Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Li uma reportagem em que uma jovem de 18 anos afirmava que nenhuma prótese é melhor do que um órgão debilitado. Nenhuma verdade, por pior que seja, é inferior a um simulacro.
Tentei fugir de mim mesma, atirando a minha libido nas panelas e reciclando minha loucura em um amor gentil, com gosto de bolinho de chuva preparado por mãos de mãe.
Tentei desviar o olhar do abismo que sempre caminhou pregado no meu destino, me reinventando como alguém que tem o meu rosto, mas que esconde meu sorriso docemente cáustico por detrás de uma serenidade que nunca tive.
Sou pavorosa. Sob a maquilagem de moça casadoira, meus olhos brilham cruelmente, cheios de um desejo dilacerante que me corta as carnes da alma como a ponta fina e fria de um punhal.
Tentei fugir de mim mesma , me livrar de minha tenebrosa luz cheia de sombras em braços cordiais.
Devo ter lançado mil olhares de súplica e desespero a todos que passaram por mim, sem olhar-me ou olhando-me com disfarçado desprezo.
O excesso de polidez é o que mais fere uma mulher. Chega a ser imoral. Deixa marcas roxas na alma e um gosto de nada no coração. Deveria ser punido por lei. Deveria ser considerado pecado mortal.
Tentei fugir de mim mesma , da minha incrível potencialidade para o caos em uma rotina cheia de um ensaiado amor.
Tentei fugir de mim mesma combinando o inusitado, criando regras que não poderia respeitar, virando as minhas costas tristes e cansadas para tudo aquilo que não queria ver.
Tentei fugir de mim mesma, prendendo-me a alguém que me impedisse de ser eu mesma, que me impedisse de explodir em loucura e êxtase.
Criei todo um mundo de falso afeto para fugir ao horror que tenho de mim, da minha passionalidade estridente e cálida, da minha boca profana, dos meus olhos perversos, dos meus desejos insaciáveis, do meu talento inato para a tragédia , para o amor louco e a efemeridade.
Vejo-me sem disfarces através de seus olhos e sinto medo. Sinto uma alegria insuportável rasgar-me ao meio. Quase gargalho enlouquecida e em febre.
Li uma reportagem em que uma jovem de 18 anos afirmava que nenhuma prótese é melhor do que um órgão debilitado. Nenhuma verdade, por pior que seja, é inferior a um simulacro.
Tentei fugir de mim mesma, atirando a minha libido nas panelas e reciclando minha loucura em um amor gentil, com gosto de bolinho de chuva preparado por mãos de mãe.
Tentei desviar o olhar do abismo que sempre caminhou pregado no meu destino, me reinventando como alguém que tem o meu rosto, mas que esconde meu sorriso docemente cáustico por detrás de uma serenidade que nunca tive.
Sou pavorosa. Sob a maquilagem de moça casadoira, meus olhos brilham cruelmente, cheios de um desejo dilacerante que me corta as carnes da alma como a ponta fina e fria de um punhal.
Tentei fugir de mim mesma , me livrar de minha tenebrosa luz cheia de sombras em braços cordiais.
Devo ter lançado mil olhares de súplica e desespero a todos que passaram por mim, sem olhar-me ou olhando-me com disfarçado desprezo.
O excesso de polidez é o que mais fere uma mulher. Chega a ser imoral. Deixa marcas roxas na alma e um gosto de nada no coração. Deveria ser punido por lei. Deveria ser considerado pecado mortal.
Tentei fugir de mim mesma , da minha incrível potencialidade para o caos em uma rotina cheia de um ensaiado amor.
Tentei fugir de mim mesma combinando o inusitado, criando regras que não poderia respeitar, virando as minhas costas tristes e cansadas para tudo aquilo que não queria ver.
Tentei fugir de mim mesma, prendendo-me a alguém que me impedisse de ser eu mesma, que me impedisse de explodir em loucura e êxtase.
Criei todo um mundo de falso afeto para fugir ao horror que tenho de mim, da minha passionalidade estridente e cálida, da minha boca profana, dos meus olhos perversos, dos meus desejos insaciáveis, do meu talento inato para a tragédia , para o amor louco e a efemeridade.
Vejo-me sem disfarces através de seus olhos e sinto medo. Sinto uma alegria insuportável rasgar-me ao meio. Quase gargalho enlouquecida e em febre.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
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