sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Um bom livro

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Indo e voltando de Brasília neste último feriado, mergulhei em uma deliciosa leitura que fez o tempo passar incrivelmente depressa.

Não sou mineira, mas tenho o costume de chegar bem antes nos compromissos. Fiquei um tempão sozinha no aeroporto, mas o tempo passou bem depressa graças a minha inestimável companhia: um livro que apresenta o olhar de um psicólogo sobre o cinema.

Adoro bater papo com pessoas desconhecidas que viajam ao meu lado, mas naquele dia o livro me bastou.

É delicioso quando um livro nos absorve e quando não precisamos ler mecanicamente, por obrigação.

Sou fascinada por tudo aquilo que faz a minha imaginação fluir e minha mente se expandir. Meus neurônios são polvos que adoram agarrar com seus tentáculos novos saberes, novas informações, novos olhares ou simplesmente rearranjar o que eu já conhecia ou pensava conhecer.

Diante de um conhecimento novo, um parágrafo desconcertante, uma cena impactante, sempre fico com os olhos meio estatelados e os lábios entreabertos. Parece que quero engolir a novidade e torná-la parte de mim como uma boa mordida num sanduíche delicioso, que mastigamos meio ansiosamente, entre gemidinhos desfalecidos.

Não consigo imaginar uma vida sem aprendizado, sem estudo, sem leitura, sem filmes de arte, sem conversas densas com pessoas peculiares, sem monólogos internos, sem livros instigantes durante voos domésticos. Sem livros avassaladores numa tarde cinzenta de domingo, em que do mundo real só existe o cheiro de café fresco e fumegante.

Encontrar um bom livro é como fazer um amigo ou apaixonar-se. Uma paixão correspondida, pois o livro não escapa de nossas mãos ávidas por virar a próxima página e degustar a emoção seguinte.

Bons livros fazem a cama ficar mais macia, o tempo mais fluido, a vida com mais sentido.

Se por um lado, bons livros nos entristecem pois desnudam todo o nosso potencial para a tragédia, eles nos salvam mesmo que temporariamente da mediocridade da vida.

 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas

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