quinta-feira, 28 de abril de 2016

Sobre fazer o próprio caminho...

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
 
 
 
 
Estar no lugar certo talvez seja uma das coisas mais complexas nesta vida. Por uma série de circunstâncias e obrigações sociais, associada a limitações de diversas naturezas, acabamos sentando no lugar desocupado, na cadeira que sobrou.  Sim, e muitas vezes esta cadeirinha restante costuma ser bem desconfortável...
 
Acabamos namorando que está disponível e nos chama para sair. Soou meio deprimente? Também acho.
 
Acabamos aceitando um emprego de merda   precisamos pagar as contas no fim do mês. Acabamos assistindo à peça teatral X porque os ingressos da Y estão esgotados. Acabamos viajando para a praia porque temos amigos para nos hospedar e é mais perto. Acabamos alugando o apartamento que cabe no nosso orçamento ou que está mais próximo de uma estação do metrô.  Sim, estar perto do metrô para quem não dirige faz muita diferença. Uma das minhas ambições menos glamorosas...
 
 
Enfim, a vida acaba se revertendo numa série de conformismos e ajustes que aceitamos para sobreviver. De ajustes que fazemos para pagar as contas,  para nos distrair no feriado , para não morrermos de solidão.
 
 
Em muitos casos , não há muito mesmo o que fazer: não dá para esperar pelo emprego dos sonhos enquanto as contas continuam chegando. Não dá para morar debaixo do viaduto porque o apartamento que realmente queremos é caro ou já foi alugado por outra pessoa.
 
 
Mas, em alguns casos, é possível se recusar a sentar na cadeira desocupada sim. E como é bom quando isso acontece. Como é bom poder mandar para PQP aquela bosta de "oportunidade" que te oferecem como migalha. 
 
 Em alguns casos,  é  possível sim virar a mesa ou se preparar estrategicamente para virá-la. Nem sempre é possível reverter uma situação desagradável do dia para a noite. Porém, com uma boa dose de perseverança , estratégia e calma, podemos tornar os dados mais favoráveis ou menos desfavoráveis. Sim, caros leitores...como se diz...tem o dia da caça e o dia do caçador.
 
 
Se nem sempre é possível dizer não a um emprego chato, podemos nos organizar para conseguir algo melhor. Se nem sempre podemos morar onde queremos, é possível sim nos prepararmos pra viver em um lugar que combine mais com as nossas aspirações. Se não é possível namorar quem desejamos, ainda nos resta a possibilidade de não namorar e esperar por uma oportunidade melhor. Acreditem em mim: namorar por namorar pode ser a pior das solidões.
 
 
A rotina e a rigidez do status quo nos empurram para caminhos que não queremos, nos induzindo a fazer escolhas que não são nossas. Muitas vezes, fazemos ou deixamos de fazer algo para agradar á opinião pública, para agradar quem está ao nosso redor, desconsiderando a pessoa mais central da nossa vida: nós mesmos.
 
 
Para obter a aceitação alheia e/ou evitar dores de cabeça, aceitamos pacificamente abrir mão de muitas coisas que tornariam a nossa existência mais rica e significativa. Quantos sonhos ou pequenos desejos não sacrificamos por motivos que não dizem respeito à nossa mais profunda subjetividade?
 
 
Quantos projetos ultra pessoais não engavetamos? Quantos lugares não deixamos de visitar porque quem estava ao nosso redor preferiu ir a outros? Quantos livros não deixamos de ler porque estávamos muito ocupados lendo coisas que nos impuseram? Quantas vezes não deixamos o amor passar por medo de receber um não ou parecer ridículo? Quantas flores as pessoas não deixam de dar e receber por medo de parecerem piegas? Quantos amantes em potencial não dormem em camas separadas porque já se acostumaram a ser sozinhos, porque já se acostumaram a ser tristes?
 
 
Sim, reciclar a própria vida, ressignificando-a , talvez seja uma das tarefas mais penosas e ao mesmo tempo necessárias. Buscar nas brechas do cotidiano um pouco de poesia, um pouco de melodia que as outras pessoas não podem ouvir é a distância que existe entre uma vida banal e uma vida especial.
 
 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 



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