sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Criar juízo? Não faço a menor ideia do que ele come.

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



Deliro com as crônicas da Tati Bernardi. A de hoje, Despedida do colágeno, é tão boa como duas sem tirar.
 
Ela tece uma deliciosa ironia a respeito dos pseudo dramas da vida de uma mulher com mais de 35 anos que ainda não "criou juízo".
 
Da próxima vez que me falarem para criar juízo e amadurecer , eu vou dizer que não sei o que juízo come e por isso não posso cria-lo. Ou ainda posso responder que vou guarda-lo para uma emergência.
 
Não, não quero criar juízo tão cedo. Não quero ouvir que sou uma boa pessoa. Gente boa só leva no meio da cara para não dizer outra coisa mais picante.
 
Não quero que me sugiram que eu me inscreva num destes sites horripilantes de relacionamento para conhecer gente que eu não quero conhecer. Quero ser atropelada pelo acaso e arrastada para a cama por ele , mesmo que eu diga que não quero.
 
Não quero que me sugiram que eu congele meus óvulos para quem sabe ter um filho biológico quando encontrar um bom homem.
 
Eu não quero um bom homem! Tenho coceira só de pensar nos homens considerados bons pela nossa linda sociedade.
 
Muito menos quero botar mais um infeliz no mundo.  O sofrimento é a única garantia que posso oferecer a ele. Sofrimento e um quarto bem fofucho para fingir que a vida é boa e que com fé tudo brilhará para ele num futuro que pode chegar amanhã ou nunca.
 
Eu não quero amadurecer porque ainda não pisei na jaca.  Ou talvez tenha amadurecido cedo demais e agora quero rebobinar a fita, voltar no tempo, viver o que não vivi. Tenho este direito e quanto mais conselhos contrários receber, mais desejarei fazer caca.
 
Eu quero é sair por aí, rindo aquelas risadas escrachadas e idiotas de gente que não sabe beber, tragando com o olhar o que eu bem entender.
 
Eu quero é sair por aí, indo de lá para cá, bem acompanhada de um homem que deseje me conquistar.
 
Eu quero é sair por aí, de peito aberto, alma nua, pelos barzinhos boêmios da cidade e do mundo, sem pressa de ir ou ficar.
 
 
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas

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