Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Um pouco antes do almoço, pego uma taça grande e me sirvo de um pouco de vinho tinto. Ainda de camisola, depois do meio-dia, com a janela escancarada do quarto para aliviar um pouco o calor modorrento, acomodo-me confortavelmente na cama enquanto entro na fase final do romance "Precisamos falar sobre o Kevin".
Bebericando de forma entojada meu vinho como se tivesse incorporado Eva, mãe de Kevin, penso com certa ironia que a minha vida era muito boa.
Diante do computador, jogando estas palavras meio instintivamente, volto a pensar no tema "vida boa" e por mais que me sinta muito bem, tento entender por que ainda sinto uma espada atravessar a minha alma. Existe uma melancolia em mim semelhante à gordura de picanha.
Ok.Ok.Ok. A comparação foi grotesca. Melancolia tem mais a ver com taças de vinho tinto ou camafeus de nozes. Comparar melancolia com gordura bovina é de mau gosto, mas a comparação é pertinente. Não adianta extirpar a pobre da gordura. A gordura entranha na picanha da mesma forma que tenho esta melancolia colorida que mareja meus dias.
As cores me enlaçam, os sons beijam minha boca e um simples odor pode penetrar-me como a mais cálida e desventurada aventura amorosa.
Anteriormente sentia uma tristeza pontiaguda, folhetinesca. Minha tristeza era grande e implacável, me esbofeteava dos dois lados do rosto e eu quase pedia perdão por ser espancada sem dó nem piedade, raramente ganhando uma gotinha de afeto e calor humano.
Hoje tenho uma alegria pequena , express. Minha alegria é como um bom filme visto da tela de um Smartphone. Um bom filme que já conheço o final. Minha alegria tem gosto de comida boa ao estilo Outback. Sabemos exatamente o que virá pela frente. Um bom sem grandes expectativas ou desdobramentos. Minha alegria é banal.
Antes eu mesclava momentos de heroísmo patético ( todo herói é um pouco pateta se a gente for parar para pensar. Para falar a verdade, nem é preciso parar mais do que 7 ou 8 segundos) com outros estridentes de anti-heroísmo.
Hoje , sou apenas eu mesma, bebericando meu vinho, com um olhar cético e cínico enquanto degluto minha alegria embaladinha, acompanhada por sachês de Ketchup e batatinhas fritas. Às vezes, prefiro comer um sanduba acompanhado por batatas assadas com alecrim para sentir que minha alegria é mais gourmet e menos banal.
Um pouco antes do almoço, pego uma taça grande e me sirvo de um pouco de vinho tinto. Ainda de camisola, depois do meio-dia, com a janela escancarada do quarto para aliviar um pouco o calor modorrento, acomodo-me confortavelmente na cama enquanto entro na fase final do romance "Precisamos falar sobre o Kevin".
Bebericando de forma entojada meu vinho como se tivesse incorporado Eva, mãe de Kevin, penso com certa ironia que a minha vida era muito boa.
Diante do computador, jogando estas palavras meio instintivamente, volto a pensar no tema "vida boa" e por mais que me sinta muito bem, tento entender por que ainda sinto uma espada atravessar a minha alma. Existe uma melancolia em mim semelhante à gordura de picanha.
Ok.Ok.Ok. A comparação foi grotesca. Melancolia tem mais a ver com taças de vinho tinto ou camafeus de nozes. Comparar melancolia com gordura bovina é de mau gosto, mas a comparação é pertinente. Não adianta extirpar a pobre da gordura. A gordura entranha na picanha da mesma forma que tenho esta melancolia colorida que mareja meus dias.
As cores me enlaçam, os sons beijam minha boca e um simples odor pode penetrar-me como a mais cálida e desventurada aventura amorosa.
Anteriormente sentia uma tristeza pontiaguda, folhetinesca. Minha tristeza era grande e implacável, me esbofeteava dos dois lados do rosto e eu quase pedia perdão por ser espancada sem dó nem piedade, raramente ganhando uma gotinha de afeto e calor humano.
Hoje tenho uma alegria pequena , express. Minha alegria é como um bom filme visto da tela de um Smartphone. Um bom filme que já conheço o final. Minha alegria tem gosto de comida boa ao estilo Outback. Sabemos exatamente o que virá pela frente. Um bom sem grandes expectativas ou desdobramentos. Minha alegria é banal.
Antes eu mesclava momentos de heroísmo patético ( todo herói é um pouco pateta se a gente for parar para pensar. Para falar a verdade, nem é preciso parar mais do que 7 ou 8 segundos) com outros estridentes de anti-heroísmo.
Hoje , sou apenas eu mesma, bebericando meu vinho, com um olhar cético e cínico enquanto degluto minha alegria embaladinha, acompanhada por sachês de Ketchup e batatinhas fritas. Às vezes, prefiro comer um sanduba acompanhado por batatas assadas com alecrim para sentir que minha alegria é mais gourmet e menos banal.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário