domingo, 20 de dezembro de 2015

Sim, sou uma intelectual. Que vomitem na minha cara.


Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Lendo um post de uma colega professora, também formada em cinema como eu, senti uma grande nostalgia. O post se refere ao fechamento das diversas lojas da vídeo locadora 2001. Esta rede que é referência de filmes cult e de arte. Que tristeza...que melancolia...que vontade de tomar uma garrafa de vinho no gargalo.

Por muitos anos, ir à vídeo locadora, para mim, era onírico. Passar os olhos pelas prateleiras em busca de títulos instigantes era idílico, era meu lugar confortável no mundo.

Amo ir à locadoras desde meus 13 anos de idade. Tudo bem. Netflix é bem mais prático. Concordo. Mas existia uma magia profunda e deliciosa em passear pela locadora, desatenta ao mundo físico, vagando por um mundo de ideias, meu habitat natural. Sim, sou uma intelectual. Sei que para a maioria das pessoas esta frase soará nojenta pois para a maioria o importante é combinar bolsa com sapato, fazer drenagem linfática no traseiro e encher o rabo de dinheiro. Com uma bunda lisa e uma cara de nada e uma mente vazia  tudo se resolve. Vomito para este mundo nude.

Meu mundo é o das ideias. Tenho sempre a sensação de ter aberto a porta errada. Acho as pessoas, de um modo geral, profundamente enfadonhas com seu excesso de senso prático.  Odeio o mundo da burocracia, dos formulários, dos prazos, do preencha aqui com letra de forma e sem rasuras.

Odeio quando as coisas caem no sistema e principalmente quando levamos para a intimidade estes mesmos esquemas fechados.

Um dos motivos que meu ex noivo alegou quando terminou a relação foi a minha intelectualidade. Falou que duas pessoas intelectuais juntas complicava demais a vida. Não concordo. A coisa era complicada entre a gente porque eu era a única intelectual de fato. Ele decorava dados apenas. Eu o irritava com meu inglês raso e minhas ideias que perfuravam tudo. Um dia ele me defendeu à inutilidade da Filosofia. Oh my God! Como pude ficar com alguém que disse tamanho fiasco e ainda se achava intelectual?

Na minha próxima relação, não abro mão de alguém que ame Filosofia e faça um estupendo sexo oral. É o mínimo. É o básico. Menos do que isso é falta de amor próprio. É indignidade. Ah! E que não queira andar de mão dada comigo no shopping. Me faz lembrar do meu primeiro namoro horrendo.

Sim, sou um poço de traumas e más recordações. A vida dançou sim com a bunda na minha cara muitas vezes.

Mas voltando às locadoras...sim, elas eram para mim o ícone de uma vida inteligente , estimulante , que me pegava pela mão e me levava para galáxias distantes, em que tudo era feito de inteligência e amor...erotismo delicado e tenro, olho no olho, descoberta....


 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

4 comentários:

  1. Gosto do seu jeito livre de preconceito,de escrever sem se preocupar com os comentários,e ser verdadeira com você mesma!

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    1. Muito obrigada, Alberto. Aqui é meu cantinho confortável neste mundo podre, cheio de hipocrisia e preconceitos.

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  2. Silvia MARques muito interessante a maneira como escreve e isso deve ter relação de com a sua forma de viver ou vice-versa. Interessante isso gostei!

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  3. Sim. Não consigo escrever sobre aquilo que eu não sinto. Muito obrigada pelo comentário.

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