sexta-feira, 29 de abril de 2016

Felicidade...

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

Esta semana li uma citação maravilhosa de Schopenhauer.

"A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê".

Sim, concordo com estas palavras. A grande sacada é extrair do aparentemente óbvio e comezinho , algo inusitado.

É analisar uma velha questão sob uma nova perspectiva. É captar algum detalhe que passou batido para a maioria das pessoas.  É ver oportunidade onde todos veem crise ou ver crise onde todos veem oportunidade.

Porém, ter um olhar inusitado sobre a vida é uma faca de dois gumes. Se por um lado, nos coloca em uma posição privilegiada em algumas situações, pode ser a fonte de muitos dissabores e angústias.

Ter um olhar mais sensível e perspicaz a respeito da realidade,  nos conduz às melhores alegrias da vida, mas também às mais dilacerantes tristezas.

Normalmente , o que as pessoas querem? Um bom emprego que permita que as contas sejam pagas no final do mês. Um relacionamento amoroso para mostrar à sociedade que tem um parceiro/parceira. Posses que garantam status como carro do ano, um smartphone que faça a limpeza do apartamento e diga boa noite, uma casa grande , um outro imóvel em alguma cidade de montanhas ou na praia ( depende do gosto de cada um) Tem gente que quer os dois, mesmo que não frequente assiduamente nenhum.

Enfim, a maioria quer uma vida estilo selfie. O importante é aparentar prosperidade, felicidade, realização. Se eu ganho bem no meu emprego, sou bem sucedido. Será mesmo?  Se eu tenho um parceiro amoroso , eu amo e sou amado. Será mesmo? Se eu tenho o carro do ano, o smartphone multiuso, um apê na praia , um chalé nas montanhas, eu sou alguém que deu certo na vida. Será mesmo?

Não estou criticando quem tem o carro do ano e mora numa boa casa etc etc etc o que quero simplesmente dizer é que a felicidade de uma pessoa não se encaixa numa pesquisa do IBGE. O buraco é muito mais embaixo. As feridas são muito mais profundas e delicadas.

Ter uma boa situação financeira nos ajuda sim a superar crises e maus momentos, nos proporciona conforto e facilidades muito prazerosas ( tal fato é inegável. Sofrer dentro de uma hidromassagem em Campos do Jordão é melhor do que dentro de um busão lotado) mas não nos garante uma vida feliz. Até mesmo porque a felicidade nunca vem de fora.

 Ela pode ser estimulada por elementos externos ( posses, relacionamentos , oportunidades profissionais , viagens , estudos  etc) mas ela cai por terra se não encontrarmos forças e um equilíbrio maior dentro de nós mesmos. Caso contrário, não teria tanta gente com cara deprimida em hotéis e restaurantes de luxo e tanta gente rindo em barzinhos meia boca. 

Caso contrário, não teria tanta gente solteira viajando, curtindo com os amigos, passeando, aprendendo, estudando, se desenvolvendo enquanto muita gente acompanhada fica estagnada, não cresce em nada , para no tempo e no espaço.

Caso contrário, não teria tanta gente antissocial e solitária vivendo em grandes casas enquanto muita gente recebe super bem os amigos em um quarto e sala.

Também não quero dizer que todo pobre é bem humorado e feliz. Tem muito pobre fazendo cara feia o tempo todo...aí, o bicho pega. Em suma...a vida é complexa! E por mais que eu sinta o quanto é complicado ver as coisas de um jeito diferente, se pudesse reverter esta situação, não aceitaria.

Quem prova do vinho, raramente volta a se saciar com groselha...bem, eu explico esta piadinha  em um outro post.


 



Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 

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