segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Então, tá combinado

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS



Ouvir a música "Tá combinado" de Caetano Veloso na voz de Maria Betânia me rouba qualquer possibilidade de dissimulação ou tentativa de pôr uma ordem, mesmo que meia boca, no caos.

Nunca, nada,   absolutamente nada está combinado quando o assunto é amor.

Mais cedo ou mais tarde, como se costuma dizer popularmente, alguma coisa qualquer dá merda. E quando dá merda, não tem mais jeito. A alma fica marcada, a alma fica impregnada de beleza e horror. 

A alma fica impregnada de intensidade e com olhos cheios de perplexidade, olhamo-nos sem conseguir explicar o que entendemos desde sempre.

Não. Nada, absolutamente nada está combinado. Sempre quis alguém que pegasse em minha mão com força e com um simples olhar me convidasse para nos atirarmos nos abismos das possibilidades múltiplas. 

Sempre quis me perder dentro de alguém que se achasse em mim. Duas crianças travessas se descobrindo  por meio do outro.

Não há nada mais cafona do que esta história de duas metades da laranja. Sou uma laranja inteira, pronta para ser descascada e devorada por uma alma ávida.

Não há nada mais chato do que esta história de encontrar alguém para te pôr na linha. Bom mesmo é sair dela e andar trôpega por aí, sem rumo, sem siso, com riso fácil na boca de coquete.

Agora escuto "Flor amorosa" de Joaquim Calado, na voz de Maria Martha, música que divinizo desde os cinco anos dançando de forma desajeitadamente buliçosa. 

Sim, não ouvia músicas da Xuxa aos cinco anos. Eu gostava de "Flor amorosa", "Carinhoso" e músicas de gente que já sabe como é gostoso  sofrer por amor. 

Tudo bem que com cinco anos as paixões não são tão complexas. Mas podem ser intensas e apenas superadas por uma Barbie nova.

E entre choros e bossa nova, vou caminhando meio sozinha, despencando dos meus abismos interiores e imaginários. Nada que importa pra valer é real.

A palavra realidade me cheira a café requentado depois do almoço coletivo no refeitório da empresa. 

A palavra realidade soa como música de qualidade duvidosa na altura máxima numa tarde calorenta.





Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.

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