quarta-feira, 25 de maio de 2016

Sobre o amor...mais uma vez, sobre o amor

Garota desbocada é um espaço visualmente tosco, ideologicamente irreverente, em que posto artigos politicamente incorretos sobre as minhas insatisfações e inquietações. Se quiser rir e praguejar comigo, entre e fique à vontade RS

O amor é quase uma ideia fixa para mim. Mentira! Não é quase...é ideia fixa para valer , no duro. 

Sobre a tecitura do amor , vou puxando os outros fios da vida , articulando-os, cruzando-os, cortando-os. 

Sobre a tecitura do amor , choro poesia. Sobre a tecitura do amor enceno a minha própria dor , um sentimento de solidão que me come a alma. Sobre a tecitura do amor , faço o meu gran finale , um resquício de lágrima brilhando debaixo da pálpebra. Um sorriso sutil e meio amargo nos lábios de quem tudo já disse e calou. 

Sobre a tecitura do amor , reinvento palavras, dou cor e sabor a elas. Recrio sensações. Faço o banal soar espetacular. Faço o banal virar dia de festa , com o gosto pegajoso do brigadeiro derretendo na boca. Gosto de meninice. Gosto de tempo perdido. De tempo vivido. 

Mas, talvez, eu tenha passado a vida a imaginar amores, a escrevê-los em minha mente de poeta, declamando-os para mim mesma no escuro do meu coração triste. Do meu coração de mulher que só sabe amar: minha maior força e minha condenação. 

Mas, talvez, eu tenha amado sozinha ou pensado amar...talvez , tudo não tenha passado de uma imaginação, de uma ilusão de ótica da alma, fruto da minha vontade desesperada de ter a minha pele alinhavada ao amor, de me fundir a ele numa união visceral e definitiva.  

Quando olho nos seus olhos, vejo que nada vi sobre o amor. Quando escuto a sua voz, percebo que nada ouvi sobre o amor. Quando sinto o calor da sua respiração, o seu rosto se aproximando do meu, fecho os olhos da alma e percebo que nem cheguei perto do amor. Que apenas o vi de muito longe por detrás de uma parede de vidro que me separou do mundo.  Que dele tive apenas um vago vislumbre colorido por minha alma de poeta , por minha alma de mulher que não distingue entre viver e amar. 

Quando sinto seus braços ao redor do meu corpo cansado,  tenho a mim mesma. Quando seus lábios buscam pelos meus no caos do meu coração, me pertenço, me encontro, me perco dentro dos labirintos poéticos do seu amor que impregna na alma como brigadeiro. Sorrio para mim mesma. Os versos de nossos poemas íntimos se juntam numa estranha sonoridade.  Muitos ouvidos só captam um ruído. Sorri comigo. 

Sim, mais uma vez,  gosto de meninice. Gosto de tempo resgatado, vivido até o torpor da alma. Até o desfalecer do passado, caindo como cartas de um castelinho trágico. 


Queria que o tempo parasse. Queria agarrar os ponteiros do mundo para que nunca deixasse de ser presente. Para que eu nunca deixasse de ser o seu presente. Queria contrariar as leis da natureza para nunca mais precisar te dizer adeus. Para nunca mais vê-lo se afastando na multidão. Para nunca deixar de sermos nós e não apenas você e eu. 













Sílvia Marques é escritora, professora doutora e escreve regularmente na Obvious.  Viciada em café, chocolate, vinho barato, dias nublados, filmes bizarros e pessoas profundas. 



2 comentários:

  1. Sabe,o palco no final de uma peça é tão triste. Depois que o cenário é retirado e as luzes se apagam só resta as lembranças do que foi vivido. E nele é encenado as comédias, as tragédias e os dramas da vida. Mas, mesmo que no dia seguinte seja apresentado a mesma história, ela será diferente. Não será a mesma. E não terá a mesma magia da primeira vez. Poderá ser melhor ou pior. Assim é o amor.Esse sentimento que nos faz poetas. Que faz a gente sentir livre e presos ao mesmo tempo. Feliz e triste. Faz o final se tornar começo. É essa via de mão dupla. Que nos mata e nos dar vida. É a magia que faz a gente viver. É a nossa peça no teatro da vida.

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