Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Cansei de correr atrás do meu verdadeiro eu. Quando bem jovem, no terceiro semestre do mestrado, achei estranho quando colegas meus brincaram com a impossibilidade de se definirem. De saberem exatamente quem eles eram.
Comecei a degustar tal pensamento, mas não pude engoli-lo. Na minha cabeça, eu sabia exatamente quem eu era e o que eu queria.
Sim, algumas piadas a gente custa a entender...o famoso "cair a ficha" leva um tempinho ou um tempão.
A gente passa a vida correndo atrás da gente mesmo, se buscando nas brechas do mundo, nas brechas dos outros. A gente passa a vida tentando se ver no olhar dos amantes, dos amigos, de todos aqueles que mais amamos ou odiamos.
A gente passa a vida tentando esboçar um contorno fiel de nós mesmos a partir da subjetividade do outro. O outro outro mesmo. E o outro que existe na gente. Ou outros que existem na gente...
A gente pode ser tanta coisa que nem imagina e não ser o que a gente pensa ser. Papo de louco? Em parte...
Na minha opinião não existe maior loucura ou maior falta de lucidez do que não se imaginar louco ou perdido. Sim, estamos perdidos, à deriva...agradando ou não esta ideia. É, não adianta fazer beicinho não como uma criança que olha cheia de repulsa para um prato de espinafre ou qualquer outro treco verde.
Agradando ou não, a gente tem que comer o verde da verdade que de verdade tem muito pouco. Como diria Lacan, a verdade está no campo do real e o real nos é impossível de alcançar. É tesouro ou dejeto escondido a sete chaves num cofre com a senha esquecida.
Temos que conviver com a mentira mesmo ...mais do que isso...com centenas de versões da mentira...e acabamos , muitas vezes, por nos apaixonar pelas duas ou três versões que parecem mais verdadeiras e que talvez sejam as mais falsas...pérolas falsas são mais vistosas do que as verdadeiras...
É, não tem muito jeito não. A gente tem que ir para a cama toda noite com um impostor. A gente tem que acordar toda manhã, se espreguiçar e abençoar ou maldizer o dia com um impostor que pode ser o mesmo ou não que foi dormir com a gente.
A gente tem que servir chá com torradas para aquele sujeito que disseram que a gente é e depois se olhar no espelho num misto de perplexidade, encantamento e cinismo. "Quem sou eu"? Não inventaram ainda pergunta mais difícil...
Saudade do tempo do Orkut em que eu preenchia este campo com a maior tranquilidade do mundo. Com minha linguagem refinada de escritora intelectual salpicada por fragmentos de provincianismo de moça tradicional, católica, bem comportada, sempre com um livro debaixo do braço, um suspiro no olhar , esperando pela grande virada, que queria explodir sem causar estragos. Que queria transformar insanidade em virtude. Talvez a insanidade seja uma virtude mesmo..talvez a insanidade de fato seja acreditar que estamos separados entre sãos e insanos. Talvez o insano seja apenas o são que leu um ou dois capítulos a mais do livro da vida.
Cansei de correr atrás do meu verdadeiro eu. Quando bem jovem, no terceiro semestre do mestrado, achei estranho quando colegas meus brincaram com a impossibilidade de se definirem. De saberem exatamente quem eles eram.
Comecei a degustar tal pensamento, mas não pude engoli-lo. Na minha cabeça, eu sabia exatamente quem eu era e o que eu queria.
Sim, algumas piadas a gente custa a entender...o famoso "cair a ficha" leva um tempinho ou um tempão.
A gente passa a vida correndo atrás da gente mesmo, se buscando nas brechas do mundo, nas brechas dos outros. A gente passa a vida tentando se ver no olhar dos amantes, dos amigos, de todos aqueles que mais amamos ou odiamos.
A gente passa a vida tentando esboçar um contorno fiel de nós mesmos a partir da subjetividade do outro. O outro outro mesmo. E o outro que existe na gente. Ou outros que existem na gente...
A gente pode ser tanta coisa que nem imagina e não ser o que a gente pensa ser. Papo de louco? Em parte...
Na minha opinião não existe maior loucura ou maior falta de lucidez do que não se imaginar louco ou perdido. Sim, estamos perdidos, à deriva...agradando ou não esta ideia. É, não adianta fazer beicinho não como uma criança que olha cheia de repulsa para um prato de espinafre ou qualquer outro treco verde.
Agradando ou não, a gente tem que comer o verde da verdade que de verdade tem muito pouco. Como diria Lacan, a verdade está no campo do real e o real nos é impossível de alcançar. É tesouro ou dejeto escondido a sete chaves num cofre com a senha esquecida.
Temos que conviver com a mentira mesmo ...mais do que isso...com centenas de versões da mentira...e acabamos , muitas vezes, por nos apaixonar pelas duas ou três versões que parecem mais verdadeiras e que talvez sejam as mais falsas...pérolas falsas são mais vistosas do que as verdadeiras...
É, não tem muito jeito não. A gente tem que ir para a cama toda noite com um impostor. A gente tem que acordar toda manhã, se espreguiçar e abençoar ou maldizer o dia com um impostor que pode ser o mesmo ou não que foi dormir com a gente.
A gente tem que servir chá com torradas para aquele sujeito que disseram que a gente é e depois se olhar no espelho num misto de perplexidade, encantamento e cinismo. "Quem sou eu"? Não inventaram ainda pergunta mais difícil...
Saudade do tempo do Orkut em que eu preenchia este campo com a maior tranquilidade do mundo. Com minha linguagem refinada de escritora intelectual salpicada por fragmentos de provincianismo de moça tradicional, católica, bem comportada, sempre com um livro debaixo do braço, um suspiro no olhar , esperando pela grande virada, que queria explodir sem causar estragos. Que queria transformar insanidade em virtude. Talvez a insanidade seja uma virtude mesmo..talvez a insanidade de fato seja acreditar que estamos separados entre sãos e insanos. Talvez o insano seja apenas o são que leu um ou dois capítulos a mais do livro da vida.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.