Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Por que devemos perdoar quem nos destruiu e foi ser feliz depois? Nunca pude entender verdadeiramente este critério de justiça pregado pelas mais variadas religiões, embora tenha recebido formação religiosa.
Acho que por medo de destoar do script social e ser julgado pelas pessoas, a maioria cala esta pergunta na boca e na alma. Mas sempre pensei muito sobre ela, embora também tivesse receio de externar esta dúvida que me acompanhou por quase toda a vida.
De onde tiraram que devemos perdoar quem nos causou danos irremediáveis e depois foi curtir a vida numa boa, sem sofrer um décimo daquilo que sofre a sua vítima? Que tipo de lógica permeia este tipo de crença e pensamento que subjuga quem foi atropelado e aplaude quem atropelou, deu ré, passou por cima de novo e saiu sorrindo?
Como diria Sartre, não consigo entender nem respeitar quem perdoa seus algozes. Também não consigo compreender como uma pessoa pode se sentir bem e feliz simplesmente "perdoando" quem não lhe pediu perdão. Quem, muitas vezes, até ironizaria a ideia de pedir perdão às suas vítimas.
Sim, eu sei. O tema é cascudo. Mas a Garota desbocada é um espaço para isso mesmo. Aqui não cabe a polidez acadêmica do autor que escreve na primeira pessoa do plural para evitar constrangimentos.
Aqui, estou inteira e quebrada. Completamente nua e indignada. E faço novamente esta pergunta para os libertários, para aqueles que tem alma grandiosa. Para aqueles que não temem se enxergar imperfeitos. Por quê devemos perdoar quem não nos pede perdão? Por quê devemos nos alegrar com a felicidade daqueles que fizeram de tudo para roubar a nossa?
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.