Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Se a vida fosse uma obra de arte ( e às vezes ela é realmente) poderíamos estabelecer paralelos deliciosos entre o nosso mais banal dia a dia e obras que marcaram a História das setes artes.
Quando fazemos arranjinhos sociais, pequenas conspirações domésticas, tomando chá e comendo bolinhos, a vida fica com ares de Jane Austen.
Quando uma tia ou amiga mais velha e experimentada nos diz calmamente como devemos nos portar para transmitir confiabilidade a um homem e consequentemente conquistar vantagens, sinto-me na pele de Lizzy Benett.
Quando tudo foge ao controle e a paixão surge brutal, impiedosa e redentora, posso fechar os olhos e ouvir "Esperame en el cielo", música tema do filme "Matador" de Almodóvar.
Quando mergulhamos num romance intelectual e verborrágico que mais se parece uma amizade do que namoro e faz-se sexo oral falando literalmente, me vejo num filme da Nouvelle Vague ou de Woody Allen.
Quando apaixonar-se torna-se o pior dos martírios, a mais miserável das desgraças, recordo-me das irmãs Brontë e suas literaturas desconcertantes.
Quando me sinto forte e destemida e lanço um olhar sedutor para mim, balançando brincos de strass numa atitude infantil e egóica, sinto que o mundo pode ser meu como pensava ingenuamente a desafortunada Scarlet O'Hara.
Quando o tédio parece a companhia perfeita para um fim de tarde modorrento, tudo que desejo é um copo de vinho e um livro como "A idade da razão", de Sartre.
Quando entro no metrô e penso nas milhares possibilidades desconhecidas da vida e do prazer, calçando minhas botas surradas, imagino-me como a personagem de Maria Schneider em Último tango em Paris e basta colocar um chapéu exótico e lançar um olhar ao nada para me transformar na melancolicamente erótica escritora francesa Marguerite Duras quando era ainda uma menina.
Quando corro pela rua, arrastando algum aluno pela mão, sinto-me Eva Green em "Os sonhadores" , imitando um filme de Godard.
Quando estou cansada e farta de tudo, dos nojentos mecanismos da sociedade, me sinto tão esmagada quanto Judas do romance Judas, o obscuro de Thomas Hardy. E quando me revolto contra Deus e sinto uma saudade insuportável, penso em Graham Greene. E quanto sinto o inconformismo paralisar meu ser, me lembro da intensa April de "Revolutionary road". E quando me maquio na frente de um espelho e vejo a mim mesma, penso na atriz de Gabrielle Collete.
Normalmente me sinto bem como a Lucília de "Floradas na serra": destemida e patética. Mas incorporo bem a suave professora de "Jane Eyre", um resquício de bondade no inferno.
Às vezes, a vida assume as cores falsamente suaves de uma música clássica. Em outros momentos, sai-se para dançar ao som de um ritmo mais popular e buliçoso ao estilo Chiquinha Gonzaga.
Às vezes, a vida se torna uma arte ultra pessoal e passional como os quadros de Frida Khalo ou sedutoramente melancólica como os de Modigliani ou relaxante e delicada como os de Monet.
Às vezes a vida se torna uma ópera. Em outros momentos, tragédia, comédia, melodrama barato de banca de jornal.
Sim, pensando bem a vida é arte sim. Basta olharmos com os olhos da mente.
Se a vida fosse uma obra de arte ( e às vezes ela é realmente) poderíamos estabelecer paralelos deliciosos entre o nosso mais banal dia a dia e obras que marcaram a História das setes artes.
Quando fazemos arranjinhos sociais, pequenas conspirações domésticas, tomando chá e comendo bolinhos, a vida fica com ares de Jane Austen.
Quando uma tia ou amiga mais velha e experimentada nos diz calmamente como devemos nos portar para transmitir confiabilidade a um homem e consequentemente conquistar vantagens, sinto-me na pele de Lizzy Benett.
Quando tudo foge ao controle e a paixão surge brutal, impiedosa e redentora, posso fechar os olhos e ouvir "Esperame en el cielo", música tema do filme "Matador" de Almodóvar.
Quando mergulhamos num romance intelectual e verborrágico que mais se parece uma amizade do que namoro e faz-se sexo oral falando literalmente, me vejo num filme da Nouvelle Vague ou de Woody Allen.
Quando apaixonar-se torna-se o pior dos martírios, a mais miserável das desgraças, recordo-me das irmãs Brontë e suas literaturas desconcertantes.
Quando me sinto forte e destemida e lanço um olhar sedutor para mim, balançando brincos de strass numa atitude infantil e egóica, sinto que o mundo pode ser meu como pensava ingenuamente a desafortunada Scarlet O'Hara.
Quando o tédio parece a companhia perfeita para um fim de tarde modorrento, tudo que desejo é um copo de vinho e um livro como "A idade da razão", de Sartre.
Quando entro no metrô e penso nas milhares possibilidades desconhecidas da vida e do prazer, calçando minhas botas surradas, imagino-me como a personagem de Maria Schneider em Último tango em Paris e basta colocar um chapéu exótico e lançar um olhar ao nada para me transformar na melancolicamente erótica escritora francesa Marguerite Duras quando era ainda uma menina.
Quando corro pela rua, arrastando algum aluno pela mão, sinto-me Eva Green em "Os sonhadores" , imitando um filme de Godard.
Quando estou cansada e farta de tudo, dos nojentos mecanismos da sociedade, me sinto tão esmagada quanto Judas do romance Judas, o obscuro de Thomas Hardy. E quando me revolto contra Deus e sinto uma saudade insuportável, penso em Graham Greene. E quanto sinto o inconformismo paralisar meu ser, me lembro da intensa April de "Revolutionary road". E quando me maquio na frente de um espelho e vejo a mim mesma, penso na atriz de Gabrielle Collete.
Normalmente me sinto bem como a Lucília de "Floradas na serra": destemida e patética. Mas incorporo bem a suave professora de "Jane Eyre", um resquício de bondade no inferno.
Às vezes, a vida assume as cores falsamente suaves de uma música clássica. Em outros momentos, sai-se para dançar ao som de um ritmo mais popular e buliçoso ao estilo Chiquinha Gonzaga.
Às vezes, a vida se torna uma arte ultra pessoal e passional como os quadros de Frida Khalo ou sedutoramente melancólica como os de Modigliani ou relaxante e delicada como os de Monet.
Às vezes a vida se torna uma ópera. Em outros momentos, tragédia, comédia, melodrama barato de banca de jornal.
Sim, pensando bem a vida é arte sim. Basta olharmos com os olhos da mente.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
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