.
Um dia antes de ler a crônica do Pondé, comentei com a minha mãe que os medianos para não dizer medíocres quase sempre recebem melhores oportunidades na vida. São sempre consultados , convidados para realizar um trabalho, dar um parecer etc
Não digo que medo e mediocridade sejam termos sinônimos. Diria que o medo está dentro de um contexto bem maior que é o da mediocridade. Na mediocridade estão a falta de talento, a falta de autoconhecimento, a ignorância convicta , a tacanhez de pensamento, a mesquinharia afetiva etc)
É triste perceber que quando somos covardes, socialmente falando nos saímos melhor. A coragem não é recompensada socialmente. Muito pelo contrário. Ela é castigada severamente. E enquanto apanhamos , podemos ver o brilho de fascinação nos olhos de quem bate. Lá no fundo , apanhamos porque tudo que desperta amor e não nos pertence deve ser trucidado.
Mais crimes hediondos foram cometidos em nome de Deus e do amor do que em nome do diabo e do ódio. Somos mais punidos pela nossa coragem do que covardia. E não existe perversidade maior do que amar.
O que não seria o moralismo exagerado do que uma modalidade disfarçada de covardia? Não faço porque tenho medo e como não quero admitir o meu medo, digo que é imoral. Odiamos os corajosos pois eles nos fazem pensar na vida que poderíamos ter. Espancar um corajoso é espancar o próprio desejo obscuro.
Sim, Pondé. Foi a covardia que nos fez nos estabelecer como raça. Pensamento tão amargo quanto hilário.
Ontem, lendo a crônica do filósofo Luis Felipe Pondé, que escreve todas às segundas na Folha e que por acaso foi meu professor na faculdade de Comunicação Social ( hoje eu imagino como deveria ser tedioso dar aula para uma molecada mal acostumada e mimada de 18 anos na FAAP), me inspirei a falar sobre a coragem. Ou melhor, sobre a falta dela.
Pondé , com seu estilo niilista e ironia cáustica, afirma que não são os mais corajosos que sobrevivem e sim os covardes. É a covardia humana que nos preserva. Já havia ouvido minha melhor amiga que é filósofa falar a respeito. Uma vez, ela me falou sobre o poder de preservação do medo. Fiquei encantada e broxada ao mesmo tempo. Encantada por sua eloquência, seu raciocínio brilhante e duro. Broxada porque lá no fundo eu sou daquela categoria histérica de gente que se inspira em Jean Valjean. Para quem não conhece este nome, ele é o personagem protagonista do livro "Os miseráveis" de Victor Hugo.
Sim, o medo nos preserva. Gostando ou não desta ideia. Aceitando-a pacificamente, convidando-a para tomar chá inglês com madeleines ou se engalfinhando com ela como duas mulheres de rua disputando um homem canalha, não podemos negar que o medo é altamente paternalista. Ele nos poupa de muitos dissabores. De muitas dores de cabeça. Ele nos poupa da vida também.
Um dia antes de ler a crônica do Pondé, comentei com a minha mãe que os medianos para não dizer medíocres quase sempre recebem melhores oportunidades na vida. São sempre consultados , convidados para realizar um trabalho, dar um parecer etc
Não digo que medo e mediocridade sejam termos sinônimos. Diria que o medo está dentro de um contexto bem maior que é o da mediocridade. Na mediocridade estão a falta de talento, a falta de autoconhecimento, a ignorância convicta , a tacanhez de pensamento, a mesquinharia afetiva etc)
É triste perceber que quando somos covardes, socialmente falando nos saímos melhor. A coragem não é recompensada socialmente. Muito pelo contrário. Ela é castigada severamente. E enquanto apanhamos , podemos ver o brilho de fascinação nos olhos de quem bate. Lá no fundo , apanhamos porque tudo que desperta amor e não nos pertence deve ser trucidado.
Mais crimes hediondos foram cometidos em nome de Deus e do amor do que em nome do diabo e do ódio. Somos mais punidos pela nossa coragem do que covardia. E não existe perversidade maior do que amar.
O que não seria o moralismo exagerado do que uma modalidade disfarçada de covardia? Não faço porque tenho medo e como não quero admitir o meu medo, digo que é imoral. Odiamos os corajosos pois eles nos fazem pensar na vida que poderíamos ter. Espancar um corajoso é espancar o próprio desejo obscuro.
Sim, Pondé. Foi a covardia que nos fez nos estabelecer como raça. Pensamento tão amargo quanto hilário.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
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