quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O essencial da vida


Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que  posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Cresci ouvindo que haviam três coisas que todo mundo deveria fazer: escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Das três só escrevi livros. Quantos livros precisamos escrever para equivaler a um filho? Para mim, as coisas essenciais são outras: cair de bunda no chão por ter bebido muito ( uma ou duas vezes na vida) Episódios bem esporádicos de bebedeira são lúdicos. Quando eles se tornam frequentes, a coisa fica perigosa e deprimente.
Morrer de tanta paixão até se tornar a menos pensante das criaturas ( uma ou duas vezes também) Apaixonar-se perdidamente uma ou duas vezes é romântico. Mais do que isso vira idiotice. E experimentar scargots. Para comer scargots não há uma quantidade ideal de vezes.  Se agradar ao paladar e o bolso permitir , este é um prazer inofensivo.
Me restringi a três itens para ser fiel à quantidade da lista original. Mas incluiria de bom grado tomar um banho de chuva, sair correndo pela rua de mão dada com uma amiga que detesta fazer exercício físico e contar uma piada quente numa roda masculina tímida só para ver o rubor dos rapazes.
 
Dizer eu te amo sem pudor , sem medo de parecer repetitivo. O amor é o maior dos clichês.  Entrar num projeto apenas pelo prazer e entabular um papo com um desconhecido carismático.  Contar quem você é sob o risco de ficar nas mãos de alguém e  deixar que os outros falem quem eles são. Não há nada mais lindo e milagroso do que uma confidência triste. Se tiver um jazz como pano de fundo, melhor ainda.
 
 
A vida é emoção. É o reflexo que vemos nos olhos do outro, é o calor da cumplicidade de um segredo, de um crime de amor.  É uma dança desajeitada entre dois amadores na arte de se entregar. É o gozo doído e doido de assumir quem se é, é fazer amor com nossa própria essência e entender que tudo é ilusão sem se magoar ou se ressentir.
 
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate,  vinho barato,  filmes bizarros e pessoas profundas.

4 comentários:

  1. Você escreve com paixão, parece sair faíscas de algumas frases. Eu também já plantei uma árvore... estamos empatados; sobre os itens aos quais você se restringiu apenas um me interessa pois, já quis entrar debaixo da chuva uma noite, mas pensei que seria mais cinematográfico se estivesse acompanhado, então, resolvi adiar a experiência... correr de mãos dadas com um amigo, sem chance, melhor que seja com uma amiga e debaixo da chuva, a noite entre as árvores os dois molhados e... nús; não sou bom com piadas, mas sei tocar piano e outros instrumentos!! Eu sou profundo, é o que sempre me dizem, mas achei que você é mais... mas, não me intimido facilmente...rs! Gosto dos seus textos na Obvious, o vermelho lhe cai bem e harmoniza com suas madeixas castanhas, gostei do blog e do texto, suas inquietações são deliciosas e provocantes!

    Ass: Washington

    P.S.: tive que usar meu e-mail alternativo no comentário.

    Abçs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, se alguém ousa se aprofundar num mundo de superfícies, provavelmente é alguém que não se intimida facilmente RS Meu lado egocêntrico adorou o seu comentário e num gesto de infantilidade até fiquei com vontade de colocar uma roupa vermelha agora RS Fico feliz em saber que ainda existe gente que gosta de inquietações deliciosas e provocantes RS Abs

      Excluir
  2. Descobri você através de uma amigo meu que escreve na Obvious, ele me disse: olha como ela escreve bem... e não parei mais de te ler. Ele insisti para que eu escreva lá mas, por hora estou satisfeito em apreciar sua bela escrita. Acabei de ler seu texto gozar é preciso, você realmente sabe provocar... rs, adoro sutilezas, ele é tão bom quanto seria se fosse sobre sexo, acho que é sobre fazer amor e sobre os pequenos detalhes que passam despercebidos na euforia do dia a dia e que são tão caros à felicidade.

    Sobre seu lado egocêntrico, não foi gesto de infantilidade e sim seu lado menina mulher respondendo ao estímulo da endorfina, fico feliz de saber que meu extasiado e sincero comentário lhe fez tão bem, aliás é o que eu sinto quando leio seus textos mais íntimos recheados com suas deliciosas e provocantes inquietações!

    Ass: Washington

    Abçs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, seus comentários me extasiam...sinto-me tonta e embriagada como quem bebe um doce vinho. Não sei qual amigo seu escreve na Obvious, mas concordo que vc deveria se arriscar nos intricados labirintos da escrita.

      Excluir