sábado, 19 de dezembro de 2015

Sobre amores e ódios

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Sou da mesma opinião do meu querido Buñuel. Ele achava que Sade era um amoroso, porque para Buñuel só podia amar quem fosse capaz de odiar.

Quem não odeia , provavelmente não ama também. Gosta apenas. Fica numa confortável e cor-de-rosa zona das emoções mortas.

O ódio é o avesso do amor contrariado, ferido. Como uma imagem refletida num espelho. Amor e ódio são idênticos, porém invertidos.

Existem ainda aqueles que amam e odeiam uma mesma ideia, um mesmo ideal, uma mesma pessoa. E batem e acariciam com a mesma mão. E agridem na intimidade e defendem publicamente. E ofendem com os olhos brilhantes, a boca prestes a beijar, num jogo esquizofrênico em que todos saem mutilados e extasiados.

É muito complexo odiar quem se ama. Entre o gozo de aniquilar a pessoa e o gozo de toma-la para si , a dúvida é grande e feroz e voraz e come as carnes por dentro.

Uma única certeza: a derrota é garantida. Se o ódio vencer, a pessoa perderá o ente amado para sempre no momento da conclusão da vingança. Como diria Confúcio antes de Cristo: "Quando você decidir se vingar, abra duas covas".

Se a pessoa optar pelo amor, mas sem perdoar de verdade o outro, o gozo que sentirá na cama sempre terá um gostinho de lágrimas e humilhação.

Sim, neste caso específico, só o perdão cristão poderia resolver a pendenga.



 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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