terça-feira, 3 de novembro de 2015

Sou simplória

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Lendo um artigo escrito pela antropóloga Miriam Goldenberg sobre as fragilidades masculinas , não pude deixar de rir internamente de mim mesma, dos meus próprios erros, das minhas lacunas.
 
Um homem incrivelmente corajoso afirmou ter se casado com uma mulher fútil por puro medo da solidão. Uma avó que queria casar de véu e grinalda numa festa mega cara. Uma mulher muito mais preocupada em ostentar e encontrar alguém para sustentá-la do que amá-la.
 
Por sua vez, ele também se sente ridículo por ter casado com uma mulher patética.
 
O que somos capazes de fazer para fugir da solidão?
 
O que faz um homem lúcido como este casar-com  uma perua dispendiosa sendo que existem mulheres muito mais humanas? O que faz alguém optar por uma relação vazia e medíocre? O que faz alguém desistir de um amor por medo de perdê-lo?
 
Tenho muita dificuldade para entender quem termina ou inicia uma relação por motivos racionais. Por mais que eu saiba que a maioria das pessoas é bem racional mesmo, nunca pude dizer adeus a quem eu amava ou pelo menos imaginava amar.
 
Eu posso fazer mil sacrifícios para ficar junto, mas não posso dizer adeus. Deixar a quem se ama é deixar a si mesmo. É uma automutilação. Meu pensamento é simplório, mas artistas são de certa forma muito simplórios pois não compreendemos a dinâmica do mundo adulto. Só entendemos sobre o amor e a poesia da vida. Só entendemos sobre o brilho dos olhos, o torpor na alma.
 
Uma vez escrevi num livro que ainda não foi publicado que quando duas pessoas se amam devem ficar juntas sob qualquer circunstância. Sim, sou bem simplória, pois sou uma criança e só entendo das coisas do coração. Todo o resto se dilui pelas frestas da minha alma de poeta andarilha e esfarrapada.  Mas vejo em toda desistência uma profunda falta de amor.
 
 
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas

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