Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Sempre me recordo de uma ex-colega de faculdade altamente inexpressiva, o signo do senso comum, do imobilismo e da inveja rancorosa por ver outros pagando preços que ela se recusava a pagar.
Em um curso de Comunicação Social, ela afirmava com boca de nojo que estava feliz tirando nota cinco nos trabalhos.
Mesmice e conservadorismo num curso de Comunicação é o fim da picada, para não dizer o cúmulo da falta de autoconhecimento. É o mesmo que ser um atleta sedentário ou um chefe de cozinha que sente vontade de vomitar só de sentir o cheiro da comida.
Ok. Ok. Ok. Autoconhecimento e percepção das potencialidades e fraquezas não são o forte de quase ninguém. Talvez por tal razão exista tanta gente no lugar errado enchendo o saco de quem quer fazer algo que valha a pena.
Por outro lado, um garoto muito inteligente , de criatividade irreverente fazia trabalhos para tirar dez ou zero. O seu destemor lhe custou uma DP por conta de um professor obtuso que fazia a disciplina parecer uma mistura de grego, sânscrito, alemão suíço redigidos no mapa do inferno rasurado e de cabeça para baixo.
Sim, ele pegou uma DP, mas fez trabalhos incríveis, deliciosos e uma vez tive a honra de usufruir um pouco daquela imaginação vibrante e desgovernada, que transformava o absurdo em sensato.
Sem um pouco de destemor, de irreverência, de ousadia a vida vira um filme sem pontos de virada, uma melodia monofônica, uma macarronada sem queijo, batatinha frita murcha e sem sal, um chope quente, um beijo sem paixão.
Quem se contenta em tirar cinco na vida por medo do zero nunca se permite a tirar um dez e fica sempre no mesmo lugar, vivendo nas sombras, servindo-se de migalhas, sem nunca conseguir se expressar. Quem não se arrisca ao pior, nunca abocanha o melhor. Quem não dá a cara a tapa, nunca recebe uma carícia cálida. Quem nunca se perde, nunca se encontra.
Quem nunca transgride, nunca cria nada nem marca ninguém. Como se diz, regras bobas foram feitas para serem quebradas e um brinde ao inusitado.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.
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