terça-feira, 10 de novembro de 2015

Acho que encontrei a mim mesma quando me perdi

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



Lendo hoje um post com um pensamento de Paulo Leminski fiquei inspirada a escrever este pequeno artigo. Estava decidida a deixar a garota desbocada falando sozinha hoje, mas Paulo Leminski me induziu a fazer companhia a esta garota que me atropelou recentemente e que conheço dia a dia com um pouco de medo. 

Ela me enreda num jogo complexo com seu sorriso assimétrico. Ela é bem exigente. Ela tira sarro de mim antes de me afagar e me encher de beijos. Sim, gosto dela. Gosto da garota desbocada muito mais do que gostei um dia de mim mesma.

Mas vamos aos post! " Salve-se quem quiser. Perca-se quem puder".  Sim, perder-se é muito mais complicado do que salvar-se. Salvar-se é protocolar, está minuciosamente descrito e explicado no manual social.

Salvar-se não cria ruído. É remar a favor da maré. É dizer sim quando esperam o seu sim e dizer não quando esperam o seu não. É ceder à vontade de quem pode mais. É tornar-se parte da cenografia do teatrão social em que cada recebe um papel e gostando ou não dele, deve-se fazê-lo com precisão cirúrgica e ares de profunda resignação, pensando frases do gênero" Um dia as coisas melhoram. Um dia chega a minha vez".

Não! As coisas não melhoram! Aprendi isso com a minha mãe. As coisas pioram porque envelhecemos, adoecemos, perdemos os entes queridos e as falsas esperanças que anestesiam a vida. 

A nossa vez nunca chegará se não tivermos voz. Muitas vezes lutando e gritando não adianta muito. Calado é que a coisa não rola mesmo.

Salvar-se é aceitar ser subjugado, anulado. Sim, salvar-se é simples. Sempre tem alguém vomitando em nossos ouvidos que a vida é assim mesmo. É o que esperam.

Perder-se não...para perder-se é preciso muita coragem e savoir faire.  É preciso ultrapassar os limites do próprio medo, da própria dor. 

Perder-se exige criatividade, ousadia. Perder-se exige se deixar levar, sem bússolas ou GPS, é deixar-se levar sem tentar encaixar tudo numa planilha. É abrir mão de certezas absolutas. 

Perder-se exige que deixemos de controlar a situação. Perder-se é soltar as rédeas da vida e galopar ao sabor do talvez. 

Recentemente, percebo que é bom perder o controle. A perda do controle traz à tona o lado mais humano, mais tenebrosamente lindo. Só quem perde o controle deixa-se desnudar em seu lado mais verdadeiro. Se é que existe alguma verdade...


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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