sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A droga de ser minoria

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS


Existe toda uma aura, um certo savoir faire nas minorias. Naqueles que tem um gosto mais raro. Cascata. É uma droga ser minoria. Hoje está fazendo um calor desértico e eu não vejo mau humor no rosto das pessoas por causa disso. E além de me irritar com este clima sufocante, eu não posso me consolar me identificando com as pessoas. Ok. Conheço algumas pessoas que também dariam um tiro no calor, mas elas fazem parte de uma minoria que daria 5 anos de suas vidas para transpirarem alguns litros a menos.

Enquanto digito este texto com um dedo só e a brisa morna do ventilador na minha nuca , sou obrigada a ouvir uma série de músicas lindíssimas que vem da obra social da Igreja. Sou super favorável a todo tipo de trabalho voluntário e eu mesma já realizei muitos. Mas convenhamos? Para ajudar alguns , é realmente preciso entupir os ouvidos de outros com dejetos em estado sonoro? Não são os vizinhos da igreja filhos de Deus também? Se colocassem um Chopin nas alturas , eu ficaria de boa, mas...ah! Me lembrei! Sou minoria que não dorme ouvindo música clássica e Bossa Nova.

Encontrar alguém que prefira falar sobre filosofia ou arte ou política  hoje em dia é mais importante para mim do que ganhar na loteria porque já não suporto o enfoque que as mídias e as pessoas dão para grifes, o dia a dia das celebridades , dietas insanas, como subcelebridades jogam dinheiro fora enquanto milhares de pessoas passam fome e quantos  mililitros de silicone elas colocam em cada protuberância do corpo. Acho que também sou minoria ao pensar que grande parte das mulheres que recorre a cirurgiões plásticos, deveria procurar um psiquiatra.  E falo isso sem nenhuma maledicência pois acredito que a maioria de nós precisa de ajuda médica para cuidar da nossa saúde mental em algum momento da vida.

Artistas de peso , pessoas que merecem serem chamadas de artistas, afirmam preferir mil vezes falarem sobre seu trabalho do que sobre seu creme dental e marca de absorvente íntimo. Artista que é artista quer falar da peça que está montando, do filme que está dirigindo, quer falar das suas motivações e paradigmas intelectuais e estéticos. Não quer falar quantas vezes transa por semana nem quantas abdominais faz para ficar com a barriga tanquinho. Também não fazem sensacionalismo a respeito da festinha de aniversário dos filhos e do final de semana na praia.

Para sair tanta notícia sobre finais de semana de subcelebridades , dá para imaginar que a maioria realmente consuma este tipo de informação enriquecedora.  E mais uma vez eu penso. Que droga ser minoria. Que droga não ter muita gente para trocar ideias sobre bons filmes e livros. Que droga criticar o consumismo enquanto as pessoas me olham como se eu tivesse chapada e sociedade de consumo fosse um debate sobre o sexo dos anjos.  Que droga ser de um país em que professores fazem parte da ralé da sociedade porque tudo o que se deseja por aqui é que todo mundo fique bobo mesmo.

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, filmes bizarros e pessoas profundas.










2 comentários:

  1. Concordo com tudo que você disse, amiga. Calor é uma merda, burrice é uma bosta e idiotices de celebridades são pura diarréia rsrsrs

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