quarta-feira, 23 de março de 2016

Quando "virei" doutora

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Hoje faz exatamente sete anos que defendi a minha tese e me foi concedido o título de doutora em Comunicação e Semiótica. Deveria estar em crise com o meu doutorado pois sete é um número crítico para relacionamentos afetivos.

De certa forma , a minha vida acadêmica tem sido o meu mais fiel relacionamento amoroso. Nada de fogos de artifícios ou micaretas na alma. ( Mentira! Temos tomado bons porres juntos) Minha vida acadêmica tem sido presente e tem segurado a minha mão ao atravessar a rua... e só quem me conhece sabe o quanto preciso de alguém para segurar a minha mão ao atravessar a rua e a vida. Pensando em alguma poesia, posso ser atropelada por um carro ou pela circunstância aparentemente mais banal. 

O virei com aspas faz alusão á uma piadinha do meu orientador. As pessoas se referem aos doutores como se passássemos por um processo milagroso. A gente levanta a espada , fala pelos poderes de Greyskull e adquire poderes e uma força descomunal.

Não, doutores não têm super poderes nem se fazem do dia para a noite. Doutores são pessoas que avançaram mais na leitura de um livro complexo e que descobriram num misto de desencantamento e euforia melancólica que quanto mais a gente aprende , menos respostas aparecem.

E de certa forma, a gente fica um pouco triste pois descobre que não existe uma grande verdade. Não existe um porto-seguro das ideias, onde elas podem viver livres, leves e soltas, sem depender de uma boa terapia e algumas doses de Martini.


Por detrás de um título pomposo, às vezes, se esconde uma realidade meio cínica: um certo desdém por nós mesmos.  Um certo sentimento envergonhado e ridículo quando pensamos em nossos tempos de inúmeras certezas.


Sim, nossa realidade é meio cínica...não que não haja um certo charme nisso. Alguém pode acender meu cigarro imaginário, por favor?
 






 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








3 comentários:

  1. Doutora, sim! Mas, também é uma Heroína nas horas vagas. É capaz de defender à todos com a mesma força e coragem. Seu super poder? As palavras. É o seu poder de escrever o que a nossa alma e o nosso coração diz.E nos salva das inquietações o suficiente pra continuar firme e avante nessa doce aventura que é viver.

    ResponderExcluir
  2. Não sei se mereço elogios tão calorosos, mas os recebo e os agradeço com todo o coração.

    ResponderExcluir