Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS
Voltando numa noite de sexta para casa. O vento batendo no meu rosto. Uma felicidade que não podia ser explicada com palavras...soou clichê?
Concordo. Mais clichê lugar comum frase pronta do que vento batendo no rosto enquanto a gente se sente escandalosamente feliz não existe neste mundão de meu Deus, que em alguns momentos, se parece mais um mundinho, uma grande vilazinha onde todo mundo fuxica, mas ninguém realmente sabe , muito menos sente, o que se passa com a gente.
Mas voltando ao vento e à felicidade que não cabe em palavras, voltando ao clichê lugar comum frase pronta ( odeio e cultuo mesmices quase que na mesma proporção, numa atitude esquizofrênica) muitas vezes o melhor e mais pleno não pode ser transcrito num poema. E quando a gente tenta pôr tudo num papel, por mais bonito e poético que fique, sempre falta uma palavra , uma vírgula, reticências...
Aí, a gente pensa: esqueci esta tal palavra no metrô ou no táxi? Ou ela voou pelo vento, misturando-se na noite arredia enquanto fechei os olhos e senti os cabelos acariciando o meu rosto dançando ao sabor da brisa? Que brisa...sorrio sozinha, para mim mesma, desconstruindo velhos poemas em minha mente, em busca da palavra perfeita.
Será que esta palavra realmente existe ou é impressão minha? Sensação vaga de quem se embriagou de alegria e cismou que esqueceu um resto de poesia dentro de uma bolsa qualquer?
Será que posso encontra-la entre os lençóis amarfanhados da minha cama solitária? Será que posso esbarrar com ela por acaso se levantar no meio da noite sem acender as luzes do quarto?
Será que ela se esconde no fundo do meu copo de vinho? Daquele copo que deixei pela metade na mesa do bar onde estávamos? Mentira...nunca deixo copos pela metade...não suporto ambiguidades ou meios termos...tomo tudo e deixo depois que um sentimento qualquer me tome e me leve para terras distantes.
Saio do táxi, entro em casa. Procuro a chave na bolsa. Demoro a acha-la. Nada da tal palavra.
Me frustra perceber que nem sempre existe a tal palavra. Como poeta quero transformar o mundo em um soneto...soneto não...em uma poesia de versos livres...livro-me de tal busca...pelo menos até o dia seguinte.
Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious. Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas.
Me sinto assim em dias chuvosos. Me dar uma euforia e uma felicidade sentir aquele vento de chuva. Como eu amo dias de chuva. O frio, o aconchego, o cheiro e o sabor de um café quentinho feito na hora. Amo!
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