Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Vi um pequeno vídeo, com um fragmento de uma aula de Filosofia do professor Olavo de Carvalho, que me pareceu muito interessante, para não dizer irreverente. Ele disse o tipo de coisa que muitas vezes nós falamos só para nós mesmos e com certo receio e constrangimento.
Ele disse que pessoas que se aprofundam muito intelectualmente se sentem deslocadas no meio dos amigos que fizeram antes de iniciaram a vida intelectual.
É com tristeza que concordo com Olavo de Carvalho. Esta ficha caiu para mim há muitos anos, mais especificamente em 2008, quando cursava meu último ano de doutorado.
A gente não deixa de gostar de alguém que fez parte da nossa vida só porque tomamos rumos diferentes. O carinho continua. Mas realmente a coisa fica meio desconexa, sem liga, sem chilli.
Como diria Mário Sérgio Cortella , não há uma separação entre vida pessoal e profissional. A vida profissional também faz parte da pessoal. É tudo uma coisa só. E quando uma pessoa se apaixona pelo saber e passa a entender que quanto mais ela estuda , mais dúvidas surgem, fica complicado conviver com pessoas imersas em um mundo de certezas absolutas, frases prontas, lugares comuns, verdades fechadas.
Fica complicado ter uma conversa instigante com pessoas pouco abertas ao novo, ao diferente , que encaixam tudo e todos em categorias fechadas e que mostram pouco interesse ou até mesmo certo desprezo pelo conhecimento intelectual, formulando frases do gênero: "Para quê serve isso?"
Sim, algumas amizades antigas continuarão no nosso dia a dia. Outras uma vez por ano. Outras ficarão apenas no coração, num lugar aconchegante e terno. Mas no cotidiano mesmo, no embate do dia a dia, na luta diária , preciso concordar com Olavo de Carvalho: ficarão aquelas pessoas abertas e apaixonadas pelo conhecimento. Ficarão as pessoas que instigarão a nossa curiosidade cada vez mais e que nos farão alçar voos cada vez mais ousados , tendo como única certeza o abismo sem fundo que é o ato de aprender.
Sim, a vida intelectual é um caminho sem volta. Você já não rirá das mesmas piadas nem se encantará pelas mesmas conversas e filmes. Os seus livros de cabeceira serão outros e seu conceito de diversão será considerado estranho para a maioria. Você de vez em quando deixará escapar alguma excentricidade que despertará expressões desdenhosas. Em alguns momentos, você vai se sentir muito sozinho. Muito incompreendido. Em outros , mentalmente , vai mandar todos ao redor ir à merda , com um sorrisinho sarcástico de canto de boca.
Você vai passar a questionar tudo e todos, desde os frívolos padrões estéticos impostos pela sociedade até os temas mais embaraçosos como o incesto.
Nada é certo ou definitivo para você. Tudo pode ser debatido. Tudo pode ser destrinchado. É angustiante. É claustrofóbico. É lindo.
Vi um pequeno vídeo, com um fragmento de uma aula de Filosofia do professor Olavo de Carvalho, que me pareceu muito interessante, para não dizer irreverente. Ele disse o tipo de coisa que muitas vezes nós falamos só para nós mesmos e com certo receio e constrangimento.
Ele disse que pessoas que se aprofundam muito intelectualmente se sentem deslocadas no meio dos amigos que fizeram antes de iniciaram a vida intelectual.
É com tristeza que concordo com Olavo de Carvalho. Esta ficha caiu para mim há muitos anos, mais especificamente em 2008, quando cursava meu último ano de doutorado.
A gente não deixa de gostar de alguém que fez parte da nossa vida só porque tomamos rumos diferentes. O carinho continua. Mas realmente a coisa fica meio desconexa, sem liga, sem chilli.
Como diria Mário Sérgio Cortella , não há uma separação entre vida pessoal e profissional. A vida profissional também faz parte da pessoal. É tudo uma coisa só. E quando uma pessoa se apaixona pelo saber e passa a entender que quanto mais ela estuda , mais dúvidas surgem, fica complicado conviver com pessoas imersas em um mundo de certezas absolutas, frases prontas, lugares comuns, verdades fechadas.
Fica complicado ter uma conversa instigante com pessoas pouco abertas ao novo, ao diferente , que encaixam tudo e todos em categorias fechadas e que mostram pouco interesse ou até mesmo certo desprezo pelo conhecimento intelectual, formulando frases do gênero: "Para quê serve isso?"
Sim, algumas amizades antigas continuarão no nosso dia a dia. Outras uma vez por ano. Outras ficarão apenas no coração, num lugar aconchegante e terno. Mas no cotidiano mesmo, no embate do dia a dia, na luta diária , preciso concordar com Olavo de Carvalho: ficarão aquelas pessoas abertas e apaixonadas pelo conhecimento. Ficarão as pessoas que instigarão a nossa curiosidade cada vez mais e que nos farão alçar voos cada vez mais ousados , tendo como única certeza o abismo sem fundo que é o ato de aprender.
Sim, a vida intelectual é um caminho sem volta. Você já não rirá das mesmas piadas nem se encantará pelas mesmas conversas e filmes. Os seus livros de cabeceira serão outros e seu conceito de diversão será considerado estranho para a maioria. Você de vez em quando deixará escapar alguma excentricidade que despertará expressões desdenhosas. Em alguns momentos, você vai se sentir muito sozinho. Muito incompreendido. Em outros , mentalmente , vai mandar todos ao redor ir à merda , com um sorrisinho sarcástico de canto de boca.
Você vai passar a questionar tudo e todos, desde os frívolos padrões estéticos impostos pela sociedade até os temas mais embaraçosos como o incesto.
Nada é certo ou definitivo para você. Tudo pode ser debatido. Tudo pode ser destrinchado. É angustiante. É claustrofóbico. É lindo.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas
Por isso, Sílvia, que nunca esqueço daquela distinção, que já comentei em um texto seu, feita por um amigo sobre relações e contatos que estabelecemos nas nossas vidas. A amizade, um relacionamento, pode, com o tempo, tornar-se um simples contato.
ResponderExcluirEu não sei como você melhor define amizade, mas gosto muito da forma como Aristóteles o fez: "Uma alma em dois corpos." Acho mais clara e precisa impossível essa definição! O que fundamenta uma amizade é a unidade de intelectos, essências e éticas. Sendo assim, concordo com o Olavo também que, quanto maiores forem nossos mergulhos intelectuais, maiores serão as dificuldades de mantermos as mesmas relações. Eu diria mais (talvez, por experiência própria), maior é chance de sermos chamados de chatos, de começarmos a falar sobre algo mais profundo e as pessoas fingirem que nos escutam ou trocarem logo de assunto por que o comum, o ordinário é o que faz parte da sua realidade e lhe foi ensinado a vida inteira, ou seja, a solidão tende a ser uma leal companhia. E mais, por isso falei aquele dia sobre a parte burra que precisamos manter. A vida do idiota é muito mais fácil nesse mundo! E idiota nos dois sentidos etimológicos falando, tanto o ignorante quanto o que só pensa em si mesmo. O meu único consolo e grande incentivo pela profundidade é que só através dela posso chegar nas minhas reais virtudes ou talentos, para que, como cita o Cortella sempre, dizia o poeta Ledo Ivo: "O que sobre da vida é obra, o resto soçobra." Eu só quero me conhecer, tirar o máximo do meu ser para construir a melhor obra ou legado possível, mesmo que seja entre meus familiares, colegas de agência, vizinhos, nas pessoas que consigo ajudar através de projetos voluntários, enfim, é isso que me interessa, viver autonomamente e escrever a minha história, não ser coadjuvante, um mero sobrevivente do que me impõe. Como eu disse um dia pra minha mãe, e logicamente a choquei, posso morrer sem amigos de verdade, mas se deixar meu legado e nunca deixar de ser eu mesmo, morrerei feliz e realizado! Rs Aulas com o Prof. Clóvis dao nisso, rs.
Abraços, Sílvia e parabéns pela reflexão sobre o tema!