terça-feira, 29 de março de 2016

Quem sou eu? Não faço a menor ideia!

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Cansei de correr atrás do meu verdadeiro eu. Quando bem jovem, no terceiro semestre do mestrado, achei estranho quando colegas meus brincaram com a impossibilidade de se definirem. De saberem exatamente quem eles eram.

Comecei a degustar tal pensamento, mas não pude engoli-lo. Na minha cabeça, eu sabia exatamente quem eu era e o que eu queria.

Sim, algumas piadas a gente custa a entender...o famoso "cair a ficha" leva um tempinho ou um tempão. 

A gente passa a vida correndo atrás da gente mesmo, se buscando nas brechas do mundo, nas brechas dos outros. A gente passa a vida tentando se ver no olhar dos amantes, dos amigos, de todos aqueles que mais amamos ou odiamos. 

A gente passa a vida tentando esboçar um contorno fiel de nós mesmos a partir da subjetividade do outro. O outro outro mesmo. E o outro que existe na gente. Ou outros que existem na gente...

A gente pode ser tanta coisa que nem imagina e não ser o que a gente pensa ser. Papo de louco? Em parte...

Na minha opinião não existe maior loucura ou maior falta de lucidez do que não se imaginar louco ou perdido. Sim, estamos perdidos, à deriva...agradando ou não esta ideia. É, não adianta fazer beicinho não como uma criança que olha cheia de repulsa para um prato de espinafre ou qualquer outro treco verde.

Agradando ou não, a gente tem que comer o verde da verdade que de verdade tem muito pouco. Como diria Lacan, a verdade está no campo do real e o real nos é impossível de alcançar. É  tesouro ou dejeto escondido a sete chaves num cofre com a senha esquecida. 

Temos que conviver com a mentira mesmo ...mais do que isso...com centenas de versões da mentira...e acabamos , muitas vezes, por nos apaixonar pelas duas ou três versões que parecem mais verdadeiras e que talvez sejam as mais falsas...pérolas falsas são mais vistosas do que as verdadeiras...

É, não tem muito jeito não. A gente tem que ir para a cama toda noite com um impostor. A gente tem que acordar toda manhã, se espreguiçar e abençoar ou maldizer o dia com um impostor que pode ser o mesmo ou não que foi dormir com a gente.

A gente tem que servir chá com torradas para aquele sujeito que disseram que a gente é  e depois se olhar no espelho num misto de perplexidade, encantamento e cinismo. "Quem sou eu"? Não inventaram ainda pergunta mais difícil...

Saudade do tempo do Orkut em que eu preenchia este campo com a maior tranquilidade do mundo. Com minha linguagem refinada de escritora intelectual salpicada por fragmentos de provincianismo de moça tradicional, católica, bem comportada, sempre com um livro debaixo do braço, um suspiro no olhar , esperando pela grande virada,  que queria explodir sem causar estragos. Que queria transformar insanidade em virtude. Talvez a insanidade seja uma virtude mesmo..talvez a insanidade de fato seja acreditar que estamos separados entre sãos e insanos. Talvez o insano seja apenas o são que leu um ou dois capítulos a mais do livro da vida. 










Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 















sábado, 26 de março de 2016

Auto retrato com cores gritantes

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Chega um momento da vida em que não dá mais mentir para a gente mesmo. Que não dá mais para criar ilusões a respeito de tudo que a gente poderia ou gostaria de ser.

Chega um momento em que a gente se assume como um quadro sem moldura nem retoques. Que a gente se assume como poesia inacabada, texto sem revisão, melodia intensa executada por orquestra sem maestro, ator que esqueceu o texto no proscênio.

É, não tem muito jeito não. A gente tem que se aturar, gostando ou não.  A gente tem que esperar menos de nós, parar de exigir aquilo que não podemos dar porque não temos.

A gente tem que aceitar com menos desespero as nossas lacunas,  as teclas quebradas, os detonadores que sempre fazem a gente desafinar, que fazem a gente desenlaçar.

A gente tem que olhar para o nosso próprio vazio e compreender que é isso mesmo. Como diria Clarice Lispector, nunca sabemos sobre quais defeitos as nossas virtudes estão alicerçadas.  Se pudéssemos extirpar o pior , jogando no triturador com os restos de pizza amanhecida, correríamos o patético e ingênuo erro de atirarmos junto com nossas nefastas manias, o que nos faz magnéticos e insubstituíveis , nem que seja pelos próximos 15 dias.

Sim, sou difícil. Dou o meu melhor e não aceito menos do que eu consigo dar.  Sim, sou difícil. Me peça o que quiser, mas não tente se impor. Muito menos subestime a minha inteligência. E se me prometeu algo, não finja que o papo não é com você. Eu não blefo.

Sim, sou difícil.  Faço o meu trabalho com paixão, mas não tente tirar de mim as minhas horas de Netflix , poesia e solidão. Gosto de conforto, de tempo livre para dançar com a minha alma e deixar meu corpo eufórico. Sim, preciso de um pouco de euforia para não pirar. Sou criativa compulsiva. Preciso de café e ócio. Não consigo só fazer aquilo que precisa ser feito. Não me sinto um burro de carga. Não aceito. Eu fico puta diante de horários, dietas e pessoas opressivas!  "Preencha aqui, sem rasurar! A vida deveria ter mais rasuras,  mais improvisos, mais improvisações festivas! A vida deveria ter mais gosto de borbulha de champanhe estourando na boca. Mas sabor de chuva caindo no rosto.

Sim, dou o sangue pelos meus projetos profissionais, mas depois preciso relaxar, esticar as pernas , me espalhar no sofá, tomar uma taça de vinho, pensar sobre tudo e sobre nada de realmente importante no meu mundinho privado. Ás vezes, preciso fechar as portas da alma e mergulhar na minha perturbadora paz.  Preciso ouvir músicas que me levam para outras galáxias, que me façam pular por corredores de universos paralelos.  


Sim, sou difícil.  Sou doce e prestativa, mas não tenho paciência para regras e sistemas bobos. Não tenho saco para fingir que gosto de quem não me considera. Faço cara de merda mesmo.  Portanto, se eu te abraçar com força, sorrindo, e sacudindo o seu corpo é porque eu realmente gosto de você. É porque você mora no meu coração, caso contrário preferiria tomar banho com soda cáustica  a ter que te dar a mão e a olhar na sua cara. Não sei fazer média nem quero aprender.

Sim, sou difícil mesmo . Acho um pé esta coisa de horários rígidos, rotina inflexível. Odeio me sentir um robozinho. 

Sou uma grande defensora de uma dose de preguiça diária que nos proteja. Viver só para trabalhar e me adequar, me irrita. Confesso. Não considero nem vida. Rotina boa é aquela feita pela gente...preciso receber umas massagens de vez em quando, ler sobre Filosofia, fazer poesia, e morrer de languidez dentro de uma banheira.


Sim, sou difícil, mas sou sincera. Não saio por aí vomitando verdades na cara de ninguém, mas se vomitarem na minha , peguem um bom lençol pois o jato fica pior do que o da menina do exorcista.

Sim, chega um momento em que  percebemos que não somos um personagem que a gente idealizou. Nunca serei atlética ou adepta à geração saúde. Nunca curtirei correr na praia ou na praça. Nunca abrirei mão das minhas garrafas de vinho e Martini. Nunca ficarei de boa trabalhando o dia inteiro sem nenhum break. Sempre farei as coisas no meu ritmo. Sempre me renderei à minha reflexão e ao meu hedonismo.

Nunca sairei pelo mundo com uma mochila nas costas e um otimista espírito de aventura. Ou viajo com conforto ou fico em casa. Curto levantar cedo, mas se for por volta das sete e meia.  Nunca vou me contentar com namoros mornos, aquele estilo de coisa tanto faz. Poderia ser com você ou com qualquer outro que topasse ficar comigo. Eu preciso ser escolhida, mas acima de tudo, eu preciso escolher também. Sim, precisamos assumir quem somos sem grandes ilusões. Precisamos assumir com uma sensibilidade afetiva e lógica simultaneamente.  E não há problema nenhum nisso.  Tudo o que é perfeito demais acaba sendo meio chato.
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 23 de março de 2016

Quando "virei" doutora

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Hoje faz exatamente sete anos que defendi a minha tese e me foi concedido o título de doutora em Comunicação e Semiótica. Deveria estar em crise com o meu doutorado pois sete é um número crítico para relacionamentos afetivos.

De certa forma , a minha vida acadêmica tem sido o meu mais fiel relacionamento amoroso. Nada de fogos de artifícios ou micaretas na alma. ( Mentira! Temos tomado bons porres juntos) Minha vida acadêmica tem sido presente e tem segurado a minha mão ao atravessar a rua... e só quem me conhece sabe o quanto preciso de alguém para segurar a minha mão ao atravessar a rua e a vida. Pensando em alguma poesia, posso ser atropelada por um carro ou pela circunstância aparentemente mais banal. 

O virei com aspas faz alusão á uma piadinha do meu orientador. As pessoas se referem aos doutores como se passássemos por um processo milagroso. A gente levanta a espada , fala pelos poderes de Greyskull e adquire poderes e uma força descomunal.

Não, doutores não têm super poderes nem se fazem do dia para a noite. Doutores são pessoas que avançaram mais na leitura de um livro complexo e que descobriram num misto de desencantamento e euforia melancólica que quanto mais a gente aprende , menos respostas aparecem.

E de certa forma, a gente fica um pouco triste pois descobre que não existe uma grande verdade. Não existe um porto-seguro das ideias, onde elas podem viver livres, leves e soltas, sem depender de uma boa terapia e algumas doses de Martini.


Por detrás de um título pomposo, às vezes, se esconde uma realidade meio cínica: um certo desdém por nós mesmos.  Um certo sentimento envergonhado e ridículo quando pensamos em nossos tempos de inúmeras certezas.


Sim, nossa realidade é meio cínica...não que não haja um certo charme nisso. Alguém pode acender meu cigarro imaginário, por favor?
 






 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








Sobre cumplicidade e beijos imaginários

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Sim, quando existe cumplicidade, somos capazes de beijar a alma do outro com nossos lábios imaginários: quentes, mordazes, cheios de um veneno redentor.

Só pode conhecer o mel que de uma boca exala, quem conhece o seu fel. O amor perfeitinho foi mais uma invenção sórdida e elegante do status quo para domesticar a sexualidade e transformar o amor em acordo de cavalheiros, contrato.

Chupo laranjas sentada sobre uma árvore. O vento suave balança as folhas e os primeiros raios da noite despontam. Sinto frio. Um frio gostoso. Um frio de quem sabe que logo em seguida, estará debaixo de um edredom, protegida.

Sinto o frio daqueles que tem para onde correr num dia de chuva. O frio daqueles que se despem diante de uma lareira crepitante e recebem das mãos amadas uma taça de vinho encorpado.

Antes de eu vestir roupas secas, você me abraça. Enxuga meu corpo no seu e umedece a minha alma.

Bebe o último gole de vinho abandonado no fundo da minha taça e descobre os segredos que imagina que eu guarde. Me vê através de um véu tênue. A vista embaçada. Neon e fumaça de cigarro. E eu apenas sorrio enquanto espero que chegue até mim. Sou paciente, mas estou nua...as roupas secas contemplam a tudo largadas numa cadeira.

Cravo os dentes num pedaço suculento de laranja e imagino que seja tudo aquilo que está por vir. O frio já não me atinge mais. Agora danço com ele ainda sentada.


Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 









terça-feira, 22 de março de 2016

Um pouco de hedonismo e preguiça festiva nunca fizeram mal a ninguém...

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 

Sim, um pouco de hedonismo e preguiça festiva nunca fizeram mal a ninguém. Um pouco de alegria para os sentidos, um pouco de euforia para a alma nunca fizeram ninguém cair em coma alcoólico. 

Sim, um pouco de hedonismo faz bem para a pele e proporciona um brilho todo especial ao sorriso. Muito melhor do que se encher de cremes e comer 5 maças por dia. Um pouco de preguiça festiva nos recarrega para as mais homéricas batalhas da vida.

A alegria, o tempo livre com os amigos,  conversar com gente que nos faz rir com os olhos ( já comentei que sorrisos labiais podem ser forçados. Os dos olhos nunca! Aprendi isso num programa sobre neurologia em um dos meus privilegiados momentos de ócio criativo) é o mais econômico e eficaz tratamento de rejuvenescimento celular. Remove muito mais células mortas e tristes do que dez sessões de peeling ou estes tratamentos mais modernos à base de laser que não conheço pois prefiro a prosaica prática do besteirol, da poesia e do sorriso.

O tempo livre para pensar naquilo que a gente quer pensar, aquela taça de vinho tomada fora de hora, aquele banho quente que faz mal à pele podem nos preparar fisicamente e emocionalmente para os dias mais pesados que teremos que enfrentar em algum momento.

Não há dinheiro no mundo, não há status no mundo que pague o prazer de ter tempo livre. Não há nada no mundo que pague a alegria de a gente poder mergulhar no nosso ócio criativo, no nosso cheiro de café recém coado , na nossa euforia intelectual que às vezes nos fazer dançar cambaleante em círculos...não há nada no mundo que pague o frenesi de uma conversa pesada que brinca de ser leve...que deixa escapar aos quatro ventos os seus sete véus. Não há nada no mundo que pague o destemor de andar pelas ruas como a gente mesmo, independente de olharmos para as estrelas ou para as sarjetas.

Não há nada no mundo que pague o calor de um olhar cúmplice, de um pensamento compartilhado, de um olhar ou uma expressão que grita em silêncio "Eu estou te entendendo porque também me sinto assim". Um dia um professor nos disse que cumplicidade era tudo aquilo que a gente mais queria e quase nunca conseguia.

Não, não há nada que pague a alegria de um reencontro.  Não há nada que pague a alegria de perdoar a nós mesmos e ao outro.
 
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 20 de março de 2016

Sobre café, poesia , ócio criativo e mais algumas licenças poéticas...

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Havia planejado um domingo animado. Havia planejado sair com amigos mais ou menos 15 anos mais novos do que eu. Estava super a fim de tomar cerveja artesanal, falar bobagem, rir de tudo, principalmente de mim mesma. Sim, às vezes, me acho uma boa piada. Daquelas bem maliciosas e sarcásticas.
 
Fim da tarde. Me arrependo de não ter saído, mas lá no fundo me absolvo porque sou uma garota bem preguiçosa. Não sei explicar bem o porquê, mas algo no ambiente doméstico me hipnotiza, me embriaga...e não estou me referindo às minhas doses de Martini Bianco bem gelado servidos em meus copos azuis estridentes.
 
Sei lá...por mais que curta usufruir desta cidade louca que é São Paulo, ir ao teatro, vagar por livrarias como uma autista que não enxerga ninguém, apenas os livros e os dvds, algo me atrai no ambiente de casa.
 
Por mais que adore uma mesinha de bar, um bom lanche gourmet numa padaria cheia de frescurete ( semana passada comi um fantástico! Sanduíche de carpaccio. Falaram que era light. Com aquele monte de azeite e queijo amarelo? Ok) algo no ambiente de casa me enlaça.
 
Ok.Ok.Ok. Trabalhei praticamente o sábado todo e estava cansada. Seria uma boa justificativa para a minha languidez no domingo, se eu não me conhecesse o bastante para saber que algo no ambiente de casa...bom, vocês já sabem!
 
Gosto da dose de Martini antes do almoço. Do cheiro de café de coador no meio da tarde. Gosto de sentar na frente do meu computador e criar meus mundos imaginários. Gosto de colocar meus fones de ouvido e ser levada para galáxias distantes, para terras ficcionais onde só exista o gozo do amor e da poesia.
 
Onde possa sentir braços que me enlaçam, sentindo o amor 18 quilates, sem nenhuma impureza, sem carregar  no meu peito nenhuma mágoa. Uma terra sem amores de fachada. Uma terra com amores sem medo. Uma espécie do Jardim do Éden, um paraíso perdido, o paraíso que desenhamos em nossa mente quando sentimos os lábios do outro pela primeira vez roçando o nosso mundo íntimo.
 
Gosto de andar de chinelos. Gosto de deitar no sofá e ver um filme que mexa comigo. Gosto de comer pizza na frente da TV. Gosto de me perder nas minhas leituras, um monte de jornais sobre a escrivaninha, sempre o notebook conectado no Google.
 
Diante da culpa de não ter me divertido como quase todos os mortais se divertem, me convenci que estudar Freud foi uma boa maneira de viver o meu domingo.  Soou meio depressivo, né? Mas na verdade não é não. Eu sou meio nerd mesmo RS 
 
 
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 
 
 

Racionalizo ou te pego te jeito?

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Sou daquela categoria de gente que apesar de passional, gosta de entender e explicar tudo. Gosta de racionalizar. Efeito colateral de uma longa vida acadêmica. Efeito colateral de uma profissão que me obriga a ter o controle da situação, que me obriga a ter o controle sobre a verdade, se é que existe alguma.
 
Talvez todo este primeiro parágrafo seja racionalização pura e eu entrei na vida acadêmica por já ser uma chatinha que curte pôr todos os pingos nos is e entender e explicar tudo nos mínimos detalhes, falando enquanto desenha gráficos e faz coreografias didáticas.
 
A grande merda para quem gosta de racionalizar é que mesmo usando a lógica, algum detalhe sempre nos escapa. Algum detalhe nunca se encaixa confortavelmente em nossas teorias bem trabalhadas.
 
Ouvi dizer, inclusive, que quem racionaliza demais tenta fugir de algo. Sim, racionalizar demais é um tipo de autodefesa quase ou até mais pirada do que as atitudes camicases de quem se atira nas emoções.
 
Não, não dá para entender nem explicar tudo. Não dá para racionalizar tudo por mais que a gente queira. Detalhes mil escaparão pelas bordas dos nossos esqueminhas bem comportados.
 
Não dá para garantir o que a gente vai dizer ou sentir lá na frente, na próxima estação do metrô quando ocorrer uma pane da nossa vida íntima e insana.
 
Não dá para garantir que a verdade de hoje será a verdade de amanhã. Não dá para garantir que o nunca mais seja realmente para sempre e que o para sempre não seja apenas fruto do frenesi do momento.
 
Dizem que no amor , tudo é possível, a não ser as expressões "Para sempre" e "Nunca mais" . Vi isto há séculos numa novela. Quando novelas ainda eram bem feitas ou quando o meu gosto era menos apurado...boa questão...talvez dedique a noite de hoje para refletir sobre este tema tão instigante!
 
Não dá para garantir porcaria nenhuma. Viver é se equilibrar entre escolhas e consequências, como diria Sartre. Viver é se equilibrar entre o "aqui agora, tô louca por você " e " Meu Deus! Isso tudo vai dar uma grande merda!". Viver é se equilibrar entre o louco e faminto desejo de rasgar tuas vestes agora e engoli-lo com a paixão da minha alma e todo o desespero que virá quando acendermos os nossos cigarros.

Estou entre fazê-lo mergulhar nos meus mais escusos segredos e dizer a mim mesma: "Vai dar merda", embora saiba e sinta lá no fundo que vai dar merda de qualquer jeito.
 
Não, não dá para entender nem explicar tudo. Não dá para racionalizar o tempo todo. Tem coisa que a gente precisa viver e ponto final, mesmo sabendo que vai dar bosta em algum momento. Afinal de contas, as melhores e mais deliciosas iguarias que a gente come não viram bosta? Nem por isso a gente deixa de comê-las... puta que pariu! Já estou racionalizando novamente com minhas analogias bizarras de péssimo gosto!

 
 
 
 
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 
 

quinta-feira, 17 de março de 2016

Carol...ou apenas amor

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
Hoje vi o filme "Carol", com a desconcertante Cate Blanchet fazendo o papel de uma mulher que precisa escolher entre a guarda da filha e assumir a sua homossexualidade. Enfim, escolher entre o maior amor da vida dela e ser ela mesma.
 
Se nos dias atuais tem gente que torce o nariz para os homossexuais, imaginem nos anos 1950?
 
Embora o fato de Carol ser homossexual seja determinante para o desenrolar da trama, não consegui ver esta obra como um filme sobre a homossexualidade. Para mim é apenas um filme sobre o amor. 
 
Sobre a perplexidade do primeiro encontro visual. Sobre a timidez do primeiro almoço compartilhado. Sobre o constrangimento poético ou alegria confusa do primeiro esbarrar de mãos quase acidental. Sobre o medo do primeiro beijo...reticente e tépido. Sobre o calor eufórico e meio ensandecido de tudo que vem depois. Sobre o início do amor, tão puro, tão limpo de mágoas e lembranças tristes, tão livre de fantasmas rondando pela relação. Sobre a separação forçada e dolorosa. Sobre o reencontro, melancólico e profundo.
 
Carol e Terry se amam. E qualquer mulher que já tenha amado um homem e qualquer homem que já tenha amado uma mulher tem condições de saber que não há nada de tão absurdo entre Carol e Terry. É só amor. E quando elas finalmente fazem sexo, não há nada de tão bizarro entre Carol e Terry. Mais uma vez, é só amor.
 
Um amor que precisa gemer baixinho num mundo em que as pessoas não conseguem reconhecer os sons afetivos. Apenas os da conveniência e poder.
 
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 16 de março de 2016

Tire as mãos das minhas ressignificações!

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
A boa e velha sabedoria popular afirma há milênios que quem não atrapalha, já ajuda. Sim! Se não pode ajudar, não atrapalhe! Se não tem nada de agradável ou útil para dizer, feche a boquinha.
 
Cada um sobrevive como pode neste mundo de meu Deus. Cada um interpreta os fatos mais dolorosos e mais prazerosos da própria vida como melhor lhe convém para não afundar a cabeça no vaso sanitário ou não tomar um frasco de água sanitária.
 
Cada um ou pelo menos muitos de nós conseguimos sobreviver às tragédias da vida de uma forma muito subjetiva.
 
Pouco me importa a interpretação maldosa de quem não quer me ajudar ou até quer, mas não sabe. É. Nem todo mundo tem competência para dizer as palavras certas nas horas mais erradas da vida das pessoas.
 
Tem gente que abre a boca diante de um depressivo, de um surtado, de um desesperado qualquer e praticamente induz o coitado ao suicídio. Tem gente que consegue dizer a última coisa que um desesperado precisa ouvir no pior momento da sua vida. Entre tantas coisas que uma pessoa pode dizer, o cidadão consegue tirar do fundo da cartola o que mais vai derrubar quem já está com a cara colada no chão, lambendo água de sarjeta.
 
Consolar é um dom raro. Sim, nem todo mundo sabe consolar e não há problema algum nisso. Ninguém é obrigado a saber consolar.  Não depende de boa vontade apenas. É preciso ter uma sensibilidade estupenda e uma capacidade de se colocar no lugar do outro fora do comum. Coisa que não está muito em moda. Coisa que nunca esteve em moda, pois o barato mesmo está em julgar e projetar, jogando todas as nossas merdas em cima do primeiro infeliz que atravessa o nosso caminho. 
 
Mas a gente precisa tomar mais cuidado antes de sair dizendo qualquer coisa como se a língua fosse uma metralhadora giratória.  O que para a gente são apenas palavras, pode se materializar num sofrimento intolerável para quem já está mal.
 
Às vezes, um abraço pode ajudar muito quando não sabemos o que dizer.  Ou um simples "Eu te entendo".  Ninguém é obrigado a encontrar uma solução para a vida do outro, mas um pouco de carinho e solidariedade sempre contam muito no sentido positivo da palavra.
 
Temos que tomar cuidado para não interpretar a vida do outro a partir da nossa vida, da nossa subjetividade. Por tal motivo, analistas falam pouco. Fazem perguntas para estimular o paciente, mas não entregam respostas prontas.  Pois ninguém pode interpretar a nossa vida no nosso lugar.
 
Lacan dizia que todos nós deliramos. Pois cada um de nós interpreta a sua realidade a partir da sua subjetividade. E ninguém tem o direito de botar as mãos enlameadas na subjetividade do outro. Ninguém tem o direito de enfiar goela abaixo uma "verdade" que o outro não pode suportar. Uma "verdade" que não é a verdade da pessoa que passou por uma experiência dolorosa. Ninguém tem o direito de usar o sofrimento do outro para reafirmar as próprias crenças e "loucuras".
 
Lá no fundo, o que aconteceu ou o que deixou de acontecer não importa tanto assim. O que conta para valer é o que a gente conta para nós mesmos. É aquilo que a gente consegue extrair de cada experiência vivida ou imaginada. Existem aqueles que inclusive acreditam que a vida imaginada é tão real quanto a vivida e que a vida real não passa de uma imaginação.
 
Por tal motivo, para alguns o copo está meio cheio e para outros meio vazio. Por tal motivo, alguns enxergam um ponto branco no centro do quadro negro e outros enxergam o quadro negro. Por tal motivo, algumas pessoas olham para o escuro do céu e outras para o brilho das estrelas.
 
Já dizia Nietzsche..."não existem fatos, mas sim interpretações". E cada um recheia o bombom da vida com aquilo que melhor lhe apetece. Muitos recheiam com tristeza. Pensamento estranho? Nem tanto... se a gente parar para pensar, a tristeza é poética. Sim...muito...Que vontade de tomar um Martini bianco bem gelado com um jazz ao fundo!
 
 
 
 
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 

segunda-feira, 14 de março de 2016

Apague a luz e me deixe ser sua inspiração

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Apague a luz ou pelo menos jogue um lenço de seda sobre a cúpula do abajur. E à meia-luz deixe que eu te conduza por uma estrada imaginária de inspiração. Prometo não largar a tua mão pelo meio do caminho. Nem te deixarei chegar perto demais de algum abismo.
 
Mas se me desafiar a me atirar de algum, aceito me jogar junto contigo em busca de novas paragens. Novas paisagens. Novas palavras. Uma amiga muito querida , quase uma filha, disse-me que hoje é o dia da poesia. E com aquele tipo de sorriso e suspiro que apenas as pessoas realmente bondosas têm, alegrou-se por ter me encontrado justamente nesta data, que para nós é mais do que festiva.  
 
Às vezes, a vida se faz suave e amena. Quase nos esquecemos de todas as tragédias e num piscar de olhos, o nosso mundo interior cabe no coração do outro e tudo se torna paz, encontro,  livre como uma poesia de versos brancos, fatalista quanto uma poesia de métrica rígida.
 
Quando poetas se encontram, podemos ver através dos olhos do outro um pouco da nossa própria história. Lá no fundo, há uma história apenas com detalhes ficcionais diferentes. Lá no fundo, todo poeta de verdade possui uma alma rasgada que ele carrega nos olhos. Nos mesmos olhos que sorriem com um brilho triste ao se lembrarem de que hoje é o dia da poesia.
 
Como disse um amigo muito querido, quase um genro, amadurecer é aceitar a própria melancolia.  Este mesmo amigo ressaltou-me o poder da inspiração. Quando inspiramos o outro do jeito mágico que não podemos inspirar a nós mesmos, a vida ganha um outro sentido.
 
Sim, a vida se torna poesia e não importa se ela tem versos livres ou rígidos. Não importa se podemos inspirar só aos outros enquanto permanecemos no escuro , deitados no chão do banheiro, choramingando baixinho.   Como diria a música " Resposta ao tempo"..." amores terminam no escuro sozinhos". Com os poetas não é muito diferente.
 
 

 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 

sábado, 12 de março de 2016

Acho que no fundo invejo os homens

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
Sim, acho que invejo os homens. Para eles, as portas se abrem e não é preciso se fazer tantas escolhas. Homens não precisam escolher entre carreira e paternidade. Homens não precisam escolher ser alguém intelectualmente expressivo ou alguém "amado". Mulheres buscam homens brilhantes. Homens buscam mulheres adaptáveis.
 
Mulheres se adequam à realidade masculina. Homens constroem sua realidade e a completam com uma mulher como quem coloca uma Barbie numa casinha de bonecas.
 
As mulheres mergulham no universo masculino. Homens boiam calmamente em suas realidades, em seu habitat, em sua zona de conforto. Se eles gostam de praticar esportes, a namorada sedentária começa a correr com eles às cinco da manhã. Se eles frequentam culto religioso assiduamente, a namorada apenas espiritualizada começa a frequentar também. Se eles arranjam um emprego bom em outro estado , a mulher normalmente larga tudo para segui-lo.
 
Os homens sonham e as mulheres se sacrificam. Sim, invejo os homens e sua favorável posição de não precisarem escolher. Só quem está acostumado a renunciar, sabe como pesa ter que abrir mão de A para obter B. A gente nunca pode ter tudo.
 
Queria encaixar alguém nos meus sonhos também. Queria alguém que acendesse meu cigarro imaginário e me olhasse nos olhos como quem olha para sua salvadora. Sim, queria ser um bicho estranho, meia bruxa e meia santa. Uma deusa bizarra e provedora com hábitos primitivos e um intelecto invejável. Quase um ser mitológico. Metade gente. Metade divindade.
 
Não quero correr na praça às cinco da manhã. Nem às seis. Nem às oito. Não quero correr. Não quero voltar à frequentar cultos religiosos. Quero viver minha fé em paz. Não quero ser obrigada novamente a abrir mão da  minha família e carreira por um amor. Não quero comer churrasco na casa de um parente qualquer do meu namorado todo domingo.  Amo churrasco e  nada tenho contra socializar com parentes do namorado, mas enche o saco quando comer lasanha na casa da avó  ou fazer churrasco na casa dos pais ou dos tios do namorado vira rotina, vira o ponto alto da relação. Quando vira quase uma obrigação, principalmente quando não se é casado ainda. Quando não se tem filhos com o moço em questão.
 
Não quero viver aquele tipo de namoro modorrento de sofá em que um programa de TV qualquer enche a sala enquanto o cachorro late, o sobrinho pequeno grita e bota caca de nariz no cabelo da sobrinha que chora e esperneia. Não quero ter que repetir 3 ou 4 frases prontas para ganhar a simpatia de mulheres 40 anos mais velhas do que eu, que cresceram com valores muito diferentes.  Me desculpe se a minha fala soa pedante, mas já passei da fase de ter que aturar o som de programas de auditório aos domingos e conversa fiada de gente que só está especulando. 

Peço desculpas novamente, mas esta coisa de juntar o clã regularmente para encher o bucho e tomar cerveja na latinha destrói a vida erótica afetiva de qualquer casal que não tenha QI negativo.
 
Não quero ser obrigada  a tomar Coca-Cola choca enquanto me empanturro de maionese e carne assada para suportar o tédio. Ok.Ok.Ok. Carne assada com maionese é uma combinação bem saborosa. O problema é ter que comê-las no meio da balbúrdia, sentada num canto do sofá , fazendo média, suportando a malcriação de crianças que não foram bem educadas, tentando ser gentil o tempo todo com pessoas que lá no fundo só me consideram um acessório na vida do filho, do sobrinho, do neto. Pessoas que deixariam de me tratar bem se contrariasse o menor dos desejos do homem da família.
 
Eu queria mesmo era viver um romance. Sim. Fazer um tour gastronômico pela cidade, explorando as potencialidades do paladar. Um dia , comida tailandesa.  No final de semana seguinte,  comer um sanduba artesanal num food truck. Numa quarta-feira à noite qualquer ( Esta coisa de se encontrar apenas de final de semana me soa muito provinciana) comida indiana ou mexicana. Ou numa quinta, sair para comer suflê e depois andar pelas ruas meio sem rumo, dando risadas bobas e compartilhando um cigarro. Quero comer crepes no café da manhã de um dia livre qualquer e depois andar apenas de calcinha pelo apartamento como quem respira sexo. Como uma daquelas modelos liberais e meio indecentes de pintores boêmios.
 
Eu queria um homem que fizesse um curso de vinhos comigo. Que aprendesse a harmonizar vinhos e queijos , embora acredite que o paladar de cada um seja soberano. Queria fazer uma mesa de queijos e vinhos , rodeada por velas ornamentais e um cd de canções francesas ao fundo.  Eu queria um homem que me acompanhasse em sessões de cinema alternativo e depois tomasse uma garrafa de vinho comigo, comentando o filme.
 
Eu queria um homem que me levasse à feira de sábado para comprarmos ingredientes frescos para preparar uma boa refeição equilibrada,  brincando que somos saudáveis. Enquanto descasco as batatas, ele raspa as cenouras e a gente briga pela última taça de um vinho branco suave. Quero um homem que abra a garrafa de vinho para mim enquanto boto os pratos na mesa para nós dois ou para um casal de amigos que vai comentar sobre assuntos que nos interessam, sem precisar fazer média, sem um script pré definido.  Amigos que terminem a noite tomando limoncello e vomitando confidências íntimas.
 
Eu queria um homem que dividisse comigo uma boa massa  numa cantina tradicional ao som de uma tarantella depois de ter visto uma peça de teatro do cacete! Eu queria um homem que debatesse sobre um quadro qualquer e depois fizesse amor calmamente. Eu queria um homem que filosofasse comigo e depois fizesse amor furiosamente.
 
Eu queria um homem que topasse passar uma noite qualquer num hotel da cidade e ao comer croissants quentes pela manhã, imaginasse que estivesse em algum bistrô de Paris. Eu queria um homem que me fizesse sentir como se estivesse em Montmartre sendo pintada por um artista de rua, depois de ter tomado uma jarra de vinho branco bem gelado e uma porção de scargots.
 
Eu queria um namorado que passasse um feriado prolongado em Buenos Aires e que depois de saborear uma boa carne suculenta e um vinho encorpado, me levasse para ver um show de tango. Eu queria um namorado que dançasse tango comigo, mesmo que fosse apenas no quarto. Eu queria um homem que não tivesse medo de tomar chuva comigo.
 
Eu queria um homem que me acompanhasse na exploração de bares boêmios da cidade  e que não tivesse medo de experimentar novas iguarias, tanto na mesa como na cama.  Eu queria um homem que me visse e me quisesse como uma mulher plena e não como uma tolinha que ele manipula e abre as pernas para ele uma vez por semana depois de ter se empanturrado de lasanha mesmo sem querer, só para não fazer desfeita.
 
Sim, invejo os homens pois eles são autores de suas vidas. A nós cabe ser mera personagem, um fantoche bobo ou uma mulher sozinha.
 
 
 

 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 

Vá jogar pôquer em outra vizinhança!

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

 
 Hoje , escrevi na Obvious um artigo sobre a importância de valorizar o tempo, pois o tempo é a matéria-prima da vida. Pois bem. Agora , escrevo a versão do Garota desbocada, como quem chega em casa exausta, tirando sapatos e meias, os pés em petição de miséria, uma vontade louca de engolir qualquer coisa antes de cair na cama dentro de uma camisola confortável com o notebook sobre o colo, conectado num filme estranho do Netflix.
 
Apago as luzes do quarto, estico as pernas sentindo um prazer extenuado,  me cubro com o lençol até o queixo para me proteger do frio produzido por mim mesma. Adoro ligar o ventilador mesmo não estando muito quente. Faço o meu inverno.
 
Mas vamos ao post sobre o tempo com o típico tempero do Garota desbocada. Aqui, o molho não leva pimenta dedo de moça não. É pimenta malagueta mesmo. E às vezes, carrego no sal. Cuidado quem tiver pressão alta ou edemas. Aqui, eu boto muito azeite, orégano, pimenta do reino e tudo mais que for encontrando pelas prateleiras da cozinha. Gosto de botar manteiga e maionese também! Se tiver algum problema digestivo, prepare-se!
 
Sim, o tempo é a matéria-prima da vida , portanto devemos evitar ao máximo tudo e todos que nos fazem perdê-lo. Pois perder tempo, é muito mais do que perder dinheiro. É perder vida. Não há como repô-lo. Mesmo que o cuzão que te fez desperdiça-lo te peça perdão de joelhos.  Você até pode perdoá-lo, mas a merda do tempo não volta.
 
E mesmo a vida não sendo lá grande coisa ou uma bela roba como diriam os italianos,  ela é o nosso bem mais preciso. Sim, é meio irônico e bastante cruel, mas é verdade. Por mais chinfrim que seja a vida, precisamos lutar bravamente por ela, nos engalfinhando e rolando pelas sarjetas com tudo aquilo que tenta tirá-la de nós. E para defendê-la vale dedo no olho sim e cuspe na cara.
 
Não, não estou falando sobre homicídios. Estou falando sobre tédio, desperdício,  conflitos inúteis. Estou falando sobre futilidade, arrogância, egoísmo,  chatice,  gente que nos faz querer bocejar a cada 5 segundos.  A gente mal fecha a boca e já quer abri-la de novo. Estou falando de coisas que nos prendem no mesmo lugar de sempre. Num lugar que a gente não quer ficar. Tô falando de botar a vida no piloto automático, perder a espontaneidade, fazer tudo sem tesão, só por fazer. Fazer as coisas só por fazer é perda de tempo! É suicídio existencial!
 
Estou falando de vida com gosto de chope morno, Coca-Cola choca, pipoca murcha ,  filme pentelho reprisado pela décima terceira vez com uma dublagem ridícula.  Estou falando de frases prontas que só servem para irritar. Estou falando de relações vazias que nos fazem odiar o momento em que a gente veio ao mundo. Estou falando de empregos que nos fazem querer cortar os pulsos de 5 em 5 minutos. Se deixar oprimir é perda de tempo! É suicídio do ego!
 
Enfim, estou falando sobre todo tipo de escrotice que a gente precisa aguentar para sobreviver, para não enfiar a mão na cara de quem merece uma boa bolacha para aprender a ser menos insuportável.
 
Estou falando de todos os cuzões que passam por nossa vida, fazendo suas bostas e nos obrigando a limpar toda a sujeira que eles deixam para trás. Estou falando de todos os bunda mole que não conseguem se decidir se vão para a esquerda ou para a direita e ficam obstruindo o caminho alheio.
 
Estou falando de gente que blefa, que mata a cobra , mas não mostra o pau porque na verdade não matou cobra alguma; fingiu ser o que não é e nos fez perder tempo! Conviver com blefadores é perda de tempo! É suicídio da nossa paciência! Dá vontade de mandar ir à merda. Ninguém precisa prometer nem se comprometer a nada. Mas se prometeu, cumpra. Ajoelhou , tem que rezar. Não sabe brincar? Então não desça para o play. Tem gente que acha que a vida é um jogo de pôquer! Que vá jogar em outra vizinhança!
 
Estou falando de tudo aquilo que a gente faz e não rende porcaria nenhuma: nem realização profissional, nem alegria afetiva , nem dinheiro. Só aporrinhação! Fazer coisas que não levam a nada é perda de tempo! É suicídio da energia vital!
 
Estou falando de todos os folgados ( desde aqueles que se arrastam nas estações do metrô, teclando no seu smartphone e impedindo a passagem dos outros até  os grandes aproveitadores) que vão jogando sobre os ombros alheios responsabilidades que não são nossas.
 
Para quem me conhece, sabe o quanto adoro ajudar. E quando sou amiga, sou amiga mesmo. Não tem dessa de amizade light. Sou hardcore! ( Não me refiro ao sentido sexual) Sou do tipo "Tamo junto, nem que seja para se dar mal , nem que seja para tomar naquele lugar!" Bem ao estilo Macaco Simão "Nóis sofre , mas nóis goza!".
 
Mas acho uma sacanagem uma pessoa que mal me conhece , que trocou algumas palavras comigo, fazer chantagem emocional para jogar um abacaxi azedo no meu colo. Tô cheia desta história de ser lembrada apenas para descascar  abacaxis e chupar mangas azedas e fiapentas.  Se deixar manipular é perda de tempo! É suicídio do bem estar, do prazer, do pequeno hedonista que se chafurda sensualmente dentro de nós!
 
Bem, eu acho que não preciso dar mais exemplos, né? Acho que já deu para pegar o espírito da coisa!
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 








 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 11 de março de 2016

Esquizofrenia ambulante

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Woody Allen afirmou que não consegue fazer a cabeça dele trabalhar junto com o coração, pois sua cabeça e coração nem são amigos. Sinto uma identificação total por esta frase e cada vez que a leio, emito uma risada amarga.
 
Minha cabeça e meu coração também não são amigos. Mais do que isso. São rivais, inimigos. Se eles quase se esbarram numa mesma calçada, um deles atravessa a rua. A cabeça com o nariz empinado. O coração olhando para a água suja das sarjetas.
 
Mas raramente eles andam nas mesmas ruas porque têm interesses bem particulares e diferentes.
 
Minha cabeça segue pelos centros culturais da vida bebendo Martini bem gelado com uma cerejinha no fundo do copo e um bom dedinho de sarcasmo e irreverência.
 
Meu coração chora as mágoas pelos becos da cidade diante de um copo de vinho barato.
 
Minha cabeça pega no sono com um livro no colo. Meu coração adormece envolto em lágrimas e cansaço.
 
Minha cabeça anda por aí fazendo gracejos, senhor da situação, um salto dez imaginário.  Meu coração anda descalço e maltrapilho, mendigando uma moeda de carinho para não morrer de inanição afetiva.
 
Minha cabeça te olha nos olhos e entorta a boca para sorrir. Meu coração entorta a espinha dorsal e te implora.
 
Minha cabeça deita-se no divã e tenta conectar pontas soltas. Meu coração deita-se na cama e lamenta.
 
Minha cabeça usa lingerie de renda preta e batom vermelho. Meu coração compra calcinhas bege na promoção.
 
Minha cabeça manda o status quo se foder enquanto come merda. Meu coração apanha do mesmo status quo que sai correndo com as calças urinadas quando vê a minha cabeça.
 
Minha cabeça ocupa o centro da pista de dança e está sempre debaixo dos holofotes brilhando mais do que eles.  Nada pode detê-la quando decide inventar um passo louco que vira moda. 
 
Meu coração senta no banco, à espera de que alguém o tire para dançar de rosto colado ao som de "More than words".  Era louca por esta música na adolescência! Eu a cogitava como possível trilha sonora da minha vida amorosa!
 
Minha cabeça é minha. O meu coração, de algum vagabundo qualquer. De alguém que a minha cabeça não perderia nem 10 segundos observando.
 
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 









quinta-feira, 10 de março de 2016

Tolerando o intolerável

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Em uma citação que vi hoje no Facebook, me deparei com uma ironia inteligente, saudável e um pouco melancólica. A autora afirmava que a vida era mais simples do que a gente imaginava. Suspirei levemente mal humorada , pensando: "Mais uma citação motivacional estilo autoajuda pense positivo e seja feliz peidando".

Que nada! Fui preconceituosa e precipitada. Lá no fundo, todo ato de preconceito é uma precipitação, uma espécie de ejaculação precoce da alma. Uma preguiça mental.

A autora afirmava que bastava aceitarmos o impossível, dispensar o indispensável e suportar o intolerável. Simples, né?????

Mas é o que as pessoas e a vida pedem para nós o tempo todo ou quase o tempo todo se formos parar para pensar.

Se fazem uma merda federal com a gente , se defecam gostoso em nossa vida e depois espalham bem a bosta para nenhum pedacinho da nossa existência ficar limpa, nos aconselham a perdoar o cagador mor.

Pedem para perdoar pensando no nosso próprio bem. Porque quem não perdoa continua se envenenando. É fato. Infelizmente. Nem o privilégio de odiar eternamente o cagador a gente tem. Porque se a gente ficar com raiva , é a gente que vai sofrer ainda. Tem que superar, seguir em frente...be happy! Tem que limpar a bosta que o outro fez. E enquanto a gente fica de joelhos , esfregando tudo com uma esponja gigante e condenada à morte, pensamos: "Meu Deus! O que este porra comeu? Feijoada rança com toneladas de salada de repolho e couve-flor? Será que rolou uma batata doce também com ovo cozido?"

E diante deste fedor, ainda devemos sorrir e dizer a nós mesmos que sairemos mais maduros desta bostaiada toda.

Se sofrimento deixasse as pessoas maduras, algumas já teriam apodrecido antes dos 30...brincadeirinhas à parte...

Ok.Ok.Ok. Concordo que más experiências nos fazem crescer e nos ensinam e nos preparam para as dificuldades da vida. Por outro lado, às vezes dá no saco e tudo o que a gente quer é dormir numa cama macia e cheirosa sem sentir nem precisar limpar a sujeira de ninguém.

Eu adoro os dias em que fico mega escatológica...




 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 










terça-feira, 8 de março de 2016

Mais feiticeira do que princesa: uma homenagem às mulheres

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
A garota desbocada não poderia deixar de se manifestar no dia internacional da mulher. Já escrevi meu artigo ferino, porém bem educado e com pitadas acadêmicas para a Obvious.
 
 
Aqui, posso me despir no quarto ou no banheiro de porta aberta.  Se quiser entrar , puxe uma cadeira ou sente-se na cama. Pouco me importa. Só quero que fique à vontade...ou não, como diria Caetano Veloso.
 
 
Ontem, por sugestão de uma aluna, assisti ao filme Malévola. Caímos num debate sobre a semiótica dos contos de fadas e algumas garotas bateram o maior bolão.  Sim, as meninas de hoje dão um show de esperteza nas da minha  época, quando eu era uma garota no sentido stricto sensu.
 
 
As novas gerações já perceberam que o amor romântico é mais problema do que solução.  Se antes a gente pensava que era impossível ser feliz sem amor romântico, hoje em dia, muitas garotas já sacaram que até dá para ser feliz apesar do amor romântico.
 
 
Vivi 37 anos no alto de uma torre esperando que alguém me salvasse. Não precisava ser um príncipe. Podia ser alguém comum, de carne e osso, sem carro, sem dinheiro no banco, contanto  que me amasse e se deixasse amar por mim, num jogo sem perdedores. No verdadeiro amor só há vencedores. Pelo menos esta era a minha crença.
 
 
As meninas de hoje parecem entender que tudo é jogo mesmo no mau sentido da palavra.  E que se a gente quiser sair pelo mundo e viver, tem que descobrir uma escada de incêndio ou qualquer outro meio de escaparmos da torre.
 
 
Para alguém como eu, este aprendizado é muito duro.  Mas como ainda sou uma garota lato sensu, acredito que  possa absorver o essencial desta filosofia de vida toda.
 
 
Aprender não é problema para mim.  Morrerei aprendendo.  Não tenho medo de juntar as minhas tralhas e mudar de estrada caso a atual esteja me levando para um destino indesejável.  Aprender e recomeçar são os meus nomes do meio.
 
 
E esta é minha pequena e mordaz homenagem ao dia internacional da mulher.  Morram de paixão.  Quebrem a cara. Mas nunca se esqueçam de quem vocês são: as senhoras de seus próprios reinos e muito mais feiticeiras  do que princesas. 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 







domingo, 6 de março de 2016

Descalça e nua

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Comecei meu dia ouvindo canções francesas famosas..."Que rest t-il de nos amours" e "Hier encore J'avais 20 ans". A segunda,  na nostálgica voz de Charles Aznavour.


E enquanto me deixo levar pela beleza melancólica destas canções, penso numa frase que li na internet: " Vi os sonhos se prostituindo na zona de conforto" ( Zack Magiezi).


Sim, sonhos adoram se prostituir na zona de conforto. Sonhos adoram fazer sexo com indigentes e depois deitarem exaustos num canto qualquer, sem carinho, sem coberta, como diria a música "Atrás da porta" , de Chico Buarque.


Sim, sonhos adoram se embriagar com estranhos para se esquecerem de onde vieram, para não precisarem nunca mais voltar. Para não precisarem mais se confrontar com seus medos.


Sim, sonhos são para aqueles que sabem sonhar. São para aqueles que não os temem...são para aqueles que não temem despetalar o coração mil vezes.


Sim, sonhos são para aqueles que tem asas na alma e sabem voar desde sempre, antes deles mesmos.  Antes da invenção do mundo. Antes da invenção do amor.


Sim, sonhos são para aqueles que já nasceram embriagados de poesia e afeto. Para aqueles que trazem um verso tatuado na alma e andam descalços no mundo, ironizados, humilhados.


Sempre me lembro do romance "Floradas na serra" da escritora Dinah Silveira de Queiroz. Me lembro mais apaixonadamente da personagem de Lucília. Ao presenciar Elza jogando a felicidade fora por medo, Lucília, com uma costela a menos e abandonada pelo homem amado, diz à Elza, que mesmo sendo ela , Lucília, uma infeliz,  sente pena de Elza pois não há nada mais triste do que abrir mão espontaneamente da própria felicidade.


Obviamente, as palavras não são exatamente essas...li este livro há milênios. Mas o essencial ficou impregnado na minha alma, como tudo aquilo que realmente importa.


Sim, concordo com Lucília. Não há nada mais triste do que ser infeliz por opção. Deste mal não morro. Como Lucília, ando meio desesperada e louca pelo mundo.  Sou daquele tipo de gente que os adeptos do status quo crucificariam de bom grado, depois de severos e ácidos julgamentos. Claro que entre o julgamento e a crucificação, passariam as mãos em mim. É assim que funciona o status quo. 


Mas trago a alma limpa. Nunca joguei o que considerava minha felicidade fora com as próprias mãos. Nunca deixei meus sonhos se prostituirem pelos becos do politicamente correto e do socialmente estabelecido.


E sigo pelo mundo, descalça e nua,  tecendo poesia com as minhas lágrimas invisíveis.



Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.