sexta-feira, 15 de abril de 2016

Dois corpos perdidos na multidão do descaso

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

 Que a realidade nunca nos faça ver que as lanterninhas de papel de Blanche Dubois são apenas lanterninhas.
 
Que a luz tênue do amor romântico sempre incida suavemente sobre nossos  olhos que se buscam no caos do mundo, nos escombros cinzas da realidade mesquinha.  Nos escombros de um mundo que ironiza tudo aquilo que não pode compreender.
 
Que sejamos sempre como João e Maria no nosso mundo de faz de conta. Que a nossa lei maior seja sempre esta: viver de amor.
 
Que o mundo desabe lá fora pois tudo ocorre aqui dentro, como diria Clarice Lispector sobre os que amam...que tudo sempre aconteça quando seus olhos famintos encontrarem os meus implorando por mais um pouco de amor.
 
Amor bom nunca é demais. Nunca é o bastante. Sempre há espaço na taça para mais um pouco deste vinho que embriaga a alma.
 
Sempre há espaço para mais um pouco desta alegria intolerável que rasga o peito em mil pedaços...despetalando-o num mundo de mil possibilidades.
 
Fecho os olhos. Não quero saber de mais nada. E você entende o quanto me custa não compreender tudo nos mínimos detalhes...você sabe o quanto me custa não entender cada vírgula desta loucura que faz tudo ganhar um sentido.
 
Fecho os olhos e estendo a minha mão a você. Que me leve para onde possa me perder de tudo que sei ...que me leve para onde possa me encontrar...aquela estranha que sou que me olha sorrindo maliciosamente através do espelho da minha alma.
 
Que possamos dançar sem escutar a música. Ou que escutemos aquilo que ninguém  mais pode escutar, falando de Nietzsche com nossas vozes embriagadas de tédio e louco desejo.
 
Que sejamos dois corpos nos perdendo na multidão do nada, na multidão do descaso...ou seria do acaso? E que sempre possamos desdenhar  daqueles que fizeram a lição de casa da sociedade enquanto andamos trôpegos por aí, meio loucos de filosofia e amor.
 
Me dê sempre um último beijo no rosto antes de me deixar partir...me lance sempre um olhar de quem sabe que haverá um próximo capítulo, uma nova citação.  Me desconstrua em mil letras, mil palavras, infinitos poemas...que voam pela imaginação...
 
 
 
 
 


 

Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 







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